AFONSO RODRIGUES

Vamos brincar?

“Para que levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos vivos”. (Bob Marley)

Vamos levar a vida a sério, mas sem deixar de brincar com a vida. Tarefa que nos parece impossível. Mas é fácil e faz muito bem.  Você já leu meu livro, “E Deus criou o homem”? Ele é um conjunto de um folhetim que escrevi no jornal Gazeta de Roraima, lá pelo final dos anos oitentas e tantos. E a dificuldade que ainda encontro em distribuir os exemplares é que muita gente confunde a coisa com descaso à religião. E me chamam de ateu. Mas não sou nem nunca fui. Só me sinto à vontade para brincar sempre que sinto necessidade de rir. E é só isso. Em 1968 eu fazia um curso de pré-vestibular, em São Paulo. E a minha maneira de falar, nas conversas, sempre foi a mesma. Não sei como isso chegou a um membro da diretoria do curso. Naquele dia, quando entrei no prédio, um dos dirigentes falou sorrindo:

– Afonso… cara, fiquei sabendo que você é ateu, é verdade?

Virei-me e respondi também sorrindo:

– Graças a Deus!

Sorrimos bastante. É assim que as pessoas se confundem com meu comportamento nada fora do comum, mas, mal-entendido. Meu Grande amigo, Fernando Quintella era o dono do Gazeta, e nos assistia todos os dias. Eu escrevia o folhetim domingueiro e o entregava ao revisor. Naquele dia o revisor entrou na sala do Quintella e falou decidido:

– Seu Quintella, eu não vou mais revisar o trabalho do seu Afonso.

Quintella percebeu que o revisor estava falando sério, olhou firme para ele e perguntou enfático:

– E por que não, ora essa?

O revisor respondeu decidido;

– Porque ele está brincando com Deus!

Quem revisou minhas matérias a partir daquele dia, não sei. Nem estou preocupado com isso. Mas me preocupo com o fato de ainda confundirmos religião com algo que nos prende a Deus. Se realmente é assim, não me ofende nem me preocupa. Afinal, Deus é Deus e merece nosso amor e respeito. Mas tenho certeza que Ele nos criou para que vivêssemos nossa vida enquanto ela existiir.  Talvez tenha sido por isso que Deus nos colocou em um corpo com data de validade. E isso nos leva a sermos mais criteriosos na nossa maneira de viver para que quando voltarmos em outra embalagem aproveitemos o que levamos de melhor na última embalagem em que vivemos por aqui. “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. (Charlie Chaplin). É isso aí. Vamos brincar, mas com respeito a nós mesmos. Não vamos permitir que nada nem ninguém, dirija nossas vidas. Pense nisso.

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