Cotidiano

Aparelho do CDI quebrado deixa doentes cardíacos na 'fila da morte'

Enquanto os pacientes podem morrer aguardando exame, um aparelho novo, que foi adquirido em 2009, continua encaixotado

Pelos menos 75 pessoas que estão na fila de espera para fazer exames e cirurgias cardíacas no Hospital Geral de Roraima (HGR) estão sem opção, pois o único aparelho de hemodinâmica do Estado está quebrado há quase um mês. A denúncia foi feita ontem pelo presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM/RR), Alexandre Marques. Ele alertou: “Vidas estão em jogo”.   
“Recebemos a denúncia de médicos do Serviço de Cardiologia Invasiva do Centro de Diagnóstico por Imagem [CDI] de que o único aparelho de hemodinâmica do Estado está quebrado há quase um mês. Resolvemos fazer uma visita ao local para ver de perto o drama dos médicos que não podem trabalhar pela falta do equipamento e dos pacientes que aguardam uma resolução do problema o mais urgente possível”, frisou. A visita ocorreu na manhã de segunda-feira juntamente com a vice-presidente do CRM/RR, Francinéia Moura.
O aparelho é responsável por vários procedimentos cardiológicos invasivos como arteriografia, angioplastia, implante e troca de marca-passo, cateterismo e estudo eletrofisiológico. Sem funcionar, é impossível qualquer procedimento cirúrgico. “Sem esse equipamento é impossível fazer qualquer procedimento cardíaco. Temos uma fila de espera de 75 pacientes, inclusive alguns com risco iminente de morte, que estão internados no HGR com quadros cardiológicos gravíssimos e sem perspectiva de realização de qualquer procedimento”, afirmou. “Os médicos estão angustiados com a situação porque os pacientes estão em risco de morte iminente”.
Diante da situação, o presidente do CRM informou que enviou ofício ao secretário estadual de Saúde, Stênio Nascimento, ao procurador da República em Roraima, Ígor Miranda, promotor de justiça, Zedequias de Oliveira Júnior, e ao conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Joaquim Sotto Maior.
No relatório, o presidente do CRM pede urgência na transferência dos pacientes com casos considerados mais graves através de TFD (Tratamento Fora de Domicílio) ou que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) contrate urgentemente os serviços particulares dos procedimentos em clínicas locais, além da substituição ou conserto de equipamento e a instalação do novo aparelho de hemodinâmica, que se encontra armazenado no Departamento de Serviços Gerais (DSG) do Governo do Estado.
Alexandre Marques afirmou que durante a fiscalização ao CDI, os médicos do Serviço de Cardiologia Invasiva solicitaram providências urgentes, já que, sem o equipamento, foram cancelados vários procedimentos cirúrgicos agendados e até de urgência foram cancelados. “São vidas que estão em jogo e não podem esperar mais”, frisou.
SESAU – Em nota, a assessoria de imprensa da Sesau informou que, em relação aos serviços prestados pelo CDI, a direção afirmou que foi detectado problema em uma peça de comando do aparelho de hemodinâmica e que imediatamente a empresa responsável pela manutenção foi acionada para fazer o reparo.
Devido à necessidade de substituição da peça, a empresa solicitou 20 dias para fazer o serviço e, por conta da indisponibilidade de oferta da peça no mercado nacional, por se tratar de um equipamento com peça importada, a empresa solicitou ampliação do prazo para mais 10 dias, que deverá vencer até o fim desta semana.
Em relação aos pacientes, a Sesau alegou que os casos graves estão sendo assistidos de acordo com a indicação médica de urgência e que “não descarta a liberação de TFD de acordo com a análise do médico especialista”. Afirmou que os demais casos que não apresentam risco de morte serão reagendados para posterior atendimento, tão logo a situação seja normalizada. (R.R)
Aparelho que custou R$ 4,3 milhões está guardado na caixa há cinco anos  
O presidente do CRM, Alexandre Marques, informou que o aparelho de hemodinâmica que apresentou defeito tem mais de 20 anos de uso e que não tem mais condições de reposição de peças. Relatou ainda a existência de outro aparelho de hemodinâmica que ainda encaixado e armazenado no Departamento de Serviços Gerais (DSG) do Governo do Estado.
“Esse equipamento foi adquirido pelo Governo do Estado em 2009 e nunca foi instalado”, frisou Marques. Conforme as notas fiscais às quais a Folha teve acesso, o aparelho foi adquirido em setembro de 2009 e custou mais de R$ 4,3 milhões aos cofres do Estado. A Sesau não se pronunciou sobre este assunto.
Um documento endereçado ao gabinete do HGR, datado do dia 13 deste mês, informava que o equipamento do CDI estava em pane desde o dia 30 de outubro e pedia providências. No mesmo dia, a direção do HGR encaminhou o documento à Sesau. Até ontem nenhuma providência havia sido tomada.
TFD – Da lista de 75 pacientes que aguardam por procedimentos no Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI), para cinco deles foi solicitada urgência para liberação do Tratamento Fora de Domicílio (TFD).
A Folha teve acesso a um documento enviado no dia 11 deste mês por um dos médicos do CDI para a direção do HGR que consta os nomes dos pacientes e os procedimentos urgentes a que deveriam ser submetidos, entre eles a implantação de marca-passo, espera de cateterismo e até “risco iminente de morte”.
O relatório do CRM aponta ainda que outras áreas do CDI estão funcionando normalmente na realização de exames, como mamografia e tomografia. “No quesito limpeza, o CDI se encontram em perfeitas condições de higiene e iluminação adequada para o ambiente de trabalho”, destacou. (R.R)