Cotidiano

45% dos brasileiros desconhecem risco de cegueira causado pelo diabetes

Pesquisa nacional conduzida pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo aponta que a conscientização sobre as complicações oculares é baixa

Quase metade dos brasileiros (45%) não sabe que o diabetes pode causar cegueira, de acordo com uma pesquisa conduzida pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), em parceria com a Bayer, que analisou o grau de percepção da população com relação às complicações oculares ocasionadas pela doença. A pesquisa foi feita com 4 mil pessoas em oito capitais brasileiras: Belo Horizonte, Brasília Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Mesmo sendo uma doença com grande incidência no mundo e no Brasil – 415 milhões e 14 milhões, respectivamente, conforme o International Diabetes Foundation – e com complicações graves, os riscos do diabetes não-controlado são ignorados por uma parcela significativa da população.

Entre os entrevistados que não têm diabetes ou não possuem ninguém na família com a doença, 45% desconhecem a relação entre a doença e a perda da visão. Já entre os diabéticos ou quem têm familiares portadores da doença, mesmo sendo a perda da visão uma das complicações mais temidas (29%), 57% nunca ouviram falar de retinopatia diabética (RD) e edema macular diabético (EDM), principais complicações oculares da doença.

Tanto a retinopatia diabética como o edema macular diabético são complicações do diabetes, causados pelo aumento de açúcar no sangue, levando a alterações nos vasos sanguíneos de todo o corpo, incluindo os vasos do olho, especificamente da parte posterior do olho, chamada de retina, e de sua porção central, denominada mácula.

“Em relação ao diabetes, já se observa níveis de epidemia no Brasil. À medida que esses números aumentam, proporcionalmente cresce o número de indivíduos que correm o risco de desenvolver essas complicações oculares”, explicou o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), endocrinologista Luiz Turatti.

Outro ponto preocupante apontado pela pesquisa é que, entre os entrevistados que possuem a doença ou têm algum caso na família, 38% afirmaram que seus respectivos endocrinologistas nunca pediram o mapeamento de retina (exame de fundo de olho), fundamental para o diagnóstico precoce da complicação ocular, e cerca de 10% nunca passaram por uma consulta com um oftalmologista durante o tratamento.

Cenário que explica outro dado: 49% afirmaram terem tido diagnóstico tardio de complicação ocular.

Cerca de um terço das pessoas com diabetes desenvolvem algum grau de dano ocular, segundo o International Diabetes Foundation. Sem o tratamento adequado, os pacientes podem perder mais de duas linhas de visão em menos de dois anos. Atualmente, o EMD é uma das razões mais frequentes de perda severa da visão na população em idade ativa.

Em Roraima, o exame de mapeamento de retina é oferecido de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), o paciente deve primeiramente se consultar em um posto de saúde, depois será encaminhado para uma consulta especializada na Clínica Especializada Coronel Mota CECM. Se o médico julgar necessário, solicitará o exame.

Após isto, o paciente deve se dirigir à Coordenação Geral de Regulação, Avaliação, Auditoria e Controle (CGRAC) na Sesau, com o cartão do SUS, RG, CPF e comprovante de residência (duas cópias) para pegar autorização para realizar o exame em uma das clínicas conveniadas com o Governo do Estado.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, o acompanhamento multiprofissional é essencial. “O paciente precisa ser tratado não só pelo endocrinologista, mas também pelo neurologista, pelo retinólogo, pelo psiquiatra. É importante também que esses médicos conversem entre si”, assegurou. (V.V)

ANVISA aprova nova terapia para tratamento do edema macular diabético

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou, em setembro deste ano, o Eylia, uma nova opção para o tratamento de pacientes diagnosticados com edema macular diabético. O tratamento era feito, até então, com laser e injeção de medicamentos ou ainda a combinação dos dois. O laser estabiliza a visão do paciente, mas não a recupera. Já os medicamentos mais antigos geravam efeitos colaterais e permitiam a formação de novos edemas.

