Editorial
Constantemente nós gestores ficamos muito irritados com aquele colaborador parado no tempo dentro da empresa, que não toma iniciativa para resolver as situações que acontecem no dia a dia da empresa. E via de regra, costumamos dizer que esse perfil não se encaixa no momento atual em que o mercado exige cada vez mais competitividade e precisa de pessoas extramente proativas e comunicativas.
Pois muito bem, com argumentos cativantes, uma extensa pesquisa e repleto de inesquecíveis histórias reais, o livro “O Poder dos Quietos” mostra como os tímidos e introvertidos são subvalorizados, e como todos perdem com isso. Partindo da ascensão do Ideal da Extroversão no século XX, Susan Cain questiona os valores dominantes no mundo empresarial de hoje, no qual a colaboração forçada pode bloquear o caminho da inovação e no qual o potencial de liderança dos introvertidos é frequentemente negligenciado.
De modo inspirador, a autora nos apresenta histórias de introvertidos de sucesso e oferece inestimáveis conselhos sobre como os tímidos podem tirar vantagem das suas características. Em ‘O Poder dos Quietos’, Susan Cain contempla também as crianças introvertidas, em capítulo especial com dicas para pais e professores. Na Coluna desta semana vamos refletir a partir do livro como tirar o melhor dos quietos.
Fabiano de CristoConsultor [email protected]
O PODER DOS QUIETOS NA SUA EMPRESA
O que Albert Einstein, Barack Obama, Chopin, Steven Spielberg, J. K. Rowling e Bill Gates têm em comum? A resposta é o sucesso, e a introversão. Pelo menos um terço das pessoas que nós conhecemos são introvertidas. Eles são aqueles que preferem escutar a falar, ler a ir a festas; que inovam e criam, mas não gostam de autopromoção; que se beneficiam trabalhando por conta própria mais do que em grupo. Embora sejam rotulados de quietos, é aos introvertidos que devemos muitas das grandes contribuições à sociedade.
A escritora Susan Cain, autora de ‘O Poder dos Quietos’, fala como a introspecção pode melhorar a nossa produtividade. Outro ponto que Susan levanta em seu livro é que o ambiente corporativo favorece pessoas extrovertidas e, naturalmente, complica a vida dos introvertidos, uma vez que, como estamos vivendo em um mundo que é tão expansivo, extrovertido e conectado perdemos de vista o nosso lado introvertido, silencioso.
Como exemplo, podemos citar o corre-corre de reuniões, prazos cada vez mais curtos, sem momentos para refletir ou ficar sozinhos, em silêncio. Um reflexo disso e a crescente busca de ioga, meditação e terapias alternativas, para a autora, é uma prova de como esse barulho todo tem afetado a vida das pessoas.
Outra questão, apontada por Susan, que passou seis anos fazendo pesquisa para escrever o livro, é que o silêncio e a introspecção são ingredientes fundamentais para que um profissional use a criatividade, a persistência e a moderação para assumir riscos. Sem esses elementos, os resultados pessoal e corporativo ficarão prejudicados. A criatividade depende da reflexão e da quietude para se desenvolver. Da mesma forma, o barulho dissipa a persistência, o que faz com que as pessoas desistam mais facilmente de pensar em soluções melhores para resolver algumas questões de forma mais inusitada e, acima de tudo, assertiva.
Se vivemos em um mundo que potencializa a extroversão, é preciso mudar o jeito de liderar os introvertidos. Numa reunião, por exemplo, profissionais mais recatados podem não se sentir à vontade para dar opiniões na hora, algo que é esperado mais ou menos de todo mundo. Talvez seja melhor dar um tempo após a reunião para que os participantes mais introspectivos se manifestem, assim, boas ideias seriam mais bem aproveitadas.
Para a autora a introversão, é frequentemente confundida com falta de iniciativa e criatividade, mas isso é um conceito falso. No entanto, ele não defende que os trabalhos em equipe sejam abolidos. É preciso ter em mente, contudo, que nem sempre aquele que fala mais em um grupo deve ser o líder. Pessoas introvertidas podem liderar muito bem em determinadas situações.
O cenário que envolve o introvertido é determinante para dizer quem ele é. Por exemplo, que uma pessoa introvertida chega até a salivar mais do que um extrovertido ao beber algo que estimule sensações mais fortes, como um suco de limão, porque reage à intensidade de maneira diferente.
Se você for um gerente ou mesmo o dono do negócio, lembre-se de que parte da sua mão de obra é introvertida, quer pareça, quer não. Pense duas vezes na maneira como dispõe o escritório de sua empresa. Não espere que introvertidos fiquem empolgados com escritórios abertos, festas de aniversário na hora do almoço, reuniões de motivação da equipe.
Quem quer que você seja, tenha em mente que as aparências enganam. Algumas pessoas agem como extrovertidos, mas o esforço custa-lhes a energia, a autenticidade e até a saúde física. Outros parecem distantes e reclusos, mas suas paisagens interiores são ricas e cheias de atividades. Pense nisso e até a próxima semana.
RESENHANDO
O livro O Poder dos Quietos vai contra uma corrente que prevaleceu durante muito tempo no mundo empresarial: àquela que prega a mudança do “eu trabalho” para o “nós trabalhamos” e que recomenda derrubar paredes, acabar com as salas individuais. Obviamente o livro sai, em defesa dos introvertidos. Não que seja contrária a interações no ambiente de trabalho. Mas alerta que é importante refinar o contato interpessoal, em vez de simplesmente avançar. Tudo que o livro prega vai na contramão do que os estudantes vivem e aprendem nas universidades de Harvard e Stanford, templos da extroversão, sociabilidade forçada e onde é impossível sobreviver sem o Power Point. As redes sociais, na opinião de Susan, seriam a resposta para esses ambientes competitivos e inibidores de personalidades mais retraídas e contemplativas.