Cotidiano

Abastecimento pode ser afetado em cinco dias

Desde ontem, caminhoneiros estão no KM 483 da BR-174 sul e impedem o tráfego de caminhões até Boa Vista

A greve dos caminhoneiros, iniciada em alguns estados na segunda-feira, 21, já causa problemas de abastecimento em alguns setores. Em Roraima, a paralisação, que impede a chegada de caminhões a Boa Vista pela BR-174, ainda não tem reflexos negativos, o que pode acontecer na próxima semana.

Segundo o dono de uma rede de supermercados da capital, Júnior Saraiva, a população não precisa se preocupar em correr para supermercados no momento, uma vez que estoques de não perecíveis para o mês já está garantido. “Com o que temos aqui, dá para suprir a demanda de pelo menos 15 dias. Ninguém precisa estocar nada”, frisou.

Apesar disso, ele ressaltou que algumas encomendas de São Paulo já pararam de chegar a Roraima devido à paralisação em nível nacional de caminhoneiros. “Produtos de São Paulo já não estão mais chegando a Roraima. A encomenda de hortifrúti que fiz para essa semana não vai chegar. Para perecíveis, que precisam vir para cá toda semana, o impacto virá nos próximos três a cinco dias”, explicou.

Mesmo com possíveis dificuldades no futuro, Júnior salientou que apoia a paralisação e diz que o Brasil estava precisando de um ‘choque’ para acordar para um cenário onde o alto preço da gasolina também afeta outros produtos, deixando o brasileiro com cada vez menos chances de manter o próprio sustento.

“Isso que está acontecendo é bom para o Brasil. Os impostos todos estão subindo por estarem acompanhando o preço da gasolina. O frete sobe, a mercadoria sobe, tudo é influenciado pela gasolina”, relatou.

Para o presidente do Sindicato de Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Roraima (Sindpostos), José Neto, mesmo com o dia da gasolina e diesel sem impostos, celebrado ontem, 24, que gerou um alto nível de vendas de combustível, não houve registros de postos que estejam sem estoque. “Se a falta de estoque já estivesse ocorrendo, eu teria sido comunicado”, afirmou.

Segundo José Neto, uma possível problemática poderia começar a surgir dentro de cinco dias. Entretanto, ele frisou a necessidade da calma da população, por não se tratar de nada que já seja alarmante. “Neste momento, não podemos apavorar a população. Pois se ela fica histérica, o estoque vai acabar mais rápido. Toda cautela é importante, para passarmos por esse período sem nenhuma medida cautelar”, explicou.

Infraero recomenda que passageiros consultem companhias aéreas

Em nota, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) recomendou aos passageiros que procurem suas companhias aéreas para consultar a situação de seus voos. “Aos operadores de aeronaves, a empresa orienta que façam a consulta sobre a disponibilidade de combustível na origem e no destino do voo programado”, citou.

A Infraero também afirmou estar monitorando o abastecimento de querosene de aviação por parte dos fornecedores que atuam nos terminais e que está em contato com órgãos públicos relacionados ao setor aéreo para garantir a chegada dos caminhões com combustível de aviação aos aeroportos administrados pela empresa. O Aeroporto Internacional de Boa Vista segue operando normalmente.

“A Infraero compreende o direito de manifestação, mas entende que os protestos devem ocorrer sem afetar o direito de ir e vir das pessoas, bem como a segurança das operações aeroportuárias.”, finalizou a nota. (P.B)

Fila de caminhões chega a 5 quilômetros

Até o final da manhã de ontem, 24, mais de 350 caminhoneiros aderiram ao bloqueio da BR-174 sul, no KM 483, próximo ao Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafirr). Alguns dos caminhões estão estacionados nas proximidades da via, como entradas de sítios, e o restante dos veículos está enfileirado na lateral da estrada. A fila já passa dos cinco quilômetros de comprimento. 

