A dificuldade em subir escadas de prédios quase todos os dias, aliada à obesidade, motivou o cabelereiro Marcelo Menezes, de 25 anos, que fuma desde os 15, a tentar largar o vício em cigarro. Há dois anos, ele iniciou tratamento alternativo com adesivos antifumo e exercícios físicos, que o fizeram passar do uso de quase dois maços de cigarros por dia para apenas meia carteira.
No Dia Mundial de Combate ao Tabagismo, comemorado nesta quarta-feira, 31, dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) apontam uma realidade assustadora para quem, assim como o cabelereiro, tenta deixar o vício: apenas dois dos 15 municípios de Roraima oferecem tratamento gratuito contra o tabagismo.
Em Roraima, de 2015 a 2016 foram diagnosticadas quatro pessoas com câncer de pulmão, conforme os dados do Laboratório de Anatomia Patológica do Estado (Laper), única unidade pública que oferece serviço médico especializado para a realização de diagnósticos de várias doenças, inclusive do câncer.
Conforme a Sesau, atualmente o serviço é disponibilizado apenas nos municípios de Caroebe, a Sudeste do Estado, e na Capital, Boa Vista, que realizam o acompanhamento médico e disponibilizam os medicamentos enviados pelo Governo Federal.
SEM AJUDA – Segundo o cabelereiro Marcelo Menezes, diante da dificuldade em obter tratamento pela rede pública de saúde, ele optou por tentar parar de fumar de forma espontânea. “Comecei a sentir dificuldade, falta de ar toda vez que subia escadas. Sabia do tratamento oferecido pelo município, mas optei por meios alternativos que vi pela internet”, comentou.
Ele relatou que começou no vício por conta da ansiedade decorrente do problema de obesidade. “Estou a dois anos tentando. Comecei a perceber que fiquei viciado porque eu era muito ansioso por conta da minha obesidade e o cigarro era uma forma de ficar mais calmo. Mas, aos poucos, fui percebendo que estava viciado, porque toda vez que ficava sem, eu começava a ficar ansioso. Eu acho que quem quer parar de fumar tem que ter objetivo e consciência de que isso faz mal e que uma hora vai te prejudicar”, disse.
REDUÇÃO – Mesmo com a dificuldade no acesso ao tratamento, o Brasil obteve sucesso na redução do número de fumantes entre 1990 e 2015. Segundo o Ministério da Saúde (MS) neste período, a porcentagem de fumantes homens caiu de 29% para 12% e, entre as mulheres, de 19% para 8%.
Em contrapartida, o número de mortes causadas pelo tabagismo aumentou 4,7%. Em 2015 foram registradas mais de 6,4 milhões de óbitos decorrentes do uso de cigarros. Uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, até 2030, 8 milhões de pessoas em todo o mundo seja vítima do vício.
TRATAMENTO – Conforme a Sesau, o tratamento contra o tabagismo é ofertado pela Rede Básica de Saúde nos postos de saúde dos municípios. O Estado fornece todo o apoio necessário para que os municípios se cadastrem e passem a oferecer os serviços do Programa Nacional de Controle do Tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS).
Cada município assume o compromisso de montar uma equipe multiprofissional composta por fisioterapeuta, psicólogo e médico, que se reúnem com um grupo de 10 pacientes uma vez por semana. Na reunião ocorre avaliação clínica, psicológica, regulação na dosagem dos medicamentos e fisioterapia para ajudar na respiração do paciente.
Neste ano, os municípios de Alto Alegre, Cantá, Caracaraí, Uiramutã e São João da Baliza aderiram ao programa nacional, no entanto, deixaram de renovar o cadastramento para que as ações tivessem continuidade.
Para ampliar as ações de combate ao tabagismo em todos os municípios, está prevista uma capacitação realizada pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) junto aos profissionais da Atenção Básica.
Para ter acesso ao serviço, os interessados em obter tratamento devem buscar o posto de saúde mais próximo para se cadastrarem e serem incluídos na próxima turma de atendimento. A utilização dos medicamentos é feita com base em indicação médica. (L.G.C)
Especialista alerta que fumo pode provocar diversos tipos de câncer
Os fumantes têm risco de morte súbita até quatro vezes maior. O vício aumenta as chances de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, conhecido como derrame, angina e outras doenças, como o câncer. A nicotina estreita veias e artérias. Outros componentes do cigarro lesam o endotélio, a camada de revestimento interno dos vasos, causando lesões nos tubos.