No EMD, são liberados fatores de crescimento placentário. O excesso desses fatores de crescimento é uma resposta anormal do organismo, que estimula o desenvolvimento de vasos malformados permitindo o extravasamento de líquido de dentro deles para as camadas da retina, promovendo assim o edema (inchaço). Os principais sintomas da doença são manchas na visão, distorção de imagens, fotofobia, diminuição do contraste e visão de cores, além de alterações no campo de visão.

O Eylia, da Bayer, atua no combate do edema macular diabético através do fator antiVEGF e antiPLGF, sendo o único que age como um receptor solúvel que se liga não apenas ao VEGF-A, mas também ao VEGF-B e ao PLGF, inibindo a formação de novos vasos e atuando na inflamação decorrente das doenças vasculares. Seu mecanismo de ação permite que tenha uma ação prolongada dentro do olho para o tratamento de importantes doenças vasculares, diferentemente dos outros antiVEGFs.

“Cerca de 4% das pessoas com diabetes são afetadas pelo edema macular diabético. Levando em consideração o crescimento na incidência de diabetes, projetamos um aumento considerável de pessoas impactadas pelo EMD”, ressaltou o oftalmologista Arnaldo Bordon, membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV) e diretor do Setor de Saúde Ocular da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Pacientes com EMD apresentam problemas de mobilidade, dificuldade para fazer atividades habituais e depressão, por exemplo. “61% dos pacientes têm dificuldade para dirigir. Um em cada cinco tem dificuldades no trabalho. 33% apresentam dificuldades para fazer serviços domésticos. Um dos conselhos dos médicos durante o tratamento do diabetes é que o paciente faça exercício físico. Mas como que ele vai se exercitar se ele não enxerga?”, questionou.

Bordon lembrou que, sem o tratamento adequado, o EMD pode resultar na perda total da visão, sendo a principal causa de cegueira em jovens e adultos e de meia-idade nos países desenvolvidos. “Os pacientes chegam tarde demais ao oftalmologista. Por conta disso, não conseguimos sucesso no tratamento porque a doença já está muito avançada”, afirmou. (V.V)

Edema macular diabético afeta pacientes com diabetes descontrolada

Aos 25 anos, a estudante do interior de São Paulo Luciana Mangini descobriu, no dia 1º de janeiro de 2011, que estava perdendo a visão. “Acordei no primeiro dia do ano e tava com a visão embaçada. Chamei minha mãe e fomos ao médico”, relatou a jovem, que convive desde os dez anos com o diabetes.

Depois de diagnosticada, Luciana teve que abandonar o curso de Medicina porque não conseguia fazer as provas. “Eu não conseguia andar na rua sozinha, não conseguia distinguir as cores, não conseguia fazer a unha do meu pé que eu me cortava. Virei deficiente visual mesmo”, contou.

A estudante chegou a ter 5% de visão do olho esquerdo e 20% do direito. Ela começou o tratamento com laser e injeções, mas a visão ainda ficou embaçada por cerca de um ano e meio. “Antes eu fazia seis aplicações de insulina por dia e o EMD não controlava. Agora, com a bomba de insulina, a glicemia tá controlada, o que ajuda no tratamento com a Eylia”, disse.

Há dez meses, a visão do olho esquerdo de Luciana está estabilizada e o olho direito continua em tratamento. “Hoje eu enxergo melhor que uma pessoa míope”, afirmou a jovem, que voltou a estudar para passar novamente no vestibular para Medicina.

A pouca idade de Luciana não está relacionada à ocorrência da doença. O edema macular diabético afeta pacientes diabéticos de todas as idades, desde que a doença esteja descontrolada. “Se o diabetes tiver controlado, não tem edema. A lesão é compatível com o grau de descontrole da doença no paciente. Acontece que o jovem apresenta uma dificuldade maior de controlar o diabetes”, explicou o chefe do serviço de retina do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), oftalmologista Sérgio Pimentel.

A rebeldia de Luciana Mangini quase custou a sua visão. “O jovem é rebelde e nunca aceita que está doente, que aquilo pode acontecer com ele. Passei mais de dois anos sem fazer o exame do fundo do olho. A doença tava evoluindo e eu não percebi”, afirmou. (V.V)