Cotidiano

Alunos pedem ajuda sobre abusos e bullying depois de ações em escolas

Desenvolvido pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa, projeto visa debater violência doméstica e familiar

Desde o mês de agosto, a Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), por meio do programa piloto “Papo Reto”, vem promovendo uma série de ações junto a estudantes da rede estadual de ensino. A iniciativa tem como finalidade a promoção de conversas junto a alunos sobre os mais variados temas, com foco principalmente na prevenção à violência doméstica e familiar. 

“Além de zelar pelos direitos das mulheres e combater todos os tipos de discriminação, a Procuradoria também tem como missão combater a violência doméstica e familiar”, disse a procuradora adjunta do órgão, Sara Patrícia Farias. “Quando nós atendemos a vítima, sabemos que essa violência também acaba atingindo a criança e o adolescente, tanto que na totalidade dos casos atendidos pela procuradoria, por meio do Chame, 70% presenciam as cenas e outras 30% também viram vítimas dessas agressões”.

Em pouco mais de dois meses de atividades, quase 40 meninas com idades entre 12 a 17 anos pediram ajuda da Procuradoria Especial da Mulher ALE-RR, que já percorreu duas unidades de ensino da Capital. “Nós levamos a esses estudantes um questionário do Observatório Estadual da Mulher, justamente para termos uma base de como ajudar esses alunos e, nisso, recebemos pedido de ajuda de 39 meninas, sendo que pelo menos 15 delas relataram nesse questionário que já sofreram abuso sexual em casa. Desde então, a procuradoria tem dado toda a atenção não só para essas meninas, mas também para as famílias, já que é uma situação muito delicada. A partir dessas observações, a gente quer integrar a escola à Rede de Proteção da Criança e do Adolescente, para que se tomem as providências, para que haja realmente um ambiente de paz tanto em casa quanto no ambiente escolar”, frisou.

Outro tema bastante solicitado pelos estudantes, segundo a procuradora, está o bullying, prática muito comum dentro das unidades de ensino. “O bullying é uma prática muito antiga e que até então ninguém dava muita importância, só que os casos de violência dentro das unidades de ensino e até mesmo tentativas de suicídios, com ligação direta a esse problema, têm crescido bastante. A gente nota que os estudantes estão preocupados cada vez mais com essa questão. Eles sentem a necessidade de ter na escola um ambiente saudável e seguro”, comentou.

ESCLARECIMENTOS – Além de promover um bate-papo junto com os estudantes sobre os assuntos que os afligem, a equipe do programa promove uma série de esclarecimentos relacionados aos deveres da criança e do adolescente, como as diferenças entre ato infracional e criminoso; consequências do dano ao patrimônio público; a diferenciação entre infrações leves, graves e gravíssimas; as violências e os ilícitos nas escolas entre outros.

“Todos os assuntos abordados nas rodas de conversa do Papo Reto fazem parte do cotidiano desses alunos, até porque eles mesmos sentem falta de um ambiente seguro, aliás, não só eles, como também os professores. E a ideia de tudo isso é trabalhar essas ações para que resultem no desenvolvimento de um artigo científico, que por sua vez será utilizado na formulação de um projeto de lei para a criação da patrulha escolar, que é uma ferramenta que precisa ser implantada no Estado”, pontuou.

EDUCAR É PREVENIR – Outro projeto que também tem sido levado ao conhecimento dos estudantes é o “Educar é Prevenir”, desenvolvido pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da ALE. O projeto tem sido bem recebido pelos estudantes, principalmente as venezuelanas, por justamente tratar de temas relacionados à exploração da mulher sob todas as óticas.

“Muitos até podem discordar, mas Roraima possui, sim, problemas relacionados ao tráfico de pessoas. Nós estamos em uma localidade que, além de estar inserida sobre duas fronteiras internacionais, faz divisa com os estados do Amazonas e Pará, e isso propicia o tráfico de mulheres para exploração sexual e de mão de obra. Então, o Educar É Prevenir está levando para as meninas as questões do oferecimento do corpo em detrimento das garantias que esses algozes ofertam para elas”, frisou. (M.L)