O Hospital Geral de Roraima (HGR), principal unidade hospitalar do Estado, voltou a ser alvo de reclamação nesta sexta-feira, 25. Conforme acompanhante de paciente internado no setor de Trauma, uma enfermeira do local teria destratado a irmã dele em razão de problemas com uma sonda.
À FolhaWeb, o administrador de empresas Leandro Araújo, 26 anos, informou que o pai, João Araújo Filho, 66 anos, deu entrada na unidade na quarta-feira passada, 16, após ser vítima de um acidente de trânsito.
O paciente sofreu uma forte pancada na cabeça, fazendo com que necessitasse de cuidados especiais, o que inclui constante medicação e uma sonda para necessidades fisiológicas e de alimentação.
“Quando acorda e o efeito dos remédios passa, ele fica agitado. Com isso, tenta tirar tudo que tem nele e eu tento controlá-lo para que não se machuque. Ontem ele tirou a sonda porque ficou sozinho por alguns instantes. Desde então estão tentando colocar outra no nariz, para que ele consiga comer. Ressalto que desde ontem ele come nada”, relatou.
Ainda segundo os relatos do administrador de empresas, no período desta manha, a irmã dele teve que substituí-lo como acompanhante, ficando de verificar com enfermeiros o horário que seria colocado a nova sonda no paciente, momento em que originou a reclamação de maus tratos.
“Minha irmã foi perguntar para a enfermeira que horas que iam colocar a sonda. A resposta dela foi: ‘Quando eu desocupar, vou ver isso. Porque todos os dias agora tem que ficar colocando sonda nele. A culpa é sua de isso ter acontecido, pois você deveria ficar olhando’. Minha irmã está num estado emocional muito frágil, pois no acidente ela estava pilotando a moto”, relatou.
“Além disso, ontem quando tentaram colocar a sonda, a mesma enfermeira disse que ia colocar a mais grossa ‘só pra ele deixar de ser teimoso’, o que machucou muito o nariz dele, além de ter colocado duas vezes porque colocou errado”, acrescentou Araújo.
Diante da situação, o rapaz disse à reportagem que pretende registrar um Boletim de Ocorrência (B.O) na Polícia e uma denúncia no Ministério Público sobre o caso. Para ele, a direção da unidade precisa tomar uma atitude em relação à conduta adotada pela enfermeira da unidade.
“Meu pai está inconsciente e não responde direito pelos atos. Quando ela deu aquela resposta para minha irmã, ela se exaltou e respondeu no mesmo tom de voz. A enfermeira então chamou o policial dizendo que ia mandar prender por desacato. Um dia antes eu tive que fazer os curativos no meu pai, porque não tinha por lá. Vamos registrar B.O contra a enfermeira e também protocolar uma ação no Ministério Público, pois enquanto isso, meu pai continua aqui sem comer e sendo mal tratado pelos ‘profissionais’ que trabalham lá”, concluiu.
O OUTRO LADO
À FolhaWeb, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) esclareceu que o senhor João Araújo Filho, internado na unidade há nove dias sob os cuidados da clínica médica da unidade, faz uso de sonda nasoentérica (introduzida através do nariz e passada pelo esôfago e estômago até o trato intestinal) e conforme as normas de procedimento, o item deve ser trocado em até 30 trinta dias, uma vez que a troca diária expõe o paciente a risco de infecções e trauma local.
Conforme a Sesau, após apuração preliminar do ocorrido, a direção do Hospital Geral de Roraima (HGR) informou que a enfermeira do plantão orientou o acompanhante a manter vigilância para que a sonda não fosse retirada pelo mesmo, fato que vem ocorrendo pelo quadro de sonolência alternado com agitação leve.
“A direção do HGR ressalta que, em nenhum momento, a enfermeira agiu de forma desrespeitosa com a acompanhante e o paciente, mesmo tendo sido, segundo relatos da servidora, desacatada no exercício de sua função. Ela afirma que apenas frisou que acionaria o policial da unidade para retirada da acompanhante caso a mesma continuasse a agredi-la verbalmente e tumultuar o serviço”, destacou.
Ainda segundo a Secretaria, a Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS) instalada na unidade, juntamente com a coordenação do serviço, conversou com um dos irmãos do paciente e este pediu desculpas pelo fato ocorrido e se comprometeu a conversar com sua família para que situações como essa fossem evitadas.
“A Sesau ressalta que qualquer cidadão tem o direito de reclamar caso seja mal atendido, e caso isto ocorra, os envolvidos serão devidamente responsabilizados, uma vez que a secretaria não compactua com qualquer atitude desrespeitosa adotada por seus servidores. No entanto, a pasta ressalta que o respeito deve ser uma via de mão dupla e que o desacato de funcionário público no exercício da função ou em razão dela se configura como crime. De todo modo, a Sesau lamenta o ocorrido e ressalta que o diálogo é sempre a melhor solução. Para isto, a direção da unidade, a Ouvidoria e a Sesau estão à disposição da população para prestar quaisquer esclarecimentos necessários sobre o atendimento a um paciente”, finalizou.
A reportagem também consultou o Conselho Regional de Enfermagem de Roraima (Coren-RR), que orientou ao denunciante da reportagem que entre em contato com a Ouvidoria da entidade para formalizar a queixa.
“Feito isso, o Conselho vai designar uma equipe para fazer a averiguação dos fatos, para só após isso tomar as medidas cabíveis”, disse.