O trânsito em Roraima continua tão violento quanto uma guerra e, quando não mata, mutila. Apesar da queda no número de acidentes nos cinco primeiros meses deste ano, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), ainda é assustadora a quantidade de mutilados, vítimas do trânsito na Capital.
A auxiliar de serviços gerais Lenier Rodrigues, de 50 anos, foi uma das vítimas da violência no trânsito. Em março passado, ela teve parte da perna esquerda amputada, após ser atropelada na Avenida Yandara, a principal da cidade de Rorainópolis, município a 210 quilômetros da Capital pela BR-174, Sul do Estado.
“Vinha de moto na avenida e um carro atravessou a preferencial. Foi imprudência dele. Aí passei 42 dias internada no HGR [Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista]. Amputaram minha perna esquerda e também quebrei o tornozelo da direita. A partir deste acidente, minha vida mudou”, relatou auxiliar, ontem pela manhã, à porta do Núcleo Estadual de Reabilitação Física, no bairro Nova Canaã, zona Oeste da Capital.
Mãe de cinco filhos, dois ainda menores de idade que dependem dela, Lenier fala dos momentos difíceis que está passando por conta do acidente. “Agora não consigo andar e só posso me locomover com esta cadeira de roda. É difícil. De uma hora para outra você ter que mudar de vida, de hábitos. Vivo estressado por não poder andar”, lamentou.
Para terminar o tratamento de fisioterapia, no Núcleo de Reabilitação, a auxiliar, que mora em Rorainópolis, está na casa da filha, no Conjunto Cruviana, no bairro Equatorial, zona Oeste. Das 30 sessões, ela já fez 12. São duas baterias de exercícios por semana.
Mesmo com laudo médico e pericial, sem uma das pernas, Lenier ainda não recebeu o seguro DPVAT, que deve ser pago obrigatoriamente pela seguradora Líder, em todo o País, para as vítimas de acidentes de trânsito. “Sempre pedem documentos. Agora, assinei uma procuração. Espero receber o quanto antes”, cobrou.
A auxiliar também cobrou dos órgãos competentes mais sinalização nas ruas de Rorainópolis. Segundo ela, a falta de placas e de faixas de pedestre contribui para os acidentes de trânsito em Rorainópolis. Lenier também reclamou da falta de campanhas educativas no interior do Estado.
“Fui vítima desta violência e tive que mudar de vida, mudar meus hábitos. Hoje não posso andar. Então é preciso que todos tomem consciência no trânsito. Graças a Deus eu sobrevivi”, frisou. (AJ)
No Centro de Reabilitação, 70% dos pacientes são vítimas do trânsito
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), em nota, informou que 70% dos pacientes atendidos no Núcleo de Reabilitação Física 5 de Outubro (Nerf) foram vítimas de acidentes de trânsito. Apenas no primeiro quadrimestre deste ano foram 9.378 atendimentos. No ano passado, neste mesmo período, foram 8.486.
Os atendimentos, segundo a Sesau, foram realizados em regime ambulatorial, diariamente, por uma equipe multiprofissional formada por fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, médico fisiatra, médico ortopedista, psicóloga e enfermeira.
Em agosto deste ano foram 164 atendimentos de fisioterapia, sendo 51 vítimas de acidente de trânsito. Sobre o quantitativo de amputações, a Sesau informou não ter os dados. De acordo com a diretora do Nerf, Camila Gaviolli, os atendimentos do Nerf também englobam pacientes que necessitam de reabilitação física, como pessoas que perderam o movimento por conta de um AVC, entre outros fatores. (AJ)