Há muito mais em comum entre políticos e autoridades locais do que se possa parecer: boa parte deles veste roupas da alfaiataria do empresário Floresmares Pereira da Silva, de 47 anos. Conhecido como Goiano, o alfaiate deixou seu Estado natal, no Centro-Oeste, para se tornar, em Roraima, unanimidade no setor de confecções de trajes.
Mas, bem antes de se tornar reconhecido na área, o empreendedor batalhou desde cedo. Foi com apenas 17 anos, em 1987, no município de Montes Claros, em Goiás, numa pequena alfaiataria montada de forma improvisada, que ele iniciou a carreira na arte que consiste na criação de roupas masculinas, como ternos, costumes, calças e coletes, tudo feito de forma artesanal ou sob medida.
Sete anos depois, uma crise financeira na região Central do Brasil o obrigou a fechar as portas e tomar novos rumos na profissão. “Tinha uma pequena alfaiataria e era iniciante na área de costura. Veio uma crise na época de 1994 e acabei falindo. De lá fui para o Mato Grosso, onde já havia trabalhado alguns anos antes com outros alfaiates”, disse.
Mais experiente no ramo, o empresário ouviu da boca de amigos que um Estado da região Norte passava por um momento de amplo desenvolvimento econômico. Era Roraima, onde, em 1996, Goiano decidiu apostar todas as fichas e, com a ajuda de um colega de profissão, tentou dar a volta por cima.
“Vim parar aqui em Roraima depois de ter quebrado financeiramente. Depois disso me perguntaram se não queria vir para Boa Vista, e tinha um amigo alfaiate que morava aqui. Ele bancou minha passagem para chegar até aqui. Chegando a Roraima, ele me deu local para ficar e trabalhamos juntos por 13 anos”, disse.
A expansão de vários setores, inclusive o de confecções de roupas, fez o empresário enxergar a oportunidade de abrir um novo negócio. “Cheguei aqui em outubro de 1996. Achei um Estado ótimo, que caiu do céu naquele momento, pois estava em franca expansão para o mercado. Acabei constituindo família, com esposa e três filhos”, relembrou.
Pouco mais de 10 anos depois, o alfaiate já tinha uma clientela formada e inaugurou uma alfaiataria na Rua Araújo Filho, no Centro. “A minha loja antiga era só alfaiataria mesmo. Eu nunca achei que iria lidar com muita gente e que haveria transtornos, mas fiquei surpreso porque deu certo. Eu fazia de tudo, ajustava e confeccionava os ternos, desde o pequeno conserto até o mais difícil”. (L.G.C)
Alta demanda e cobranças dos clientes fizeram empresário expandir o negócio
Com o passar do tempo, o perfil dos consumidores do empresário também mudou. A maioria das encomendas atuais de ternos é feita por empresários, políticos e autoridades dos poderes constituídos pertencentes à classe média alta.
Com a clientela mais selecionada, tornou-se indispensável a necessidade da expansão do negócio, e a consequente abertura de uma nova alfaiataria, na Avenida Benjanim Constant, no Centro, onde Goiano trabalha atualmente com o filho e o amigo com quem faz parceria profissional há 20 anos, desde que chegou a Roraima.
“Trabalho com todos os níveis de público e sempre me cobravam para melhorar o meu espaço. Resolvi abrir a loja e fomos ampliando aos poucos. Acho que hoje somos a única alfaiataria aonde a pessoa chega e sai toda vestida”, afirmou.
Mesmo com o crescimento no negócio, o empresário optou por fechar parcerias com grandes marcas de fornecedores, onde compra as peças e as revende com opções de ajustes aos consumidores. “Eu encomendo roupas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Faço consertos em geral, inclusive prestamos serviços para várias lojas que vendem e nos indicam para ajustar as peças. Vendo atualmente cerca de 25 ternos por mês”, destacou. (L.G.C)
Com profissão em declínio, alfaiate teve que se renovar
Apesar de ser uma das mais tradicionais do país, a profissão de alfaiate está quase extinta. A classe, que antigamente tinham uma vasta clientela, sofre hoje com a escassez dos consumidores e com a difícil tarefa de conseguir mão de obra nova e especializada.
Uma das principais causas dessa crise é a concorrência com as grandes confecções e a correria do dia a dia, que faz com que os consumidores prefiram comprar as roupas já prontas nas lojas.
Pensando nisso, Goiano decidiu que, além de consertos, deveria começar a vender ternos completos e, assim, acabou unindo o útil ao agradável e evitou uma nova crise financeira nos negócios. “A loja vende de tudo e esse foi o diferencial. Decidi oferecer os produtos para que a pessoa saia pronta para qualquer evento, e não trabalhar apenas os consertos das roupas”, disse.
Para ele, mesmo com a carência de mão de obra especializada, Roraima é um Estado que não para de crescer. “E quem vem para cá visando investimento e crescimento de mercado se dá bem, porque está em larga expansão de todos os setores. O melhor empreendedor é aquele que já quebrou uma vez, porque sabe onde vai pisar e não vai cometer os mesmos erros”, frisou.
O empresário contou que não se vê em outra profissão, inclusive fez do filho o seu sucessor. “A tendência é passar para ele ficar na profissão. Ele já é profissional para ficar no mercado, pois é uma profissão que está se extinguindo por conta da falta de renovação. É a única profissão em que você chega a qualquer lugar e não existe desemprego. Se você fizer o serviço direito, o cliente vai dizer para os outros que você é bom, e vai querer voltar”, destacou. (L.G.C)