Cotidiano

90% das mortes por câncer de pulmão podem ter relação com o tabagismo

No Dia Mundial sem Tabaco, celebrado anualmente no dia 31 de maio, o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer pontuou que 90% das mortes por câncer de pulmão em Roraima podem ter relação com o tabagismo

Você conhece algum fumante saudável? Difícil, não é? Ainda que negue, ele sabe que além de causar dependência física, psicológica e comportamental, a presença da nicotina nos produtos à base de tabaco faz mal à saúde. No Dia Mundial sem Tabaco, celebrado anualmente no dia 31 de maio, o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC) apontou que 90% das mortes por câncer de pulmão em Roraima podem ter relação com o tabagismo.

Nos últimos quatro anos, 136 pessoas morreram vítimas da doença, conforme dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Assim como apontou o IBCC, a pneumologista Ana Lília Souza também relacionou a doença ao vício. “Na maioria dos casos, o fato que mais contribui para a decorrência da doença é o uso do cigarro”, disse.

De acordo com os dados disponibilizados pela Sesau, o número de óbitos por neoplasias malignas no pulmão, popularmente conhecida como câncer, cresceu cerca de 85% durante os últimos quatro anos. Em 2014, foram registrados 23 óbitos. No ano seguinte, o número subiu para 36 e, em 2016, caiu para 34. Em todo o ano de 2017, foram constatadas 43 mortes em razão da doença.

No Estado, a data foi considerada o pontapé inicial para intensificar inspeções nos estabelecimentos onde há o consumo de produtos derivados do tabaco, como bares, restaurantes, e casas noturnas. A ação, que será realizada de forma contínua pelos órgãos de vigilância sanitária do município com apoio do Estado, busca sensibilizar não apenas os comerciantes, mas a população em geral. Até o momento, 30 locais foram visitados.

Segundo a gerente do Núcleo de Ecologia Humana e Saúde Ambiental, Alexandrita Souto, as visitas tiveram uma abordagem educativa sobre as leis que controlam a venda e o consumo de produtos como o cigarro, além de alertar para seus malefícios. “Os proprietários nos receberam de maneira participativa, nos enxergando como apoiadores contra o consumo desses produtos em ambientes coletivos” informou.

DADOS NACIONAIS – No Brasil, 200 mil pessoas são vítimas do tabaco por ano. Além de ser o vilão em até 90% das mortes por câncer de pulmão, conforme apontado pelo IBCC, o tabagismo está relacionado ainda com 85% das mortes por câncer de cabeça e pescoço e é responsável por 30% a 45% de todas as mortes por câncer.

Em contrapartida, nesta quarta-feira, 30, dados inéditos do Ministério da Saúde apontaram que a frequência do consumo do tabaco entre os fumantes nas capitais brasileiras reduziu em 36%, no período de 2006 até o ano passado. Nos últimos anos, a prevalência de fumantes caiu de 15,7%, em 2006, para 10,1% em 2017.

DATA – O Dia Mundial sem Tabaco foi instituído pelos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é celebrada no dia 31 de maio. Anualmente, a OMS elege um tema para uma campanha mundial, que tem como objetivo chamar a atenção para a epidemia do tabaco e as mortes que acarreta. Em 2018, o tema é “Tabaco e Doenças Cardiovasculares”, seguido com o slogan “Com o coração não se brinca. Faça a melhor escolha para sua vida: não fume!”. (A.G.G)

Poder público dispõe de tratamento para quem deseja parar de fumar

No Brasil, existe um tratamento para ajudar as pessoas que querem parar de fumar, mas não conseguem. O serviço é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Em Roraima, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o tratamento completo disponível no SUS envolve métodos que vão desde o aconselhamento até o uso de medicamentos.

