COLUNA PARABÓLICA

Vinda de Ciro Gomes a Roraima mostra que existem alternativas a Lula e Bolsonaro

Coluna desta segunda-feira (24) repercute trechos marcantes da entrevista do ex-ministro da Fazenda de Lula

Bom dia,

A passagem de Ciro Gomes por Roraima serviu para mostrar, entre outras coisas, que alternativas existem para além da polarização Lula x Bolsonaro no Brasil. Tanto pelo que disse na palestra num plenário lotado da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-RR) quanto na longa entrevista que concedeu ao programa Agenda da Semana, da rádio Folha FM 100.3, o ex-ministro da Fazenda e ex-candidato à presidência da República defendeu a existência simultânea de um Estado forte ao lado de uma economia de mercado pujante. Sua visão de mundo não exclui essa coexistência, para ele a forte participação do Estado potencializa as virtudes do mercado e deu como exemplos os Estados Unidos da América (EUA) e a China.

Ciro diz que os governos de Lula da Silva (PT) – especialmente este pela longa permanência governando o Brasil, incluindo seus dois governos e o de Dilma Rousseff – e de Bolsonaro não enfrentaram com o vigor necessário a dependência do País a um cartel de rentistas – os cinco maiores bancos brasileiros controlam 80% do sistema bancário – que “engolem” nada menos de R$ 800 bilhões anualmente sob forma de amortização de dívida e pagamento de juros. Enquanto isso para financiar todo o sistema público de saúde do Brasil, o governo gasta em torno de R$ 219 bilhões anuais para atender uma população de 215 milhões de habitantes.

Pelo Brasil

O ex-ministro da Fazenda, na participação de ontem no programa Agenda da Semana, fez uma análise sobre a história, economia e política, destacando as principais as mazelas da economia brasileira, como a alta diária dos preços dos alimentos e o aumento da violência, que assola a população em todo o País. Falou também da inversão das discussões sobre nossa realidade ao indagar: “Faz duas semanas que se discute no Brasil apenas aborto e equilíbrio fiscal. Será se realmente é isso que é prioridade para o povo?”.

‘Marinismo’

Ciro Gomes, que foi companheiro de Marina Silva no primeiro governo Lula da Silva, lançou o neologismo “marinismo” para definir a forma do atual governo de encarar o desenvolvimento e ocupação da Amazônia. Ele diz que a visão da atual ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima sobre a questão é anacrônica e parou, na melhor das hipóteses, no século XIX. Disse ainda que Marina Silva foi contra a transposição do rio São Francisco, iniciada por ele quando era ministro da Integração Regional.

ZEE

Questionado sobre soluções para Roraima, Ciro Gomes disse que, se assessorasse um governador de Roraima, iria propor um Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) por cima do fato já consumado. “Esqueça tudo que já foi feito de bem-intencionado ou não, é preciso uma absoluta e total regularização fundiária”. Dessa forma, acredita ele, será possível mapear e descobrir potenciais de agricultura, mineração, turismo, dentre outros.

Potencialidades

Ciro Gomes esteve em Lethem, na fronteira com a Guiana, no sábado, 22, e comentou sobre o apelo feito por comerciantes brasileiros que possuem lojas naquela cidade, por uma agência do Banco do Brasil. Ocorre que esses negociantes não conseguem fazer movimentação financeira de forma correta, o que consequentemente seria bom em termos de economia para Roraima e melhor ainda para o País.

Petróleo

Deixar de explorar o petróleo em Roraima é condenar a população local à pobreza, na opinião de Ciro Gomes. Roraima fica entre Amazonas, Venezuela e Guiana, e na opinião do ex-ministro a demora do governo federal em iniciar esse processo de extração é extremamente prejudicial, uma vez que as pesquisas confirmam a existência do petróleo na bacia sedimentar do Tacutu.

Lógica

Outra observação feita por Ciro Gomes e que casa com a forma como quem vive em Roraima pensa, é que está muito errado o fato de “sobrar” apenas 7% das terras de Roraima para trabalhar, produzir, enquanto a grande maioria do território continua sob a tutela da União. Ele falou que é preciso que o governo federal reanalise essa situação que continua atravancando o crescimento socioeconômico do nosso Estado.

Yanomami

Ciro disse ser preciso esforço para entender as peculiaridades dos povos indígenas, apoiar, propiciar renda e capacidade econômica. Ele se refere especificamente à questão dos povos yanomami em comparação com as demais etnias. Para ele, não é razoável 11 milhões de hectares para 25 mil pessoas. “Eles estão abandonados. Está tudo igual, a não ser fazer chegar cesta básica. Essa é a política?”, disparou.

Compensação

Outro tema falado com bastante propriedade por Ciro Gomes foi a questão da compensação pela União dos custos da migração venezuelana pelos serviços públicos adicionais. O ex-ministro considera um absurdo que Roraima continue suportando sozinho o impacto no sistema de saúde, educação, segurança. “É um crime de lesa-pátria. Quem tem que indenizar é o governo federal, e o Supremo já decidiu isso”, frisou.

Elogios

Ciro rendeu elogios públicos ao presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), deputado Soldado Sampaio (Republicanos), que o convidou para ministrar palestra no último dia 21, e se disse impressionado pelo espírito público e liderança do parlamentar. “As aulas que tive para restaurar meu entusiasmo com as coisas do Brasil foram gratificantes. Vi na prática os potenciais que Roraima possui”, comentou.