Cotidiano

Alunos da rede estadual dialogam com governadora sobre greve

Comissão formada por dez estudantes indígenas e não indígenas se reuniu com governadora, que pediu que alunos ‘não cedam a manipulações’

Uma comissão de dez estudantes de escolas da rede estadual de ensino, que acompanham a greve do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima (Sinter), reuniu-se no final da tarde de ontem com a governadora Suely Campos (PP) no Palácio Senador Hélio Campos. A comissão incluía alunos de escolas de Boa Vista e de escolas indígenas dos municípios de Amajari e Cantá. Também participou da reunião um representante da União Roraimense dos Estudantes (Ures).

Segundo o Governo do Estado e os próprios estudantes, a governadora ouviu as reclamações e pediu aos alunos tempo para que os problemas da Educação possam ser resolvidos, argumentando que, ao assumir a gestão, deparou-se com dívidas e abandono da pasta. A secretária estadual de Educação, Selma Mulinari, não esteve presente na reunião.

Uma das estudantes que participaram da conversa, aluna da Escola Carlo Casadio, contou à reportagem que os estudantes apoiam os professores em greve. “Ela [governadora] nos pediu paciência e disse que os professores influenciaram os alunos a vir à manifestação. Mas acreditamos que a situação não é assim e vamos continuar reivindicando o que é de direito nosso”, disse.

Outra aluna, que também esteve na reunião, acredita que a greve é legal e concorda com as manifestações dos professores. “Eu estava lá. Em determinado momento, disseram que greve é ilegal e que deveríamos voltar para as salas de aula. Mas, antes de tudo, como aluna, acho que é falta de respeito conosco. Isso sem mencionar a situação dos professores”, afirmou.

Também esteve presente na ocasião o diretor de comunicação da URES, Lúcio Manoel Ferreira, que afirmou que o encontro não serviu como uma espécie de negociação. “Escutamos o que disseram, mas nosso posicionamento continua o mesmo de antes”, frisou.

Sobre o fato, o Governo do Estado reafirmou, em comunicado oficial, que a atual gestão sempre esteve aberta ao diálogo com o Sinter e reuniu-se quatro vezes para dialogar, classificando a atitude do sindicato em manter a greve como ‘intransigente’. Mencionou ainda que dos 39 pontos da pauta de reivindicações, a gestão concordou em 37.

Ainda segundo a nota, na análise da governadora, “a intransigência do Sinter indica que a greve tem um viés político”. Durante conversa com os estudantes, a governadora teria dito que os jovens não podem ‘anarquizar’ o Estado: “Vocês são jovens e devem fazer suas reivindicações, mas sem ceder a manipulações. Radicalismo não é bom para ninguém. Peço que vocês me ajudem a sensibilizar os professores a voltarem para as salas de aula, pois os maiores prejudicados são vocês”, teria dito.

Lideranças indígenas questionam reunião de alunos com governadora

Manifestantes indígenas relataram à reportagem que não acharam correta a iniciativa do Governo do Estado em fazer reunião com três alunas de escolas estaduais indígenas. O membro da Organização de Professores Indígenas de Roraima (Opir), Mário Belarmino, acredita que o Governo desrespeitou as lideranças indígenas e a comissão organizadora do movimento ao convocar três alunas de comunidades indígenas para dialogar.

“Estamos para reivindicar algo que não está certo em nossas comunidades. Coagir nossos alunos foi uma atitude irresponsável. Durante o fato, solicitamos nossa entrada, que não nos foi dada. A mãe de uma delas tentou entrar, mas foi impedida”, disse.

A professora Hellen Tenente, da comunidade do Araçá, no município de Amajari, explicou que sua filha, Tahary Barros Tenente, e sua sobrinha, que estiveram presentes durante o diálogo, também participam do movimento de reivindicação, assim como os demais indígenas presentes na Praça do Centro Cívico.

Ela acredita que o fato de as duas serem menores de idade não impede de que se manifestem por melhorias na Educação indígena. “Acho que é um abuso, pois nós temos uma comissão de indígenas para esses tipos de situação. Se o Governo articulou isso, poderia muito bem ter falado primeiro com as lideranças. Mas não houve nada disso”, frisou.