Os dados assustadores divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) que demonstram a possibilidade de 60 mil novos casos de câncer de mama em mulheres entre 2018 e 2019 podem ser evitados com mudanças comportamentais simples. Apenas 20% dos casos são ocasionados por fatores genéticos, 80% deles estão relacionados com má alimentação e sedentarismo, segundo especialistas.
Em quatro anos, já foram registrados 111 casos de câncer de mama em Roraima, com crescimento considerável a cada ano seguinte, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesau). No ano de 2015, foram 20 casos positivos, em 2016 o número subiu para 25. Em 2017, já foram 32 e até setembro de 2018, foram contabilizados 34 casos.
De acordo com a presidente da Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC), ginecologista Magnólia Rocha, os casos de câncer de mama estão sendo diagnosticados em mulheres cada vez mais jovens, em que estudos demonstram haver relação com o aumento no consumo de álcool. Além disso, uma alimentação irregular, como enlatados e comidas com gorduras trans, contribui para a aparição de glândulas nas mamas.
As dificuldades em conseguir realizar os atendimentos para o diagnóstico e consequentemente o tratamento acarretam no número maior de óbitos de mulheres que poderiam ter sido diagnosticadas mais cedo. Segundo a ginecologista, um dos objetivos da campanha Outubro Rosa é alertar o poder público sobre a necessidade de investimento nas áreas que podem diminuir os casos da doença.
“A estimativa é de quase 16 mil o número de mulheres que provavelmente vão morrer por causa da doença. E a forma de se prevenir, além de se afastar desses fatores de risco, é o diagnóstico precoce, que vem com a mamografia, incentivar mulheres a se conhecerem e investir em políticas públicas que favoreçam o diagnóstico precoce e reduzam o tempo do início do tratamento”, explicou.
Magnólia informou ainda que quanto mais cedo a descoberta do nódulo nos seios, maiores chances de cura, diminuindo a possibilidade de mortalidade. A importância do diagnóstico precoce também dá a garantia de evitar tratamentos mais severos, como cirurgias agressivas ou mastectomia, que é remoção total da mama.
“Podemos fazer hoje a remoção da célula maligna que compromete outros órgãos com uma cicatriz pequena, que possibilita a mulher a ter uma qualidade de vida melhor”, relatou.
FALTA DE EQUIPAMENTOS – A médica revelou ainda que o Ministério da Saúde recomenda um equipamento de mamografia para 300 mil habitantes. Em Roraima, existem cinco, porém todos estão concentrados na capital, nenhum no interior. Para ela, o ideal era que houvesse mais atendimentos, desafogando a quantidade de pessoas que procuram Boa Vista para realizarem os exames.
“Essa campanha é para chamar atenção do poder público. Não é justo a gente ter tantas mulheres sendo mutiladas por uma situa- ção que pode ser muito bem resolvida. O Ministério da Saúde quer combater a mortalidade e a Sociedade Brasileira de Mastologia também quer reduzir mortes, mas muito mais reduzir custos e preservar a mama da mulher”, disse.
AUTOEXAME POSSIBILITA O DIAGNÓSTICO PRECOCE
Para o Ministério da Saúde, os exames de mamografia devem ser feitos apenas aos 50 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia acredita que a idade ideal é aos 40. Porém, como muitas jovens estão sendo acometidas pela doença, a médica recomenda que o autoexame seja uma rotina para as mulheres.
O exame pode ser feito em casa e consiste em levantar um dos braços para cima da cabeça e apalpar as mamas com as pontas dos dedos para conseguir sentir caroços anormais. Um destaque é fazer a prática uma semana depois do período menstrual, pois é quando as mamas estão menos doloridas ou inchadas.
Com o costume da prática, as mulheres passam a se conhecer mais, aumentando as chances de perceberem se algo está errado. Se encontrar um nódulo duro no local, deve procurar um profissional da saúde. No exame de mamografia será possível saber se há presença de substâncias antes mesmo de serem transformados em nódulos palpáveis.
Magnólia justificou os exames de mamografia serem feitos apenas em idades mais avançadas por conta do tecido da pele que diminui ao longo do tempo e possibilita uma precisão maior nos resultados, diferente das mulheres mais jovens. Além da dificuldade em conseguir o acesso aos atendimentos, o comodismo causado pela era digital possibilitou que mulheres deixassem de praticar atividades físicas e deixassem a alimentação mais natural para depois, vícios que podem evitar o aparecimento da doença.
SESAU GARANTE QUE NÃO HÁ FILA DE ESPERA PARA ATENDIMENTOS
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou, por meio de nota, que existem cinco aparelhos de mamografia a serviço do Governo do Estado no momento, um no Centro de Cardiologia e Diagnóstico por Imagem (CCDI), dois em clínicas conveniadas, e dois nas Carretas de Saúde da Mulher.
“Apesar de não ter um aparelho específico para o interior do estado, a fila de espera por exames de mamografia foi zerada nessa gestão. Além disso, a demanda oriunda do interior e da Capital também são atendidas através das unidades móveis da Carreta Saúde da Mulher, que atende com cronograma próprio”, frisou.
Ressaltou que após a construção da maternidade de Rorainópolis, um apare- lho de mamografia será instalado no local para atender a região sul. A equipe da Folha questionou também o fato de um dos melhores aparelhos para mamografia não ter sido levado para o Centro de Referência da Saúde da Mulher (CRSM). Sobre isso, a Sesau afirmou que equipamento do CRSM, “se encontra guardado no depósito do Governo, devido a uma peça danificada. O conserto é inviável, pois a peça custa o equivalente ao valor de um equipamento novo”, finalizou. (A.P.L)