Os únicos caminhões que podem passar pelo bloqueio são aqueles que carregam produtos para abastecimento de postos de saúde. Carros, ônibus e ambulâncias estão autorizados de trafegar pela rodovia. No período em que a equipe da Folha esteve no local, na manhã de ontem, nenhum policial rodoviário federal acompanhava a manifestação.

Aldo de Souza, caminhoneiro há 25 anos, está participando da fiscalização dos veículos que passam pela BR-174. Ele disse que a averiguação está sendo bem rígida. “No início, aconteceu de estarmos montando uma reunião e um caminhão de carne bovina conseguiu passar. Mas depois desse, ninguém em caminhão com produto ou alimento tá passando”, frisou.

Segundo um dos responsáveis pelo protesto em Roraima, o caminhoneiro Bazilio Diniz, a paralisação irá continuar pelo tempo que for preciso, até que os preços de combustíveis sejam baixados de forma definitiva, podendo ser meses ou até mesmo mais de ano. “Estamos todos morando aqui, e ficaremos o tempo que for necessário. Todo mundo pode ficar aqui mais de mês tranquilamente”, explicou.

Bazilio também afirmou que a paralisação vem em um momento no qual ninguém da categoria consegue mais se sustentar, mesmo com a classe sendo responsável pelo abastecimento de todo o Brasil. “O dinheiro que eu poderia usar para minha família, para o estudo do meu filho, tudo vai para o imposto. Nós estamos ganhando o mesmo valor há tantos anos, mas os impostos só aumentam e comem as economias que poderíamos guardar. Não falamos apenas por nós, mas por todos os brasileiros”, relatou Bazilio.

Segundo os caminhoneiros, alguns assessores de políticos já entrarem em contato com eles por telefone ou passaram pelo local. Até o momento, não houve contato direto entre autoridades e os manifestantes, no Estado. “Políticos fazem promessas, dizem tanta coisa, pois eles só servem para falar bonito. Na prática, não vemos nada ser resolvido. Por isso, não queremos conversar com nenhum, para depois dizer que apoiou a causa e ficar se gabando. Nós só sairemos aqui depois de vermos resultados”, destacou Roberto Souza, caminhoneiro com 30 anos de profissão.

Quanto à alimentação e abastecimento de água aos manifestantes, tudo está sendo feito através da doação de empresários, agricultores e pessoas que passam pela BR-174 e apoiam a causa dos caminhoneiros. Celulares são carregados nos próprios caminhões ou em restaurantes próximos do local.

Em uma tenda montada de forma improvisada, o almoço é preparado em uma churrasqueira, com parte do estoque de carnes doadas. Na tenda, há frutas, óleo e uma caixa d’água cheia de gelo, usada para guardar refrigerantes e água.

Apesar das demandas sérias, o ambiente é de bom humor. Um dos manifestantes, Anderson Oliveira, gritou: “O caminhão da tia Regina vai passar por aqui!”. Tia Regina levou arroz aos caminhoneiros.

PRF – De acordo com a Polícia Rodoviária Federal em Roraima, a instituição não é capaz de dispor de uma equipe 24 horas por dia no local, devido as demandas constantes que precisam ser atendidas. “Os policiais ficaram lá por algumas horas para ficar a par de como a paralisação irá seguir. Depois de tudo ter sido acertado, sem ferir nada no aspecto jurídico, eles foram realocados de volta para nosso posto lá perto”, explicou.

Equipes da PRF vão ao local da manifestação constantemente e continuam negociando junto aos caminhoneiros formas de apaziguar a paralisação. “Na existência de anormalidade no tráfego de veículos, agimos para normalizar a situação, dialogando com manifestantes para manter a livre circulação de veículos e pessoas. Diversas ações também estão sendo desenvolvidas para coibir qualquer espécie de crime, tal como constrangimento ilegal, danos materiais, agressões físicas etc.”, explicou a PRF. (P.B)