Cotidiano

Alunos intercambistas relatam experiências de morar em BV

Desafios vão desde o calor de Boa Vista à dificuldade de encontrar um apartamento mobiliado para alugar

Recém-chegados a Roraima, os alunos intercambistas da Universidade Federal de Roraima (UFRR) já têm impressões sobre a cultura, o clima e a organização de Boa Vista. A principal queixa é quanto ao calor da região norte. Por outro lado, a qualidade de vida e organização da cidade foram elogiados. Sejam alunos de graduação ou pós-graduação, todos buscam conhecimento para ajudar seus lugares de origem.
O jovem colombiano Neider Devia, que estuda Comércio Exterior, disse que Boa Vista é muito tranquila. “Aqui você não vê muito tráfego e tudo é razoavelmente perto. Só o clima que é muito quente!” disse. Ele explicou que a oportunidade de conhecer o português e a região amazônica lhe parecem inestimáveis. “Espero passar o conhecimento que conseguir aqui para os meus professores, colaborando com o desenvolvimento da minha região”.
Neider volta para Tolima, departamento da Colômbia, ainda em julho deste ano. “Faltam apenas dois semestres para eu me formar. Estou verificando a opção de voltar ao Brasil para fazer uma especialização na minha área”, agregou.
O estudante costa-marfinês Yannick Balou chegou ao Brasil há duas semanas. Ele veio à UFRR para estudar Letras, com ênfase nas línguas portuguesa e inglesa. “Eu amo o Brasil!”, contou. A única reclamação do estudante, comum a quase todos os outros que conversaram com a reportagem da Folha, é o calor. “Aqui é muito quente, faz muito calor! Juro que minha cidade, Abidjã, não é tão quente assim, o que me pareceu muito irônico”.
Yannick explicou que na Costa do Marfim, país do Oeste africano, é comum chover muito. “Gostei muito do que vi até agora em Boa Vista. A cidade é muito bonita, tem poucas pessoas e é mais organizada que Abidjã. Mas sei que assim que terminar, volto. Meu coração é de lá”, afirmou, bem humorado.
Jonathan Diyoyo Katako, que veio do Congo, região da África central, afirmou ter feito um mês de língua portuguesa antes de chegar a Roraima. O estudante disse que pensa aplicar em seu país o conhecimento que irá adquirir no curso de Geologia da UFRR. “Há muitos estrangeiros se aproveitando das riquezas materiais do Congo. A maioria opera de forma ilegal”, explicou. “Posso dizer que a história do meu continente é muito parecida com a da América Latina. Países que enriqueceram às custas do sangue dos nossos povos”, observou Jonathan, que também é um grande apreciador da cultura heterogênea do Brasil. “Quero enriquecer minha cultura. Aqui parece ser o lugar ideal”, disse.
Davies Nzinga Mwangangi, de Nairóbi, capital do Quênia, contou que veio cursar Engenharia Civil na UFRR. O estudante, que está aprendendo português, explicou que o País era um dos últimos que esperava conhecer agora, apesar de já estar gostando. “O Brasil é um lugar incrível, com pessoas lindas. Você pode sentir isso na atmosfera. A maioria das pessoas gosta de saber sobre você, então você troca muita coisa boa. Estou tendo uma enorme experiência”. Davies afirmou que o Quênia é quente, mas Roraima, por ter mais tempo de incidência solar, consegue ser ainda mais. “Estamos no meio dos trópicos. Todos aqui têm ar-condicionado!”, exclamou.
O hondurenho Milton Murcia veio para fazer seu mestrado em Letras pelo PAEC. “Sempre quis conhecer o Brasil!”, afirmou. Ele apontou ainda as três coisas que o atraíram: “Os brasileiros em si. Depois, o idioma, que se parece um pouco com o espanhol e as pessoas de Honduras gostam. Eu adoro como soa. E como sou amante da natureza, acho o Brasil muito importante nesse aspecto”, relatou.
Ele disse que foi escolhido pela universidade. “Eu me inscrevi em outra instituição, mas me selecionaram para cá. Ainda assim, creio que é uma experiência incrível!”. O novo mestrando disse ainda que a comida lhe pareceu estranha nos primeiros dias, mas agora já está mais adaptado. “Quero levar farinha para meus amigos para ver o que dizem”.
O clima, porém, é um problema para ele. “A única coisa que eu não gosto é o calor. Mas dizem que vai amenizar nos próximos meses. Num geral, a cidade é muito organizada e as pessoas parecem ter uma boa qualidade de vida. Aqui elas têm seu espaço. Nas metrópoles, as pessoas já não têm isso”, comentou.
A também mestranda Liliana Pizango contou ter gostado muito de Roraima. Liliana, que é obstetra, contou à reportagem que gosta do calor: “Já sabia desta peculiaridade, que não é do agrado da maioria”.
O objetivo de Liliana na UFRR é estudar e aproveitar, ao máximo, os dois anos de mestrado. “Quero conhecer de forma profunda o sistema de saúde brasileiro. A nível sul-americano, pelo menos, o Brasil tem os melhores indicadores de saúde. Espero observar a metodologia e aplicá-la na minha região. Volto a Lima, no Peru, nas férias de dezembro”, disse.
A geógrafa equatoriana Shirley Criollo explicou que havia tentado, a princípio, aplicar seu mestrado para a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. “Surpreendentemente, eles me escolheram. Então, agora, meu objetivo está aqui”. Para Shirley, o processo de mudança foi complicado. “Não conseguimos encontrar apartamentos mobiliados e foi difícil me acostumar com o calor da cidade. Quito, a capital do meu país, é fria. A comida é nova e tenho muitas saudades da família”.
Ela disse que esta é a primeira vez que ela sai de casa por tanto tempo. “Ainda assim, é uma oportunidade para crescer como pessoa e como profissional. Penso que levarei do Brasil a qualidade das pessoas”, acrescentou. Shirley atualmente divide residência com outras duas colegas de mestrado, Karla Rivera e María Julieta.
A advogada salvadorenha Karla Rivera fará seu mestrado com o tema “Sociedade e Fronteira”. Karla, filha de imigrantes costa-ricenses, vive em El Salvador há 18 anos. “É um assunto que me interessa muito e baseia-se na migração de jovens, a maioria menores de idade. O Governo não trabalha para adaptá-los”, disse.
Em relação às dificuldades, Karla, que não come carne, havia lido que Boa Vista era uma cidade baseada na agricultura. “Esse parece ser é um tema difícil. Vejo menos vegetais do que acreditava encontrar aqui. Então, tenho optado por cozinhar em casa e, às vezes, almoço no restaurante universitário”, afirmou.
A politóloga argentina María Julieta Eula confessou que está muito feliz com a decisão de ter vindo para a Universidade Federal. Ela faz parte do mestrado em Desenvolvimento Regional da Amazônia. “Quando conheci a estrutura, pensei que ter vindo valeu muito a pena”.
Julieta, da província argentina de Córdoba, contou que com o mestrado, pensa em ajudar sua região através de análises de políticas públicas para o desenvolvimento econômico. “Gostaria de contribuir com o emprego e economia local. Então, esta é uma oportunidade única, um sonho!”, disse. (JPP)