Hoje, 18 de dezembro, o incêndio do Laboratório de Pesquisas de Química do bloco 3 da Universidade Federal de Roraima (UFRR), fruto de um curto circuito e causando cerca de R$100 mil em prejuízos para a instituição, está completando um ano. Mesmo com o aniversário da tragédia, professores e acadêmicos apontam ainda temerem que um novo episódio do tipo ocorra, uma vez que a instalação elétrica do bloco do laboratório nunca foi trocada, e o laboratório continua do mesmo estado que ficou após ser consumido pelas chamas.
A professora do curso Adriana Flach contou que os problemas na rede elétrica do bloco 3 não eram novidade quando o episódio ocorreu. Além de relatórios que foram mandados para a reitoria da universidade, ela conta que sempre orientou os alunos a tirar todos os equipamentos de pesquisa da tomada após serem usados.
“Nós enviamos diversos relatórios relatando a situação do bloco. Sabemos que a instalação elétrica daqui é problemática, pois casos de curto circuito que danificaram aparelhos já ocorreram duas vezes. Quando o incêndio aconteceu, chegaram a vir inspecionar o local e fazer um diagnóstico da rede elétrica, mas nunca tivemos um retorno”, contou.
Ela afirmou que antes do incêndio, haviam dois espaços que costumavam compor a instalação do Laboratório, de forma complementar. Com o incêndio, todas as pesquisas estão ocorrendo em somente um espaço, considerado pequeno demais para atender as demandas dos acadêmicos.
“Desde que o fogo ocorreu, não estamos mais aceitando alunos nos grupos de pesquisa ou pós-graduação, por pura falta de espaço. Recentemente, conseguimos R$52 mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para ver o que conseguimos recuperar. Não será suficiente para reparar todos os danos, mas ainda é a melhor opção que temos”, explicou.
A acadêmica de química, Edineide Cristina, que está desenvolvendo sua tese de doutorado, conta que está enfrentando uma corrida contra o tempo devido a necessidade de racionalizar espaço e recursos com outros estudantes, o que acaba diminuindo a rapidez de seu desempenho.
“A minha sorte é que eu tinha acabado de terminar minha tese de mestrado quando o incêndio ocorreu, mas isso vem comprometendo meu doutorado. Eu tenho três anos para terminar minha pesquisa, e vem sendo uma correria muito grande com a falta de espaço e equipamentos. Se o laboratório estivesse disponível, eu já estaria em um estágio bem avançado, mas um ano depois eu ainda estou longe de terminar”
O professor de química na UFRR Luiz Antônio, que coordena o laboratório, relembrou o incidente, e comentou que ninguém ganha com a perda de estudos que beneficiam o meio acadêmico e a própria sociedade.
“O fogo começou bem cedo, umas 5 ou 6 da manhã. Me ligaram dizendo que o laboratório estava pegando fogo e que o Corpo de Bombeiros já tinha sido acionado. Equipamentos de R$5 mil foram tomados pelo fogo e o próprio teto, que tem revestimento de PVC, derreteu. Tivemos sorte de salvar alguns equipamentos, como uma geladeira que estava do lado da porta (…) Quando houve o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, eu entendi exatamente o que cada pesquisador sentiu com aquilo. Eu sei o que é você dedicar tanto do seu tempo, ultrapassar as 40 horas de serviço público, sentir que está vivendo em função do aperfeiçoamento de um local que serve como base de conhecimento para a sociedade, e ver tudo isso se perder de uma hora para outra”, dissertou.
UFRR – A Universidade Federal de Roraima (UFRR) afirmou por nota que tem em seu planejamento para 2019 atender prioritariamente à reforma do Laboratório de Pesquisas de Química, considerando a possibilidade de alocação de recursos adequados a este fim. “Em 2018, com um cenário de orçamentos contingenciados para as Universidades, muitas ações foram interrompidas ou não realizadas em virtude da limitação dos recursos para infraestrutura nas instituições”, complementou.
A UFRR salientou que vem mantendo-se vigilante no cuidado com a segurança da comunidade acadêmica, e que dispõe de brigadistas no quadro funcional capacitados em cursos da instituição, no diálogo com o corpo de Bombeiros do estado. “O efetivo tem atendido, por meio da Pró-reitoria de Infraestrutura (PROINFRA/UFRR) às demandas em prédios que apresentam algum tipo de problema para evitar futuros sinistros”, frisou a nota.
Histórico – Desde sua fundação, em 2004, o Laboratório de Pesquisas de Química da Universidade Federal de Roraima (UFRR) já serviu como local para desenvolvimento de 30 artigos científicos, 18 dissertações, uma tese de doutorado, 15 trabalhos de conclusão de curso (TCC) e 25 orientações de iniciação científica.
Oito projetos de pesquisa financiados por órgãos de incentivo acadêmico, incluindo a Eletronorte, ocorreram nos 14 anos do laboratório. Ao todo, o investimento em educação foi de mais de R$1 milhão. Além disso, ele também participou de quatro programas de pós-graduação. Atualmente, existem dois projetos de pesquisa, quatro orientações de teses de doutorado e uma orientação de dissertação estão, de forma custosa, em desenvolvimento. (P.B)