Quatro décadas se passaram após a epidemia do HIV, mas Maria*, de 38 anos, ainda achava que ia morrer imediatamente quando se descobriu soropositiva.
O diagnóstico veio depois que um ex-parceiro comunicou a ela que estava infectado. “Sinceramente, não senti na hora que soube. Foi como se não tivesse caído a ficha. A ficha só caiu quando eu fiz o teste e deu positivo. Quando a assistente social me contou, eu achei que estivesse à beira da morte, que meus dias estavam contados”, relembrou.
Mas após dez anos vivendo com a doença, ela afirma que é possível ter uma vida normal, desde que seja feito o tratamento corretamente. A rotina dela é normal, mas com cuidados extras na hora de tomar os remédios rigorosamente, pois são eles que previnem complicações.
Só quem sabe da condição dela são os familiares e amigos mais íntimos. Ela diz que não sente necessidade de falar sobre o assunto como em ambientes de trabalho, pois teme o preconceito. Ela inclusive pediu para não ter a profissão revelada para evitar especulações. “Boa Vista é muito pequena e as pessoas têm uma mente muito fechada”.
Vida amorosa
O diagnóstico de infeção por HIV pode acarretar um forte impacto nas diferentes áreas da sua vida, um deles é na vida amorosa e na sexualidade. Maria conta que após o diagnóstico, demorou quatro anos para ter relações sexuais com alguém. “Foi um bloqueio da minha cabeça, um medo. Mas hoje levo uma vida normal, inclusive na parte amorosa. O que muda é que a camisinha faz parte da minha rotina, como deveria ser com todo mundo”, pontuou.
Hoje ela tem uma relação estável, e conta que evitava um envolvimento mais íntimo por medo da reação do parceiro. Até que um dia ela criou coragem e falou que era soropositivo. “Ele não tinha muita informação. Expliquei que a vida sexual é normal se você fizer o tratamento certinho. E desde então vivemos bem”.
Dados
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), atualmente em Roraima existem 2.106 pacientes com HIV. No entanto, a quantidade de pessoas que vivem com o vírus sem saber leva a crer que esse número é bem maior.
Dos casos registrados, 69% são homens (1.458 pacientes). Dos que vivem com o vírus, a faixa etária predominante é de 20 a 49 anos.
Em 2019 foram registrados 353 casos novos de HIV. Em 2020 foram 271 novos casos e em 2021 já foram registrados 180 casos novos da doença. Das pessoas com HIV em Roraima, 102 são imigrantes.
Fique sabendo
Testes rápidos para HIV são disponibilizados nas unidades básicas de saúde dos bairros de Boa Vista, de forma gratuita. Ao confirmar a presença do vírus, a pessoa é encaminhada para o tratamento na rede pública estadual.
No interior, o acompanhamento e tratamento dos pacientes com HIV são realizados pela nos postos de saúde de Bonfim, Pacaraima, Rorainópolis, Alto Alegre e Amajari. No restante dos municípios, os pacientes são encaminhados a Boa Vista.