A pesquisa “Análise de Processos Judiciais na área de Violência Sexual contra crianças e adolescentes na Comarca de Boa Vista”, realizada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), foi apresentada na manhã desta terça-feira, dia 4, na CIJ (Coordenadoria da Infância e da Juventude) do TJRR (Tribunal de Justiça de Roraima) e busca oferecer uma ferramenta científica que possa ajudar na identificação, prevenção e punição dos casos de violência sexual praticados contra crianças e adolescentes no Estado.
O coordenador da pesquisa, professor doutor da UFRR, Flávio Corsini Lirio, explicou que o principal compromisso dessas informações foi buscar identificar os motivos que levam à prática de violência e, com isso, traçar um perfil detalhado das pessoas que cometem os abusos.
“Tentar entender a dinâmica desse processo, as questões que envolvem esse tipo de violência. O abuso sexual que atinge crianças e adolescentes é um câncer e, para evitar que ele ocorra, precisamos criar e conhecer os mecanismos de prevenção”, afirmou.
Para ele, a sociedade, a família e a escola devem estar mais atentas quanto aos sintomas de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes. Tem que haver a prevenção, trabalhar o tema nas escolas e na família.
“Temos que informar ao adolescente o que é uma violência sexual, desde passar a mão até a relação sexual em si, dizer que isso acontece e que deve procurar ajuda na família”, disse.
Corsini afirmou que Roraima apresenta altos índices de violência contra crianças e adolescentes e um dos pontos que precisa ser avaliado para combater essa violência é identificar os sinais emitidos. Corsini disse que desde 2006 participa do Comitê Estadual de Enfretamento e Combate à Violência Sexual de Criança e Adolescente e a pesquisa apresentada serve para entender a dinâmica e andamento dos processos de abusos de crianças e adolescestes na Polícia e Judiciário.
O coordenador da CIJ, juiz Parima Veras, informou que a pesquisa servirá de suporte para o planejamento das ações, por meio de uma base de dados local. “São informações concretas, de acordo com a nossa realidade. Isso colabora com a elaboração de projetos para a Rede de Proteção de Crianças e Adolescentes. Mais informação significa trabalho mais eficaz”, destacou. (R.R)
80% dos casos ocorrem por alguém próximo da criança
As crianças tem que ser orientadas e protegidas pela família, diz pesquisador (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
A análise da pesquisa aconteceu em 105 processos judiciais, em um universo de 1.600, junto à Vara de Crimes Contra Vulneráveis, no período de 2010 a 2016. Dentre os dados apresentados, foi apontado que a maioria das crianças e adolescentes são de sete a 14 anos, que existe uma decorrência da violência, que existe a ameaça e que os abusadores são do sexo masculino, com idade que varia de 30 a 45 anos.
Pela pesquisa apresentada, 80% dos casos de violência ocorrem por alguém próximo da criança, ou da família ou do ciclo dela, que sejam vizinhos ou amigos da família e que de alguma forma têm influência sobre a criança.
“A pesquisa revela as características dos crimes, do perfil dos abusadores e das crianças violadas, e aponta os mecanismos de prevenção e como acontece a violência, além de sintomas que as crianças e adolescestes apresentam ao serem vítimas”, disse. “Estes conceitos ajudam a enxergar essa aceitação da violência, já que falamos para a sociedade que essa violência acontece e temos que dialogar para poder intervir neste processo com os mecanismos de prevenção”, disse.
Entre os sintomas apresentados depois de sofrer a violência estão a dificuldade de se entrosar na escola (pois é orientada a não se aproximar dos colegas), perda de sono e se tornar agressivo.
“Ao perceber isso, a família tem que se aproximar e saber o que está acontecendo. E a escola é o local onde a criança passa mais tempo e pode apresentar os sintomas de medo e choro, e fica mais fácil detectar”, disse. (R.R)