O Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafirr) continua interditado desde a segunda-feira da semana passada, 25 de julho, e os açougues de Boa Vista já começam a registrar os primeiros sinais de desabastecimento de carne bovina. Além do prejuízo aos consumidores, que poderão ter dificuldades em encontrar o produto, os donos dos comércios que vendem carne já estão prevendo os prejuízos financeiros.
“Se não há abate, não temos carne para vender e o comércio fica prejudicado, assim como os clientes. Neste fim de semana já percebemos queda nas vendas, porque não temos como atender à clientela”, disse o dono de um açougue, Everton Falcão. Segundo ele, a maneira encontrada para continuar com o comércio aberto foi negociar a metade de um boi com um machante, que é um vendedor de gado abatido para os açougues.
“A sorte é que este machante ainda tinha uma banda de boi no estoque e pude negociar, mas não sabemos como será nos próximos dias, porque os produtores estão com os bois todos vivos esperando para o abate”, comentou o comerciante ao dizer que já começou a falta todo tipo de carne, como contrafilé, costela, miúdos e até vísceras de boi, utilizadas para fazer panelada.
A alternativa para manter o abastecimento, segundo o também dono de açougue, Francisco de Assis de Moura, é adquirir o produto do Matadouro do município de Cantá, na região Centro-Leste do Estado. Ele disse nunca ter visto faltar carne na Capital e acredita que não haverá escassez. “Temos a possibilidade de trazer carne do Cantá”, acredita ao informar que o Matadouro de Caracaraí, Centro-Sul do Estado, também é uma alternativa.
Outro proprietário de comércio para venda de carne bovina, que preferiu não se identificar, reforçou a escassez do produto ao mostrar os expositores refrigerados praticamente vazios. Para ele, comprar carne de outros municípios seria a solução se os matadouros das cidades do Interior conseguissem atender à demanda da Capital.
Além disso, o comerciante informou que os machantes que comercializam o produto abatido no Interior só atendem os açougues que já são clientes há mais tempo, ou seja, aqueles que já adquirem a carne mesmo quando não está em falta em Boa Vista.
“Nós que compramos carne abatida no Matadouro da Capital somos atendidos apenas depois dos clientes fixos que os machantes possuem, o que não acontece, porque em época de escassez não sobra nada”, lamentou ao reconhecer a importância de melhorias no Matadouro Público, mas que sejam feitas sem prejuízos à população e aos comerciantes. (A.D)
Mafirr precisa se adequar às regras do SIF, diz superintende Federal de Agricultura
O Superintendente Federal de Agricultura, Plácido Alves, disse que o Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafirr) precisa se adequar às exigências do Serviço de Inspeção Federal (SIF), evitando preocupações quanto à saúde pública e garantindo que os produtos saiam do Matadouro em condições sanitárias adequadas ao consumo.
Ele informou que mesmo os trabalhos para abates de bovinos sendo liberados existem questões de higiene que também foram apontadas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Roraima (SRTE-RR) e pelo Ministério Público do Trabalho em Roraima (MPT 11ª Região), como o contato dos funcionários com sangue de boi, exposição a fezes e outras questões sanitárias que devem ser verificadas.
“Não havendo adequações pode haver uma nova interdição”, disse Alves ao citar problemas também no curral onde os bois esperam para o abate. Informou que não existe uma definição sobre quais procedimentos serão adotados em relação ao Matadouro, pois qualquer atitude tem que ser tomada com cautela para não prejudicar os produtores de gado e os açougues, gerando desabastecimento com consequências diretas aos consumidores. Porém frisou que a saúde pública é prioridade.
Alves disse ainda que será enviado um relatório nos próximos dias para a Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima) acerca dos problemas ligados a questões estruturais e procedimentos, o que envolve treinamento de pessoal, falta de equipamentos e condições de higiene. “São quase os mesmos apontamentos que o Ministério do Trabalho fez. Há algumas situações diferentes, mas são correlacionadas”, frisou.
Para garantir melhores condições do Mafirr, Alves lembrou que foi realizado um plano de ação há aproximadamente um ano juntamente com a Codesaima. “Mas não está havendo o cumprimento das normas”, disse.
O Mafirr foi interditado pela SRTE-RR no dia 25 do mês passado por irregularidades referentes às caldeiras e aos riscos à saúde e à proteção dos servidores. A inspeção identificou vazamento de amônia, improvisos em relação ao sistema de refrigeração, além de funcionários trabalhando com botas encharcadas de sangue e exposição a fezes de gado.
O MPT 11ª Região também adotou providência com uma ação civil pública ajuizada com pedido de liminar na Justiça do Trabalho por conta de diversas irregularidades trabalhistas identificadas no Matadouro. (A.D)
Codesaima diz que cumpre determinações, mas não há previsão para reinício dos abates
Por meio de nota, a Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima) informou que até o momento não há previsão de reinício dos abates no Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafirr), mas as determinações impostas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Roraima (SRTR-RR) e pelo Ministério Público do Trabalho em Roraima (MPT 11ª Região) continuam sendo cumpridas.
Diz que a Ação Civil Pública do MPT 11ª Região aponta diversas situações que supostamente comprometem as condições dos trabalhadores do Mafirr. No entanto, o presidente da Codesaima, Cícero Batista, informou que todas as alegações que constam na ação são as mesmas situações elencadas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Roraima (SRTE-RR), que ocasionaram a interdição na semana passada.
Entre os problemas citados estão as caldeiras, que, segundo a ação, “apresentava risco de explosão”. Mesmo contestando a possibilidade de haver o desastre previsto, a nota informa que a Codesaima mantém, desde a interdição do Mafirr, dois engenheiros mecânicos fazendo um trabalho de recuperação total desses equipamentos.
“Os engenheiros Antônio Uchôa e Johnyson Pereira estão fazendo um minucioso trabalho de limpeza e troca de peças nos equipamentos. Johnyson conta que já fizeram a limpeza geral das caldeiras, calibração; calibração das válvulas e instrumentos de medição de pressão, assim como inspeção da estrutura das caldeiras e emissão de laudos que atestam que não há risco de explosão”, informou.
Sobre o setor de refrigeração, onde fica a tubulação do gás de amônia, a nota esclarece que foram feitas a detecção e a eliminação dos possíveis vazamentos de gás; dando notoriedade que o sistema funciona adequadamente. “Mesmo assim, foi aberto o processo de compra de sistema de detecção precoce de vazamento de gás amônia e de sistema de segurança dos vasos de pressão de gás (sprinklers e lava-olhos)”, afirma.
A Codesaima esclarece que, além disso, as caldeiras já estão sendo desmontadas para realização dos testes de pressão. Também está sendo elaborada a documentação obrigatória solicitada pelos auditores.
Com relação à área abate, a Codesaima já está adquirindo novos Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), bem como já concluiu a instalação das proteções nas áreas indicadas pelos fiscais trabalhistas. “A Companhia está providenciando aquisição de novas vestes com material impermeável. Algumas peças, que atendem as determinações da SRTE, já foram confeccionadas pelas costureiras do Mafirr”, informou.
A Codesaima esclarece ainda que as condições de trabalho no Matadouro são adequadas e estão sendo adotadas todas as providências determinadas pelos órgãos fiscalizadores, visando a suspensão da interdição do matadouro o mais rápido possível. (A.D)