Jogo do Tigrinho: psicólogo dá dicas de como vencer o vício

O Psicólogo Wagner Costa explica que, quando o jogo começa a ocupar seus pensamentos a maior parte do tempo, a ponto de você negligenciar responsabilidades e mentir sobre suas apostas, é hora de prestar atenção

Os gastos com jogos de azar, como o jogo do tigrinho, têm levado muitos brasileiros a adiar ou desistir do ingresso no ensino superior. (Foto: Marília Mesquita/FolhaBV)
Os gastos com jogos de azar, como o jogo do tigrinho, têm levado muitos brasileiros a adiar ou desistir do ingresso no ensino superior. (Foto: Marília Mesquita/FolhaBV)

O “jogo do tigrinho”, muito popular em alguns grupos, pode parecer inofensivo no começo, mas tem levado muitas pessoas a desenvolverem um vício perigoso, que afeta não apenas o bolso, mas também a vida emocional e os relacionamentos familiares.

Você pode ter ouvido falar desse jogo ou até mesmo conheça alguém que joga. O tigrinho é um jogo de apostas online que promete grandes prêmios, mas acaba sugando o dinheiro e a paz de quem se envolve. Além disso, é importante lembrar que a prática é ilegal, e divulgar o jogo também é crime.

Casos reais

Muitas pessoas começam a jogar por diversão, mas logo se veem presas em um ciclo de perdas e dívidas, como é caso de Maria e João (nomes fictícios), um casal que quase terminou o relacionamento por conta do vício.

Segundo Maria, a primeira vez que ela descobriu que o marido usava o dinheiro das contas de casa para gastar com jogos foi no ano passado. “Eu deixei com ele dinheiro para pagar algumas contas que dividíamos. Um dia, ele me mandou uma mensagem dizendo que a irmã dele estava precisando e que havia emprestado. Acreditei, mas depois tive acesso a uma das contas do banco dele e vi um PIX para plataformas digitais de jogos. Foi aí que descobri que ele não havia emprestado nada para a irmã, mas sim gastado todo o dinheiro com jogos, além de pegar dinheiro emprestado de outras pessoas para jogar”, relatou.

“A discussão foi grande porque eu também trabalho para pagar as contas de casa e não deixar faltar nada para nossa filha. Quando vi que ele pegava dinheiro emprestado de outras pessoas para jogar, começamos a terapia. Ele iniciou tratamento com a psicóloga, mas continuava pegando dinheiro emprestado para jogar. Eu ficava desesperada, me culpava por ter deixado passar, mas também queria ajudá-lo a sair dessa. Pensei em acabar com tudo porque tínhamos propósitos diferentes. Hoje, por causa dos vícios, não conto com ele financeiramente, mas tenho esperança de que seja só uma fase”, concluiu.

Infelizmente, o vício em jogos pode levar a situações extremas. Recentemente, um caso de violência doméstica foi noticiado pela Folha. Um marido agrediu a esposa após ela perder um dinheiro que seria para comprar comida no jogo do tigrinho.

Como reconhecer o vício?

O psicólogo Wagner Costa é especialista em psicologia positiva. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Primeiro, é importante reconhecer os sinais de que o jogo está se tornando um problema. O psicólogo e psicoterapeuta Wagner Costa explica que, quando o jogo começa a ocupar seus pensamentos a maior parte do tempo, a ponto de você negligenciar responsabilidades e mentir sobre suas apostas, é hora de prestar atenção. “O jogo passa a ser prioridade na vida da pessoa, levando a problemas financeiros e mudanças de humor”, disse Wagner.

A ansiedade e o estresse gerados pelo vício podem afetar sua saúde física e mental. Você pode começar a sentir culpa e vergonha, o que pode levar a um isolamento ainda maior. “A pessoa sabe que está negligenciando a própria vida e isso pode levá-la a um isolamento social, prejudicando ainda mais as relações interpessoais”, destacou.

Tratamento e apoio

Superar o vício não é fácil, mas há esperança. O psicólogo recomenda a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a identificar e modificar os pensamentos que levam ao comportamento de jogo. Participar de grupos de apoio também pode ser muito útil, pois permite que você veja que não está sozinho nessa luta.

A jornada para a recuperação é cheia de desafios. Segundo o psicólogo, vencer o vício envolve enfrentar desejos fortes de jogar e negação do problema. “É um desafio que requer determinação, disciplina e foco, além do suporte contínuo de profissionais de saúde “, ressaltou.

E se você tiver uma recaída? Isso pode acontecer, e é importante estar preparado. “Recaídas podem ocorrer, mas com o suporte adequado, é possível superá-las”, aconselhou o psicólogo, afirmando que ter uma rede de apoio sólida e estar sempre alerta são fundamentais para evitar o problema.

Lembre-se, superar o vício não é apenas uma questão de força de vontade. É sobre desenvolver habilidades, disciplina e foco, com o apoio necessário, conforme concluiu o psicólogo Wagner Costa.