Há cinco anos no Brasil, Linda Cristal Bello, de 36 anos, projeta um novo futuro: construir a casa quando voltar para a Venezuela, onde deseja morar com os cinco filhos. O sonho foi idealizado ao fazer curso de pedreira que ela terminou neste mês em Roraima.
“Nunca havia feito esse tipo de serviço. Foi um desafio, algo totalmente novo, uma experiência bonita em que aprendi muito. No início foi difícil, agora está sendo fácil”, diz, ao acrescentar que tem um irmão atuando no ramo e já sinalizou contratá-la.
Nessa segunda-feira (20), Linda e outras 12 mulheres receberam o certificado de Pedreira de Revestimento Cerâmico, fruto de uma parceria da Visão Mundial com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra). As duas organizações promovem acolhimento a migrantes e refugiados venezuelanos no estado.
Preparo para o mercado
O curso começou no mês de setembro e teve duração de 160 horas. Durante esse tempo, a turma, composta apenas por mulheres, aprendeu a nivelar piso, colocar cerâmica, fazer contrapiso e rodapé. Para testar os conhecimentos, elas construíram um piso na sede da Adra, em Boa Vista.
O professor João Jackson, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), foi responsável por ministrar as aulas. Ele comenta que o mercado tem se tornado competitivo e exige mão de obra qualificada. João também afirma que a área está abrindo as portas e contratando mais mulheres.
“A expectativa é que elas possam progredir e reconstruir a vida. O curso é um pontapé, teve a parte prática, cálculo, orçamento. Procuramos transmitir todo o conhecimento da área da construção civil. Foi um curso completo”, avalia.
Descontruindo o preconceito
Quem compartilha desse entendimento é a coordenadora do projeto “Ven, Tú Puedes!” em Roraima, da Visão Mundial, Bárbara Gil. Para ela, a preparação das mulheres descontrói o preconceito de que o serviço é feito apenas por homens.
“Todos somos capazes de fazer qualquer tarefa. Sabemos que algumas carreiras conseguem trazer um retorno financeiro maior, como é o caso da construção civil. Dessa forma, as mulheres podem estar em áreas nas quais não eram vistas atuando. Nosso objetivo é fazer com que elas entrem no mercado”, diz.
Maria Revenga, de 46 anos, espera justamente isso: uma vaga de pedreira. No Brasil há seis meses com a filha de três anos, ela já prepara o currículo. Maria lembra que na Venezuela não teve uma oportunidade semelhante e quer colocar em prática o que aprendeu.
“O professor foi muito bom. Para esta profissão é preciso muita matemática. Sou formada em enfermagem, não estou exercendo, mas graças a Deus com esse curso de pedreira estou mais qualificada para conseguir um emprego”, finalizou.