Jessé Souza

Zaralho de asa 1648

Zaralho de asaQuem conhece a Praça da Bandeira sabe que ali era um lugar para as famílias se encontrarem, com feirinhas nos fins de semana e feriados prolongados. Era também um lugar de eventos cívicos para os estudantes e, em outras épocas mais distantes, de solenidades oficiais em datas importantes.

Portanto, as quadras de esportes eram apenas um complemento dentro desse contexto, não era algo em destaque e com prioridade, pois a praça servia também como um espaço ao ar livre para as pessoas passarem o tempo, passearem com a família e observarem o visual de uma cidade de céus sempre limpos e bonitos.  

Mas eis que a Prefeitura de Boa Vista, sem respeitar a História e o contexto, construiu um ginásio coberto, parecendo um monstro de lata que surgiu como se fosse em um filme de Transformer intervindo na realidade dos seres humanos, o que descaracterizou completamente o lugar, enterrando mais uma vez o respeito aos lugares históricos.

Esse não é o único e primeiro a exemplo. O que foi feito na Orla Taumanan nada mais é do que a descaracterização pelas vias oficiais, quando foi decretado o fim do Porto do Cimento, um lugar de grande importância, pois ele representava o berço histórico, por aonde chegaram os primeiros ocupantes de Roraima e por onde chegou o desenvolvimento.

Hoje, a Orla se tornou um “zaralho de asa” a tirar a vista do Rio Branco a partir de onde era o porto, enterrado para sempre mesmo tendo sido o primeiro e principal de Boa Vista. É verdade que a Orla se tornou um ponto turístico importante, mas poderia ter sido construído um pouco mais para cima, preservando o porto com sua visão para o rio com a Ponte dos Macuxi ao fundo.

Mas quem disse? As pessoas que planejaram as plataformas (as asas do zaralhos) não levaram em conta a nossa História, os anseios dos que aqui nasceram e viveram toda sua vida. E assim foi feito com a Praça da Bandeira, ao colarem outro “zaralho” de metal a reluzir o sol que beira os 40 graus quase todos os dias.

E ninguém diz nada. Todos batem palma como se tivéssemos apenas que dizer “amém” e “obrigado senhores”, mesmo que tenham desrespeitado o nosso passado e ignorado nossos antepassados. Em que buraco se meterem nossos historiadores e contadores de história?

E assim vão decretando a morte do que ainda nos resta, como se fosse algo proposital, pois negar o passado e enterrar as tradições fazem parte da tática de invasores que, ao chegarem a um local para tomar posse, precisam fazer as pessoas se esquecerem de quem fora, inclusive os fazendo trocar de nome, assim como fizeram com os índios e africanos trazidos nos navios negreiros…

*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main