Segundo o médico otorrinolaringologista Mauro Schimit, o cigarro tem inúmeras substâncias que são tóxicas ao organismo. “Um maço de tabaco por dia causa 150 mutações genéticas por ano nos pulmões. São vários os venenos que estão dentro da composição do cigarro, que gera riquezas para o governo com os impostos, mas gastos muito maiores com tratamentos das sequelas que o cigarro produz”, afirmou.
Conforme o especialista, o cigarro produz alterações nas células que podem gerar inflamações e câncer na boca, laringe, faringe e, principalmente, no pulmão. “É uma desgraça grande para o nosso corpo e as ações vão se somando ao longo dos anos de exposição. São vários tipos de cigarro, o que se fuma, o de palha que também faz mal e agora tem um cigarro eletrônico que não solta fumaça, mas faz mais mal que o comum, porque não se vê a fumaça saindo”, alertou.
Para o médico, até quem fuma esporadicamente corre riscos de danos à saúde. “Aquela pessoa que fuma só quando vai a festas também pode ser prejudicada. O fumo em pequena quantidade torna o usuário dependente para fumar mais. É uma desgraça geral e total para o nosso organismo e para o meio ambiente”, enfatizou. (L.G.C)
Vulnerabilidade torna o usuário suscetível ao vício
O psicólogo Alberto Cruz explicou que a dependência em cigarros pode ser causada pela vulnerabilidade do usuário. “Existem vários aspectos que giram em torno da vulnerabilidade, podendo ser emocional ou social.
Muitas vezes pode ter evento específico que se fala na morte de um parente ou algum trauma que tenha tido na infância. Tudo isso são fatores que podem dar início ao fumo”, disse.
Segundo ele, são diversas as situações em que o cigarro traz prazer à pessoa. “Isso aliado ao estímulo do sistema nervoso acaba gerando o vício. Há várias campanhas contra o uso do cigarro, mas não tem tanta profusão porque os usuários acabam encontrando fatores que não trazem consequência a curto prazo”, explicou.
Para o psicólogo, não há como um dependente largar o vício em cigarro sem tratamento sistematizado. “Para sair daquilo o dependente químico tem deficiência de produção de neurotransmissores presentes na droga e não há como fazer isso sem ser sistematizado. Existe um conjunto de metodologias que vai ter que ser feito para poder sair disso. Houve muita evolução no combate ao tabagismo, se vê uma redução grande de pessoas que fumam de 10 anos para cá, mas ainda é um mal a ser combatido”, frisou. (L.G.C)
Tabacaria foca em produtos alternativos
Atualmente, pela diminuição do consumo do tabaco, não é tão fácil encontrar tabacarias, que eram comuns há algumas décadas. No entanto, há um tipo de tabacaria que está em expansão: as tabacarias “contemporâneas”, ou headshops. Em vez de focar na venda de substâncias, elas são especializadas em produtos que aprimoram a experiência do consumo.
O empresário João Paulo Lima apostou no segmento e decidiu abrir um headshop no Centro de Boa Vista com opções para quem busca fumos menos noviços à saúde. “O cigarro de palha tem sido opção bem menos nociva que o convencional, pois não tem as mesmas substâncias químicas que o outro tem. Me ajudou bastante quando eu parei de fumar. Hoje em dia nem o cigarro de palha eu fumo mais”, disse.
No local, é possível encontrar cachimbos, trituradores de fumo, papéis para enrolar, canecas, camisetas, tabaco orgânico e acessórios em geral. Um produto inusitado é o “narguile eletrônico”, um dispositivo que solta uma fumaça aromatizada e pode ser usado por quem quer parar de fumar.
“Atendemos a pessoas de todos os jeitos, novos e mais velhos. O que as pessoas procuram muito são o cigarro de palha e o eletrônico, que tem uma essência parecida com gel”, comentou o empresário, que vende essências de R$12,00 a R$ 120,00. (L.G.C)