Pedro Panilha, 73 anos, professor de História aposentado, é um exemplo de superação e resiliência. Em entrevista à Folha de Boa Vista, Seu Pedro abriu seu coração e compartilhou sua jornada inspiradora, que o levou do fundo do poço do alcoolismo à conquista de uma vida plena e saudável através do esporte.
Nascido em uma família humilde, com pai técnico de enfermagem e mãe doméstica, Seu Pedro cresceu em uma casa com 21 pessoas. A infância difícil e a crença de que somente o estudo poderia lhe garantir um futuro melhor o impulsionaram nos estudos. No entanto, aos 18 anos, o álcool cruzou seu caminho.
“Tudo foi oferecido, mas eu tinha medo e preferia tomar cerveja”, confessou, relembrando a época em que o consumo de drogas era crescente ao seu redor.
A bebida se tornou um refúgio e, por muitos anos, ditou o ritmo de sua vida. Mesmo durante a faculdade de História, o casamento e o início da carreira como professor em Roraima, o álcool era a prioridade.
“Naquela época o ponto de Roraima era tu beber. Exercício, não tinha nada, né? Tudo era bebida, tudo era… O carnaval era tudo, festa, tudo. Não tinha nada, só beber”, descreveu, pintando um retrato da cultura local na época.
A mudança começou quando Seu Pedro se mudou para Brasília a trabalho. Com quase 120 kg e mergulhado no alcoolismo, recebeu um alerta do seu médico, Dr. Cantideo:”Tu és alcoólatra, tá? Te cuida, senão tu não passa dos 40″.
A frase, que ecoou em sua mente por dias, foi o gatilho para a transformação. Em um ato de coragem e determinação, decidiu abandonar o vício. “Joguei fora a lata de cerveja e o cigarro. Disse: de hoje em diante eu não bebo mais, não fumo mais”, relembrou.
A luta contra a abstinência foi árdua. Seu Pedro enfrentou crises de depressão e chegou a tentar suicídio duas vezes. Mas com o apoio incondicional da esposa, Izete, da família e dos médicos, encontrou no esporte a força para vencer.
Incentivado pelo Dr. Cantideo e pelos amigos Tiago e Andrei, corredores experientes, começou a correr no Parque da Cidade.
“Comecei andando, andando. Fui para uma nutricionista. Foi a dieta que começou a fazer. E eu andando”, contou.
A corrida se tornou uma paixão e um caminho de superação. Seu Pedro participou de inúmeras provas, incluindo mais de 15 edições da São Silvestre e 25 maratonas de 42km, no Brasil e no exterior.
“E eu comecei a ver que ali estava um novo mundo. Um mundo que eu poderia ajudar muita gente”, afirmou.
Hoje, aos 73 anos, Seu Pedro mantém uma rotina rigorosa que inclui corrida, natação, Muay Thai e musculação. Acorda às 3h30 da manhã, corre de 15 a 20 km, frequenta a academia e ainda encontra tempo para dar palestras, compartilhar sua história e inspirar outras pessoas, principalmente as da melhor idade.
“Correr salva vidas. Pode ter certeza disso. Praticar esportes salva vidas”, garante.
Seu Pedro sonha em ver políticas públicas que incentivem a prática de esportes e promovam a saúde da melhor idade. Ele defende a importância do acompanhamento profissional e alerta para os perigos do excesso e da falta de orientação.
“Não é só a pessoa meter um tênis no pé. Ele tem que procurar primeiro um cardiologista. Ele tem que ter uma orientação. Até para saber caminhar”, ressaltou.
Para aqueles que desejam iniciar uma vida mais ativa, Seu Pedro aconselha:
“Comece com caminhada, sempre aconselhei isso, né? A pessoa começa com caminhada, porque ele vai caminhando lentamente, vai melhorando, caminha um mês, dois meses, depois começa a protear devagarinho, depois começa a correr realmente”.
Seu Pedro é um exemplo de vida para aqueles que acreditam ter perdido a perspectiva. Sua história de superação, perseverança e amor ao esporte ensina que nunca é tarde para recomeçar e que a vida pode ser reinventada a cada passo.
“A vida é feita de sonhos e nunca se pode parar de sonhar. Nem na juventude, nem na média e nem na melhor idade. Eles fazem parte da construção de uma vida melhor, mais agradável e de coisas boas”
Pedro Panilha