Falta pouco mais de dois meses para o fim do ano de 2024 e milhões de trabalhadores brasileiros começam a receber o tão aguardado 13º salário. Este direito foi instituído no País em 1962, pelo então presidente João Goulart. A ideia é oferecer um suporte financeiro extra aos trabalhadores para enfrentar despesas de fim de ano, como festas e compras natalinas ou para quitar dívidas.
Por outro lado, a falta de conhecimento para o uso estratégico do 13º salário pode colocar a saúde financeira em risco e desestabilizar o planejamento das pessoas para o ano seguinte. O endividamento das famílias brasileiras segue sendo um problema relevante e, segundo levantamento da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias chegou a 50,3% do total de endividados para o mês de setembro deste ano – o maior percentual desde fevereiro de 2018.
Para o educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier, o 13º salário é uma ferramenta poderosa, mas muitas vezes mal utilizada. “A euforia das festas e o impulso de gastar no final do ano pode comprometer o planejamento financeiro para o ano seguinte. O ideal é enxergar esse dinheiro como uma oportunidade de construir estabilidade a longo prazo”, comenta.
Para não se afundar em dívidas e comprometer o bem-estar financeiro, o primeiro passo é destinar parte do 13º para o pagamento de dívidas, especialmente as que possuem os juros mais altos, como o cartão de crédito, que podem ultrapassar 300% ao ano e cheque especial. Com quase 86% dos endividados comprometidos com o cartão de crédito, ainda de acordo com a pesquisa Peic do CNC, quitar esses débitos deve ser prioridade.
Em termos de comportamento de consumo, o brasileiro gasta em média R$ 1,4 mil por mês com cartão de crédito, segundo levantamento da Serasa Experian. “A quitação de dívidas com juros altos é uma das formas mais inteligentes de usar o 13º salário, pois alivia o orçamento para o próximo ano e permite que o trabalhador possa respirar financeiramente, sem o peso de compromissos acumulados. Além disso, é importante ressaltar que os gastos com o cartão de crédito não ultrapassem 30% da renda familiar”, aconselha Lamounier.
Educação financeira
A educação financeira é essencial para ajudar as pessoas a entenderem suas finanças de maneira mais clara, permitindo que tomem decisões conscientes e responsáveis. Saber como planejar o uso do dinheiro e reconhecer a importância de destinar parte do orçamento para quitar dívidas, investir ou economizar, pode prevenir o aumento do endividamento e proporcionar maior segurança.
Fernando Lamounier ressalta que a criação de uma reserva financeira com o 13º salário é fundamental para a proteção dos trabalhadores. A reserva de emergência é importante para lidar com imprevistos, como desemprego ou despesas médicas. “Destinar parte do 13º para a criação ou reforço dessa reserva pode garantir segurança para eventuais dificuldades, especialmente em um cenário econômico incerto. O ideal é que essa reserva cubra de três a seis meses das suas despesas fixas”, explica.
Outra dica importante e muito negligenciada pelas pessoas é o planejamento das compras com antecedência. “Ao estabelecer um orçamento, pesquisar preços, evitar compras por impulso e aproveitar promoções de forma consciente, você pode garantir que as festas de fim de ano sejam um momento de celebração, sem comprometer a segurança financeira. Com disciplina e organização, é possível começar o próximo ano sem o peso de dívidas acumuladas”, finaliza Fernando Lamounier.