Editorial Uma das principais características da maioria das empresas do nosso mercado é a administração familiar. O que há de errado nisso? Nada. Ocorre que temos percebido, em alguns casos, a dificuldade dos pais em fazer a sucessão da administração do negócio para os filhos. É comum ouvir a seguinte retórica: “Meu filho(a) não se interessa pela empresa!”.De quem será o erro pela falta de interesse dos filhos em assumir a gestão da empresa? O que há de errado nos filhos em não ter interesse em assumir a gestão da empresa? Essas são perguntas que alguns pais sempre fazem. Porém, eu gostaria de sugerir mais duas para apimentar essa reflexão: “Será que o seu filho tem o perfil para gerir os negócios da família?”, “O que você tem feito para preparar o seu filho para gerenciar os negócios da empresa?”A sucessão familiar é um tema que aflige muitos empresários não só em nosso mercado, mais Brasil a fora, pois muitas empresas morrem no processo sucessório na segunda geração e muitas se quer chega na terceira geração. Na Coluna desta semana vamos tratar deste importante tema para a sobrevivência das nossas empresas.
VOCÊ JÁ TEM UM SUCESSOR?
As empresas familiares têm como característica o fato de ter surgido do esforço da própria família em formar uma empresa pequena, média ou grande, em que todos os membros da família possam contribuir e trabalhar para o desenvolvimento e sucesso da atividade.A formação das empresas familiares tem certas peculiaridades e uma delas é o fato de o chefe da família ser o dono do negócio, na maioria das vezes, o que pode gerar um conflito de interesses. Veremos que a gestão da empresa familiar encontra diversos obstáculos que valem a pena ser discutidos.Alguns fatores geram maior desafio para uma empresa de família e um deles é a Liderança. A liderança gera dificuldade na empresa familiar, uma vez que os membros da família podem ir a direções diferentes no que tange opiniões e objetivos para com a gestão geral da empresa ou orçamento. Integrar, portanto, se torna uma tarefa difícil e o consenso então, é mais difícil ainda.Vocação e empreendedorismo são sempre o que formam as empresas familiares e considera-se que todos os membros da família devem empreender em conjunto. Isso é um mito, pois por pertencer a uma mesma família, os membros não têm a obrigatoriedade de serem iguais e os dons se diferem, ou seja, nem todos os membros terão perfil empreendedor.Pode haver um membro da família que não necessariamente terá vocação para empreender. É necessário compreensão para com este membro e assim fazer com que ele sinta a liberdade de seguir seus próprios talentos.As empresas familiares possuem três pilares básicos que sustentam a estrutura: família, propriedade e negócios e, por isso, todas as decisões orçamentárias e de gestão afetam a todos os membros e se torna objeto de conflitos se não houver uma gestão amadurecida.O processo sucessório é uma questão sempre discutida e polêmica, pois surgem questões como: o preparo dos sucessores, a motivação pessoal e profissional e ainda os conflitos que podem surgir. Por isso, a sucessão deve ser vista como motivo de preparação, não só a preparação do sucessor, mas de toda a equipe com clima organizacional e cultura que dê suporte a uma sucessão tranquila, transparente e com consenso de todos.A empresa deve sentir que a sucessão foi realizada de forma sábia e justa e que o sucessor foi preparado com qualificação acadêmica e experiência profissional, portanto, suceder é um processo que deve ser desenvolvido com responsabilidade livre de conflitos.Eu trago comigo um princípio de educação que aprendi com meu velho pai que acredito se aplica perfeitamente no processo de sucessão. “Você jamais conseguirá ensinar lições aos seus filhos. Mas você os verá fazer tudo o que eles o viram fazer”. Traduzindo: se você conseguiu alcançar resultados importantes na sua vida profissional, para a sua empresa, e deseja fazer do seu filho uma continuidade de sucesso, deixe-o caminhar a seu lado. Permita que ele veja você pensar, decidir e agir.Certas coisas jamais poderão ser transmitidas por palavras. Mas tão somente por atos. E lembre-se para sempre: sucessão não é um processo de criação de um clone. Mas de desenvolvimento de alguém que precisa tornar-se capaz de subir sobre os ombros de um gigante e olhar para um horizonte mais longínquo do que ninguém jamais viu antes dele.RESENHANDOÉ necessário ter a noção de que fazer parte da família não garante cargos na empresa, assim como a família não tem o direito de exigir que os herdeiros trabalhem na empresa. Nesse caso, é melhor que cada um possa escolher livremente seu próprio caminho. O que se percebe ultimamente é um aumento da participação das filhas – as mulheres – fazendo parte da gestão da empresa. Em uma pesquisa realizada junto ao setor calçadista no Sul da Itália esse fenômeno também foi observado. Mais do que isso, as herdeiras estavam melhor preparadas pois, por normalmente trabalharem em áreas como marketing, tinham conhecimento de mercado, considerado fundamental para quem vai tomar decisões na empresa e, por terem mais conhecimentos de outras línguas, outro fator importante em setores exportadores e numa economia globalizada.