‘Não tem como definir essa dor’, diz viúva ao visitar túmulo de marido

“Praticamente todos os fins de tarde são de dor, lembranças e saudade latente. É por isso que venho visitá-lo. Mas hoje, a saudade é mais intensa e profunda”. Esse é o relato da viúva do artista plástico Augusto Cardoso, que morreu em julho de 2020, vítima da Covid-19. Nesta terça-feira, 2, é o Dia de Finados, momento em que muitos dedicam orações e homenagens aos que já morreram.

Com lágrimas nos olhos, Edicilda Cardoso, lembra dos bons momentos ao lado do esposo. “Não tem como definir essa dor. Mas ficam as lembranças e a saudade eterna, um sentimento forte que ainda existe. Foram 40 anos, vivendo e aprendendo juntos. Ele era tão jovem, forte, cheio de projetos. Não tem explicação. Estou reaprendendo a viver”, declarou.

Ela destaca que os finais de domingo são sempre reservados para visitar o túmulo do marido. “Os nossos domingos eram de alegria, sempre juntos. Hoje, continuamos juntos, sendo de uma forma diferente, mas o sentimento é o mesmo. O fim da tarde de domingo é marcado pela minha vinda aqui. O trabalho que ele realizava com a arte, eu continuo fazendo”, contou a viúva.

Famílias se reúnem em um momento de dor e lembranças (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Momento de Lembranças

Assim como Edicilda, milhares de pessoas visitaram túmulos de entes queridos. Uma família reunida em um dos jazigos, lembravam os bons momentos vividos com pai, irmão e sobrinho, que há mais de um ano morreram, vítimas de acidente, Covid-19 e problemas no coração. Eles afirmaram que todos os meses no dia 14 eles visitam o local.

“A saudade aperta e a dor comove. Nossa família se reúne todo dia 14 para rezarmos por estas almas. As lembranças são as melhores e os bons momentos foram marcantes, por isso nós devemos aproveitar cada instante com as pessoas que amamos. Não sabemos o dia de amanhã”, disse uma familiar.

Movimento

A expectativa é que mais de 20 mil pessoas visitem os dois cemitérios da capital. O movimento no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, localizado no bairro São Vicente, zona Sul de Boa Vista, começou nas primeiras horas da manhã, quando abriu o local. A programação de missas começou às 7h, 9h e segue até as 17h.

A administração estimou a visita de 10 mil pessoas. Para receber os visitantes, o local ganhou serviço de pintura, limpeza, o jardim foi podado e revitalizado. Equipes da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Secretaria Municipal de Trânsito (Smtram) atuam na segurança e organização do trânsito. O local está previsto ficar aberto até as 22h.

Mais de 20 mil pessoas devem visitar túmulos de entes queridos (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

De acordo com Alsemo Martinez, proprietário do Cemitério Parque Campo da Saudade, no bairro Centenário, zona Oeste de Boa Vista, com o feriado prolongado, muitas pessoas saíram da cidade, o que pode refletir no número de visitantes. Segundo ele, a expectativa é receber aos menos 50% do público de anos antes da pandemia, que era de 30 mil pessoas.

“Nós temos um público bastante significante já nos visitando. O ano passado foi um público muito reduzido por contra da pandemia e este ano esperamos aos menos 15 mil pessoas, ou até mais que isso, devido às liberações sanitárias”, disse. O local abriu às 5h e segue até enquanto tiver visitantes.

Quanto às missas, Martinez informou que foi realizada uma às 7h, depois às 10h e às 17h terá a missa de encerramento. Nos dois cemitérios são disponibilizados álcool em gel 70% na entrada e exigido o uso de máscara de proteção.