Editorial
A liderança é um exercício de solidão no topo de montanha. Mais um clichê? Provavelmente sim, mas os clichês só existem porque refletem muito bem a realidade. Do líder é esperado que fique atento às necessidades da equipe; que saiba resolver problemas, tomar decisões, aproveitar as oportunidades; que seja inspirador e disponível; que tenha visão estratégica e capacidade de comunicação; que consiga estabelecer prioridades e resolver conflitos; que …Ufa!
Pesado? Sim, na maior parte das vezes é bem pesado e também incontornável porque esse é o papel do líder. Alguns dos desafios da liderança vêm do ambiente externo, de tudo o que se materializa na nossa frente se interpondo entre nós e os nossos objetivos como líderes. É quase impossível imaginar um líder que não enfrente diariamente um ambiente de competidores aguerridos, recursos escassos, dificuldade em conquistar novos mercados e em reter ou desenvolver talentos.
Mas, “desafios externos” não são sinônimos de “problemas”: o ambiente externo também traz oportunidades que o líder precisa capturar, muitas vezes com pouco tempo e estrutura. As situações positivas apresentam muitas vezes desafios ainda maiores do que os problemas porque testam o quão bem conseguimos usar os recursos de que já dispomos, além de no caminho construir, ou descobrir, novas competências. A liderança sempre será um exercício de solidão no topo da montanha.
Fabiano de CristoConsultor [email protected]
O LÍDER E O TOPO DA MONTANHA
Todo esse nosso ambiente de negócios em permanente mudança – social, política, econômica, tecnológica, competitiva – por exemplo, traz para o líder a necessidade de filtrar as perturbações desnecessárias que podem comprometer o foco e a produtividade do seu time.
As pessoas produzem mais em ambientes razoavelmente estáveis e ajudá-las a ter essa percepção de tranquilidade, ainda que em parte irreal, está na lista de tarefas do líder. Ao mesmo tempo em que ameniza as turbulências, também dele é exigido que se mantenha atento às tendências do mercado realinhando onde e sempre que necessário, a visão e a estratégia.
Não fosse o bastante, mais difícil que lidar com o mundo exterior e com os próprios desafios da liderança, ele ainda tem a tarefa de lidar com os nossos “desafios internos”, pessoais, mais difíceis de administrar porque também muito mais difíceis de reconhecer e aceitar.
Muito poucos líderes nascem prontos. A maioria chega lá por meio do autoconhecimento, do entendimento do que deles é esperado e da implementação de estratégias para vencer suas limitações e aproveitar integralmente suas competências e talentos. Pretendemos abordar os desafios da liderança nessas diferentes perspectivas – externa, intrínseca e interna. Não temos solução para a solidão da liderança, mas temos sugestões que podem lhes ajudar.
O exercício da liderança apresenta uma excelente oportunidade de demonstrarmos o nosso melhor, mas também expõe de maneira clara as nossas fraquezas. Ser líder é estar permanentemente numa vitrine, e isso talvez seja a causa do bloqueio da maioria dos líderes, incapazes de reconhecer suas fragilidades.
Medo, falta de autoconfiança, insegurança, impaciência e intolerância são grandes barreiras; reconhecer que elas existem e o quanto prejudicam o atingimento de objetivos pessoais e resultados empresariais é o primeiro passo. Passo óbvio, mas nem por isso menos intimidador. Talvez facilite falarmos dos problemas mais comuns entre os líderes. Você vai perceber que não está só.
Insegurança. Muitos experimentamos com maior ou menor frequência a sensação de não estarmos aptos para as tarefas que temos que cumprir. Na solidão dos seus pensamentos, líderes muitas vezes se veem “enganando” as pessoas com seu ar de competência quando, no íntimo, muitas vezes não sabem nem por onde começar.
Congelam por dentro por conta disso. Deixam de dar passos importantes e ficam se dando desculpas para não ter que se expor, perdendo, com isso, grandes oportunidades.
Por mais competente, nenhum líder sabe de tudo. Aliás, será que ele precisa? Na próxima vez que você se sentir inseguro sobre o que você não sabe, não fez, não domina, pare e reflita: isso é realista? Essa competência é mesmo imprescindível? Se for, como você pode aprender? O importante é sair de uma postura evasiva e paralisante para uma postura construtiva e proativa. Se a competência é imprescindível, construa uma estratégia para aprendê-la, vá lá e faça. Se não é, esqueça ou contrate quem tem.
Defensividade. Irmã gêmea da insegurança, aqui mora a nossa incapacidade de recebermos críticas. Muitas vezes não conhecemos nossas fraquezas; outras vezes, como vimos, nós as supervalorizamos. De qualquer forma, nos encastelamos e deixamos de ouvir até pessoas bem intencionadas. Ao não aceitarmos que os outros apontem nossas oportunidades de melhorar, perdemos a chance de encurtar em muito nosso caminho para uma liderança cada vez mais eficiente e menos pesada sobre os nossos ombros. Finalmente, importante é descobrir que saber conviver com os resultados das suas escolhas é parte da missão do líder. Pense nisso e até a próxima semana.
RESENHANDO
Dificuldade na tomada de decisão um dos maiores desafios da liderança: Decidir pode ser difícil mesmo; o líder precisa decidir bem e, na maior parte das oportunidades, bem e rápido. Algumas vezes os erros e acertos se tornam mais à frente evidentes, mas na maioria das situações permanece uma incógnita se aquela foi realmente a melhor escolha. Ninguém controla tudo. É importante perceber que, ao longo da sua trajetória, os erros foram provavelmente tão importantes como os acertos para construir os recursos que você tem hoje. Importante também perceber que a paralisia na tomada de decisão lhe drena muita energia, energia essa que seria mais bem utilizada se empregada para otimizar os resultados da escolha que você vier a fazer. Finalmente, importante é descobrir que saber conviver com os resultados das suas escolhas é parte da missão do líder.