Cotidiano

Aderr inspeciona matadouros clandestinos

Gestores dos municípios estão sendo chamados a discutir saída para acabar com abates clandestinos e evitar riscos à saúde humana

 

Depois de encerrar os prazos para que os municípios do interior se adequassem às normas sanitárias e construção de abatedouros de animais, a Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr) começou a reunir gestores e pessoas que trabalham no ramo de abate e venda de carne nos municípios do interior do Estado com a finalidade de tentar encontrar uma solução para o fim do abate em locais sem inspeção e que podem levar riscos à saúde da população. Até o momento, somente as cidades de Cantá (Centro-Leste do Estado), Caracaraí (Centro-Sul) e Boa Vista possuem abatedouros legalizados no Estado.   
Segundo o diretor de Inspeção e Defesa Animal da Aderr, o médico veterinário Vicente Barreto, a ação está sendo feita antes do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) entrar com ações mais efetivas. Para isso, ele afirmou que foi enviado contato para as prefeituras e câmaras de vereadores dos municípios, colocando a Aderr à disposição para reunir os envolvidos e passar as informações técnicas necessárias, além de solicitar que adotem medidas de adequações sanitárias nos abatedouros de animais de seus municípios. 
Segundo Barreto, neste primeiro momento, apenas o Município de Iracema (Centro-Sul) se manifestou pela resolução do problema. “Entre todos os municípios notificados, apenas Iracema se prontificou a nos receber e tentar resolver o problema numa reunião realizada na terça-feira com o poder público, os açougueiros e pessoas envolvidas no abate de animais que atuam ainda de forma artesanal e sem um local adequado para colocar a carne”, disse.
Como não houve respostas das outras prefeituras, Barreto disse que a Aderr tem tomado a iniciativa de ir até os municípios para buscar entendimento com os gestores e pessoas envolvidas com o abate de animais. “A Aderr está indo aos municípios inspecionar os abatedouros e provocando a reunião com os prefeitos, vereadores e a classe de açougueiros para que possam ver de que forma pode ser feita essa adequação e que seja entendida por todos. Até porque, além de ser questão de saúde pública, esse processo faz parte do avanço do status de livre de aftosa com vacinação e os abatedouros também são critérios desse processo”, frisou.
Para os municípios que não apresentarem matadouros com condições mínimas de higiene, dentro do que preconiza as normas sanitárias, Barreto informou que serão notificadas as vigilâncias sanitárias do município, caso exista, e do Estado para que tomem as medidas necessárias. “Aderr vai usar o que prescreve a lei e acionar as vigilâncias sanitárias com interdição, apreensão de produtos, multas e até fechamento do local”, disse. “No caso de apreensão, o produto será incinerado ou tornado impróprio para o consumo com o uso de creolina ou outro produto”.
MEDIDAS – Vicente Barreto informou que da reunião de Iracema houve um encaminhamento para tentar resolver a questão, mesmo que de forma emergencial, até que se construa um local apropriado para o abate, mas que venha atender à legislação com venda de carne com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). “No início, houve uma certa resistência quanto ao prazo para se adequarem. Vamos ver a possibilidade de um local que já está servindo de abate no município para ter o acompanhamento de um médico veterinário”, disse. “Ou, então, existe a possibilidade de os açougueiros comprarem carne resfriada do matadouro de Caracaraí ou de Boa Vista, mas ainda estamos definindo a melhor maneira de atender à população de Iracema”, frisou.   
Açougueiros de Iracema vão definir local para fazer abate   O diretor de Inspeção e Defesa Animal da Aderr, Vicente Barreto, informou que, ao final do encontro no Município de Iracema, ficou definido que os açougueiros iriam se reunir e procurar um local que possa oferecer as mínimas condições higiênicas de abate e para que a inspeção estadual possa avaliar e conceder liberação sob vistoria técnica. “Também se chegou a cogitar um abatedouro comunitário entre Mucajaí e Iracema, entre outras alternativas, de modo que os açougueiros possam se adequar à questão sanitária”, frisou.
Embora não tenha adentrado a detalhes, Barreto lembrou que alguns municípios, entre eles Amajari (Norte do Estado) e Alto Alegre (Centro-Oeste), foram contemplados com recursos federais para a construção de matadouros que atenderiam às normas sanitárias. Porém, em algumas situações, os prédios foram construídos  em locais inapropriados e sem licença ambiental, o que resultou em interdição dos locais. “Houve uma série de impedimentos para o funcionamento que até agora não teve uma solução”, disse.  
Para a representante do Ministério da Agricultura e chefe de Inspeção da Área de Produto Animal da Secretaria Federal da Agricultura em Roraima, Teresinha Brandão, o Estado apresenta um alto índice de matadouros clandestinos. “Isso afeta o cenário nacional”, frisou ao complementar que é importante a ação conjunta com a Aderr na realização de audiências nos municípios para elaborarem, juntos, o projeto que terá condições de proporcionar à população o acesso a uma carne com segurança.
Ao ressaltar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem se preocupado em coibir o abate de animais em lugares sem higiene e expostos à sujeira, ela destacou a importância de saber a procedência dos produtos no momento de adquiri-los. “Além dos riscos de contaminação durante o processo de abate e transporte, o armazenamento e o preparo deste alimento podem fazer a diferença para a saúde do consumidor”, frisou.
O risco maior é a toxinfecção alimentar, que pode levar à morte. Mas existem outras doenças que são transmitidas dos animais aos seres humanos, causando uma série de problemas. Por isso, Teresinha Brandão chama atenção para a importância de o consumidor comprar produto bem embalado, refrigerado e, principalmente, com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, que atesta a qualidade, bem como do Organismo Estadual (SIE) ou Municipal (SIM) correspondente. (R.R)