Cotidiano

Agressões ao meio ambiente ameaçam os sete igarapés urbanos de Boa Vista

Igarapé do Caranã é um dos mais prejudicados pela ação dos moradores de 11 bairros que existem ao longo de seu leito

A concentração de lixo e resíduos líquidos continua sendo um problema frequente nos sete igarapés na área urbana de Boa Vista. A informação é do professor e especialista em recursos hídricos, Wladimir Souza, da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Segundo ele, o igarapé do Caranã, que compreende quase 10 km de extensão e circunda por mais de 11 bairros da cidade, na zona Oeste, é um dos mais prejudicados.

O motivo da degradação é o povoamento às margens do igarapé, após o surgimento de novas localidades consideradas como bairros pela própria população local, como é o caso do conjunto Cruviana. “Quando iniciamos o mapeamento do igarapé do Caranã, em 2005, o ‘bairro Cruviana’ estava nascendo. Ao longo desses últimos anos, a população nessa região foi crescendo. Naquela época, encontrávamos apenas chácaras na margem do Caranã. Existiam vegetação e pouco movimento. Hoje a situação mudou”, explicou o professor.

Os sete igarapés localizados em área urbana são: Caranã, Grande, Frasco, Pricumã, Mirandinha, Caxangá e Paca. A mudança citada pelo especialista inclui o crescimento populacional desordenado, construção de condomínios e estruturas erguidas às margens do igarapé. Com isso, a vegetação foi extinta, o lixo passou a ser despejado com mais frequência nas águas e o impacto se tornou evidente.

A microbacia hidrográfica do igarapé Caranã faz parte da bacia do baixo Rio Cauamé, onde se encontram as praias mais frequentadas da cidade, como é o caso da Polar e Caçari, zona Leste de Boa Vista, todos afluentes do Rio Branco, que abastece boa parte da Capital com água potável.

“Depois da ponte do Cauamé, localizada na BR-174, existe a foz do Caranã, onde há um balneário que já foi muito movimentado há alguns anos com festejos. Com a degradação nesses novos ‘bairros’ e a população vivendo nas proximidades, a poluição começou a percorrer todo o trajeto do igarapé. Dependendo da época do ano, é possível ver inclusive a água mais escura por conta de esgotos”, disse.

O mapeamento foi finalizado em 2010 e algumas soluções rápidas e básicas foram identificadas. “Uma das soluções é manter a mata ciliar, principalmente os buritizais e as plantas, porque têm o poder de filtrar a água.

É um verdadeiro purificador natural, podemos falar que mais de 70% das impurezas essa mata ciliar consegue filtrar. Quando há desmatamento, perde-se essa proteção. A sujeira tende a aumentar”, informou.

Além disso, a mata ciliar é importante para evitar a proliferação de mosquitos transmissores de doença. “Quando se tem o igarapé preservado, crises de doenças, como a dengue e febre amarela, por exemplo, poderiam ter sido evitadas, porque os peixes comem as larvas. Quando você canaliza o igarapé, os peixes desaparecem. Por isso, os mosquitos voltam a aparecer e as larvas se reproduzem com mais facilidade.

Constatamos durante as pesquisas que em bairros em torno da parte do igarapé canalizado, o índice de doenças transmitidas por mosquito eram bem maiores”, disse.

O professor ressaltou que a preservação dos igarapés de Boa Vista deve ser realizada por um conjunto, incluindo a sociedade e o poder público. “São todos os órgãos juntos, não é só município. Cada um precisa fazer a sua parte. A própria prefeitura já tem feito bastante para evitar a degradação, poderia ser bem pior do que já é, mas ainda falta fazer mais”, destacou.

Prefeitura afirma que realiza monitoramento de igarapés

 Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente (SPMA) dispõe de equipe de inspetores do meio ambiente que realizam o  monitoramento das áreas de preservação dos igarapés na área urbana cinco dias por semana, mas que não é suficiente para coibir os ilícitos em 100% dos casos.

Afirmou ainda que a SPMA monitora, autua e realiza demolições de construções nos limites das áreas de preservação quando não há morador. Em relação aos resíduos líquidos despejados nos igarapés, o órgão explicou que em alguns casos as pessoas que canalizam seu esgoto para o curso de água próximo fazem por falta de cultura e educação, pois na rua há o esgoto sanitário.

Sobre a vegetação às margens dos igarapés, para ajudar na preservação, a prefeitura explicou que, através do Departamento de Educação Ambiental, realiza ações de plantio e recomposição da mata ciliar dos igarapés. “Isso já ocorreu no igarapé Caranã, contudo, há locais onde há moradias a cinco metros do leito do igarapé, não sendo possível a recomposição da mata ciliar. Também é realizado o plantio de árvores como medida compensação para os reeducandos”, afirmou a nota.  

Em relação aos novos ‘”bairros” e o aumento da densidade populacional, o Município explicou que, nos loteamentos licenciados pela SPMA, já está inclusa a implantação da destinação dos esgotos sanitário e pluvial, arruamentos com pavimentação asfáltica e meio fio. “Isso pode ser observado nos bairros Dr. Airton Rocha e Cruviana, por exemplo. Os novos loteamentos próximos de recursos hídricos são autorizados dentro dos critérios do Código Florestal 12.651/2012, que define os limites das áreas de preservação permanentes de todos os recursos hídricos urbanos e rurais”, frisou.

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