Durante o tratamento, o fumante terá acesso a informações, reuniões de apoio, consultas para acompanhamento da saúde e acompanhamento psicológico, caso seja necessário. Para obter o tratamento, os interessados devem buscar o posto de saúde mais próximo para realizar o cadastro e serem incluídos na próxima turma de atendimento. A utilização dos medicamentos é um recurso adicional, feito com base em indicação médica.

A Prefeitura de Boa Vista oferece o acompanhamento para pessoas que desejam parar de fumar nas unidades básicas de saúde. Ao todo, são 18 grupos antitabagismo e, no último ano, cerca de 230 pessoas acompanharam os grupos. O tratamento é realizado com adesivo de nicotina e a medicação que ajuda a diminuir a ansiedade, além de ser contínuo e mensal, com duração de seis meses a um ano. Os pacientes ainda são acompanhados pelos agentes comunitários de saúde nas visitas domiciliares e pelo grupo de WhatsApp das unidades. (A.G.G)

“O tabaco é causador de pelo menos 50 doenças”, diz especialista

Segundo o pneumologista Amon Machado, historicamente as pessoas começam a fumar a partir dos 18 anos, devido à fase de afirmação social e de querer experimentar coisas novas. Nesse contexto, a maioria não se atenta de que além do câncer de pulmão e da asma, principais doenças relacionadas ao uso do cigarro, o tabaco é reconhecido como o causador de pelo menos 50 doenças diferentes. 

Pelo alto poder de adição encontrado na nicotina, durante um tempo relativamente curto de uso, surge a necessidade crescente do princípio ativo e uma tendência a evoluir para uma dependência química. Por este motivo, o uso do tabaco é classificado atualmente como uma doença psiquiátrica associada a uma dependência química, seja de nicotina, álcool e outras drogas.

Quem fuma sabe. Quanto maior o grau da dependência, mais difícil parar de fumar. No entanto, Machado destacou casos de fumantes que conseguiram parar sozinhos e de uma vez. Por outro lado, também há casos de pessoas que não conseguem. “Não desanime, tem gente que tenta seis vezes até conseguir. É importante procurar unidades de saúde, que ajudam não só com o medicamento, mas também com a terapia cognitivo-comportamental (TCC)”, disse.

Ele explicou que, durante a terapia, o paciente tende a mudar hábitos e costumes. A medicação, por sua vez, entra como auxílio para diminuir os sintomas da abstinência, que pode vir a surgir com a parada. “Existe a reposição de nicotina, que pode ser na forma de adesivo, pastilha ou goma de mascar e as medicações do grupo dos antidepressivos, mas isso vai depender do critério do profissional de saúde que está avaliando o paciente”, contou.

Considerando que o foco principal das campanhas do Ministério da Saúde visa evitar o início do fumo, ele avaliou que a estratégia deveria ser a busca ativa de pacientes que fumam para oferecer o tratamento. Alguns pacientes com desejo de parar têm certa dificuldade de acesso ao tratamento e a medicação disponibilizada pelo órgão, que não dão custos ao Estado.

Paralelo às campanhas de saúde que buscam evitar o consumo do cigarro, ele pontuou que as fábricas têm buscado novas estratégias para deixar o cigarro mais atrativo, seja com a adição de sabores ou de modo de utilização, como narguilés. “O ideal é evitar a qualquer custo experimentar, porque não tem qualquer benefício e já deixou de ser glamoroso ou sexy, como era visto antigamente”, finalizou.

DOENÇAS – Algumas doenças causadas pelo cigarro são: aneurismas da artéria aorta, Aneurisma cerebral, Acidente Vascular Cerebral (AVC), câncer da boca e língua, de laringe, do esôfago, do estômago, bronquite e enfisema pulmonar, infarto do miocárdio, infarto fulminante, insuficiência renal, úlceras de estômago e gastrite, leucemias, osteoporose, Alzheimer, degeneração macular, artrite reumatoide, catarata, diabetes, fratura do colo do fêmur, gangrena e amputações e hipertensão. (A.G.G)