Por que crianças autistas são sensíveis ao barulho dos fogos de artifício?

O barulho e a luz intensa podem desencadear crises emocionais severas, como explica a psicóloga Neidiane Silva, especialista em terapia cognitivo-comportamental

A solicitação é para que seja feita a troca dos fogos de artefatos pirotécnicos de efeito sonoro, por um que produza somente efeitos visuais sem estampido.(Foto: Divulgação)
A solicitação é para que seja feita a troca dos fogos de artefatos pirotécnicos de efeito sonoro, por um que produza somente efeitos visuais sem estampido.(Foto: Divulgação)

A chegada do Réveillon é marcada por celebrações e pela tradicional queima de fogos de artifício, mas o impacto desses espetáculos luminosos e sonoros vai além da comemoração. Para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o barulho e a luz intensa podem desencadear crises emocionais severas, como explica a psicóloga Neidiane Silva, especialista em terapia cognitivo-comportamental.

“Toda criança autista precisa seguir uma rotina para se sentir confortável e segura. Os fogos, com barulhos e estímulos visuais intensos, quebram essa segurança, podendo gerar ansiedade, estresse ou crises emocionais. A desregulação causada por esses estímulos muitas vezes permanece mesmo após o término do evento, dificultando a recuperação emocional da criança”, destacou Neidiane.

A especialista ressalta que crianças autistas, no geral, apresentam hipersensibilidade sensorial, principalmente auditiva e visual, o que amplifica o desconforto em situações como a queima de fogos. “Ainda que algumas possam achar os fogos interessantes, a maioria sente os estímulos como ameaçadores. Protetores auriculares e ambientes com menos luz e barulho podem ajudar a reduzir esses impactos, caso não seja possível evitar a exposição”, orientou.

Réveillon no Parque Anauá terá fogos de baixo ruído

Em Boa Vista, a Secretaria de Cultura e Turismo anunciou que a tradicional queima de fogos do Parque Anauá, programada para esta terça-feira (31), será adaptada para atender ao público sensível a estímulos sonoros, incluindo crianças autistas e animais.

“A queima de fogos terá duração de dez minutos e seguirá os protocolos de show pirotécnico de baixo ruído, conforme a Lei Ordinária n° 2.072, de 2024. Queremos promover uma experiência mais inclusiva e ecologicamente correta, reduzindo o impacto ambiental e garantindo maior bem-estar para todos”, afirmou o secretário-adjunto de Cultura e Turismo, Alex Ferreira.

A iniciativa busca minimizar os desafios enfrentados por famílias que convivem com crianças autistas, oferecendo um ambiente mais acessível e seguro. Segundo especialistas, essas adaptações são essenciais para que momentos de celebração também sejam acolhedores para todos os públicos.

Dicas para famílias de crianças autistas

Caso os pais ou responsáveis precisem levar crianças autistas a eventos com fogos, Neidiane sugere algumas medidas:

  • Protetores auriculares: ajudam a abafar o som e reduzir o impacto auditivo.
  • Ambientes tranquilos: buscar locais afastados das luzes intensas e do som mais alto.
  • Preparação prévia: explicar o que irá acontecer, dentro das possibilidades de compreensão da criança, pode ajudar a diminuir a insegurança.