Cotidiano

47 foram mortos em um mês

Número se igualou à quantidade de homicídios registrados em janeiro de 2017, quando morreram 33 detentos durante massacre na Penitenciária Agrícola

O mês de setem­bro deste ano bateu recorde e é considerado, por es­pecialistas em segu­rança pública, como o período mais san­grento na história do Estado. Durante 30 dias foram contabili­zadas 47 mortes vio­lentas, na sua maioria por conta do envolvi­mento das vítimas com o crime organizado.

Segundo levanta­mento feito pela re­portagem da Folha, em setembro foram 47 homicídios, sendo 26 causados por armas de fogo e 15 por ar­mas brancas. A maio­ria, cerca de 20, apre­senta ligação com o crime organizado, seja por apresentar caracte­rísticas de execução ou de violência extrema das vítimas, como in­dicações de tortura ou membros decepados.

O principal perfil da vítima é de homem (89%), brasileiro (93%), com idade entre 15 a 30 anos (41%). Os cri­mes ocorreram prin­cipalmente na Capital (57%), sendo o muni­cípio do Cantá o se­gundo colocado no percentual, com se­te mortes registradas.

O percentual de as­sassinatos se igualou a uma exceção vivida em Roraima, quando 33 detentos morreram du­rante massacre na Pe­nitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) em janeiro de 2017. Até então, o mês de março deste ano, com 31 mor­tes, era considerado o período mais violento.

O levantamento le­va em consideração as informações reunidas pela editoria de Polícia da Folha, baseado em relatos de familiares das vítimas, testemu­nhas, equipes de se­gurança e emergência,

boletins de ocorrência e dados do Instituto de Medicina Legal (IML).

Percentual de mortes já é 300 vezes maior do que preconiza a ONU

A estimativa supera ainda o que preconiza a Organização das Nações Unidas (ONU). O órgão estabelece como aceitável pelo menos 10 mortes por ano para cada 100 mil habitantes, ou seja, o Estado precisaria contabilizar 50 mortes em 2018, já que a estimativa da população deste ano é de 576.568 mil pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O problema é que em um mês o Estado já contabilizou o esperado para o ano todo. Segundo o cálculo da reportagem, já foram mais de 220 mortes violentas em Roraima até agora, o que representa um percentual 344 vezes maior do que o indicado pela ONU.

De acordo com o especialista em segurança pública e professor da Universidade Estadual de Roraima (Uerr), Carlos Borges, o índice é maior do que outras localidades consideradas perigosas. “É um percentual que supera os outros estados em termos de proporção. Um estado como São Paulo tem menos mortes”, avaliou.

O especialista disse ainda não se recordar de um mês mais sangrento, durante a história de Roraima. “Nos anos 90, o índice de homicídios era insignificante. Na década de 2000, ainda estava em uma proporção baixa. Desde 2012 até 2014, vem se intensificando, o que coincide com o ingresso das facções no Estado”, explicou.

Além disso, Borges também avalia o crescimento não só do homicídio em si, mas da selvageria na forma em que a morte acontece, que é uma característica do crime organizado. “Quando acontecia, todo mundo se escandalizava por que era um evento que ninguém estava acostumado e agora tem se tornado cada vez mais frequente”, disse

Insegurança e Crime organizado influenciam aumento

Para Borges, a situ­ação de total insegu­rança pública contri­buiu para o aumento das mortes, aliado com as fugas frequentes no sistema prisional do Estado e a instauração e evolução do crime or­ganizado em Roraima.

De acordo com o professor, se não hou­ver uma intervenção em termos de proporcio­nar uma maior seguran­ça pública, a tendência é aumentar. “É preciso aparelhar melhor a polí­cia, refazer inteiramen­te o sistema prisional do Estado e desfazer inter­namente as facções, ca­so contrário, a previsão é que aumente”, avaliou.

OUTRO LADO – Sobre o caso, o Gover­no do Estado garantiu se pronunciar sobre te­ma hoje, 2, já que ain­da não possuía os da­dos de mortes do mês de setembro fecha­dos e necessitaria dos registros oficiais pa­ra passar informa­ções concretas. (P.C.)