A violência que cresce a cada dia em Roraima não faz distinções. De folga ou a trabalho, policiais civis, militares, agentes penitenciários e socioeducativos também são alvos do crime. Os agentes de segurança no Estado têm, cada vez mais, se tornado vítimas daquilo que tentam conter: a ascensão de facções do crime organizado.
Segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), desde 2015, ao menos sete agentes de segurança, entre policiais civis, militares e agentes penitenciários foram mortos em Roraima. A estatística, no entanto, não registra as inúmeras tentativas fracassadas de atentados contra policiais, resultando em sequelas nos feridos.
A sensação de insegurança é constante na vida dos agentes. Para a Polícia, todas as mortes e ameaças envolvendo agentes de segurança em Roraima tem envolvimento direto das organizações criminosas que atuam dentro e fora das unidades prisionais do Estado. “As facções se instalaram no Estado e por conta disso passamos a viver em uma guerra”, relatou o chefe da Divisão de Inteligência e Captura (Dicap), da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), Roney Cruz.
Na última semana, mais dois atentados contra policiais e familiares foram registrados em Boa Vista. No dia 14 de julho, o carro de um policial militar foi alvejado com três tiros quando ele chegava em casa, na área de interesse social Caetano Filho, o “Beiral”, no Centro. O PM não foi ferido. Na noite de quinta-feira, 20, a esposa e a filha de um policial civil sofreram um sequestro relâmpago após serem rendidas por bandidos armados, que queriam levar o veículo do agente. Elas conseguiram escapar após pularem do carro.
A realidade mudou a rotina dos agentes de segurança. Ameaçados de morte pelo crime organizado, os policiais são orientados a ficar cada vez mais atentos a possíveis ataques, e ações como redobrar a segurança ao saírem do trabalho, e dentro das próprias casas se tornaram prioridade.
“É visível que tivemos que mudar nossas rotinas depois das mortes dos colegas. Os policiais militares, civis e agentes penitenciários têm se privado de sair quando não estão a trabalho e adotado todos os procedimentos de segurança também com seus familiares”, disse o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Roraima (Sindap), Lindomar Sobrinho. “Não há mais espaço para vaidades. Ou nos unimos, ou morreremos cada dia mais”, reforçou o chefe da Dicap.
Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Roraima, José Nilton, há muitas carências para fazer frente a elevada onda de criminalidade. “Veja que, a audiência de custódia é um fator recente que ridiculariza as forças de segurança. Trabalhamos duro pra prender os marginais e estes são soltos no dia seguinte”, criticou o policial.
Ele destacou a necessidade de mais investimentos do Poder Público para o combate ao crime organizado. “É necessário mais planejamento por parte dos órgãos de segurança. Ponto importantíssimo é buscar impedir a entrada de aparelhos celulares e bloqueio do sinal desses aparelhos. Até pouco mais de uma década havia orelhão nas unidades prisionais. Só pra didaticamente ilustrar a evolução do cenário”, frisou.
(L.G.C)
Em oito meses, foram cinco mortes e inúmeras ameaças
A onda de crimes contra agentes de segurança aumentou consideravelmente desde novembro do ano passado. De lá para cá, foram cinco mortes registradas e inúmeras ameaças contra policiais e agentes que atuam em unidades prisionais.
A última morte foi registrada no dia 10 deste mês, quando um policial da reserva foi assassinado a facadas em uma residência no bairro Nova Cidade, zona oeste de Boa Vista, próximo à Escola Estadual Rittler de Lucena. A vítima foi identificada como o sargento Silva Cesário.
No dia 20 de abril, o agente penitenciário Alvino Mesquita foi baleado na cabeça dentro da própria casa, na frente dos filhos e da esposa, no bairro senador Hélio Campos, na zona oeste. Segundo a Polícia Civil, os autores do crime são integrantes de facção criminosa.
Em 14 de dezembro de 2016, o policial civil Joseilton Macedo Menezes foi morto ao levar sete tiros disparados por criminosos em uma motocicleta. O crime ocorreu no bairro Silvio Leite, também na zona oeste.
No dia 17 de novembro do ano passado, o soldado da Polícia Militar Tadeu Martins Lima de Oliveira, de 41 anos, morreu após ser baleado na esquina das ruas Áureo Cruz e Professor Macedo, no bairro Buritis, zona oeste da Capital.
Por volta das 15h do dia 15 de novembro de 2016, o policial militar Arnaldo Sena, que tirava plantão na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), foi alvejado com disparos dentro da própria casa, localizada na Rua Piraíba, bairro Santa Teresa, zona oeste da Capital. (L.G.C)
Secretário fala em reaparelhar segurança pública para combater o crime organizado
Em entrevista à Folha, o secretário estadual de Segurança Pública, delegado Francisco Araújo, afirmou que nem todas as mortes e crimes cometidos contra policiais e agentes do sistema de segurança têm ligação com facção criminosa. “Sabemos que, no Brasil como um todo, o crime organizado cresceu e odeia a polícia, mas nem todas as ocorrências têm essa ligação”, disse.
Araújo reconheceu que o Sistema de Segurança Pública Estadual não está bem, mas ressaltou que o Governo está tomando medidas para melhorar a situação. “Já anunciamos o concurso para 400 policiais civis para todas as carreiras, além dos concursos para agentes penitenciários, com mais 300 vagas, e policiais militares, que terão outras 300 vagas”, informou.
O secretário afirmou que a necessidade de mudança na rotina dos agentes de segurança foi necessária. “Depois dos eventos que ocorreram, quem é policial passou a se prevenir mais, se cuidar e andar em estado de alerta porque sabe que a criminalidade está grande. O que fazemos é orientar para que tenham cuidado e vamos tentar o máximo que pudermos reaparelhar a polícia, aumentar efetivo e reestruturar a segurança pública”, destacou. (L.G.C)