Aposta na produção hidropônica faz a diferença na alimentação saudável

Aumentou em 10% a produção de hortaliças hidropônicas em Roraima. O mercado em expansão ganha força por dois motivos: a busca por uma alimentação mais saudável e os cuidados com o meio ambiente sem a utilização de agrotóxicos. A produção de alface suspensa e irrigada numa chácara no bairro Operário, na zona Oeste da cidade, é um exemplo e está chamando a atenção na região.

Adriano Almeida, de 34 anos, trocou radicalmente de profissão. De analista de sistemas do setor público, hoje ele é agricultor. O sócio dele, Tiago Almeida, de 31 anos, também decidiu mudar de profissão de forma radical. De fisioterapeuta, ele cuida agora dos mais de 15 mil pés de alface hidropônica.

A mudança na vida profissional deles ocorreu há dois anos, quando um amigo, engenheiro agrônomo, falou sobre a cultura hidropônica e os seus benefícios. “Então, eu me interessei pelo assunto e decidi arriscar.

Chamei o Tiago para ser sócio, ele aceitou e hoje abastecemos toda a rede de supermercados da cidade. O mercado consumidor aumenta a cada ano”, ressaltou Adriano Almeida.

O trabalho bem feito dos dois está provando que na agricultura é possível obter bons resultados sem agredir o meio ambiente, mesmo com um projeto novo, num sistema não convencional de cultivo, ainda com poucas informações disponíveis. Em Roraima, ainda é baixo o número de agricultores hidropônicos. Na Capital são apenas três.

Os sócios estão produzindo mensalmente 15 mil pés da hortaliça hidropônica em nove estufas, sob orientação profissional de um engenheiro agrônomo. O negócio está prosperando, por isso os agricultores já pensam em expandir a produção e ainda investir na infraestrutura da chácara. “A procura por produtos hidropônicos aumenta. Para atender esta crescente demanda, já começamos a construir mais estufas”, frisou Adriano Almeida.

O investimento inicial dos dois sócios foi de R$ 40 mil, mas o negócio deu tão certo que o investimento já chegou a quase meio milhão de reais. A produção hidropônica ocorre quando o cultivo da planta acontece na água, e não no solo. A preocupação maior para este tipo de cultura é o fator climático e a higiene durante o processo de produção da alface.

“Devemos ficar atentos a tudo. A higiene é de fundamental importância. Temos até que lavar as mãos para tratar da plantação. Se houver contaminação de um pé, todos correm risco. Por isso, devemos ficar atentos durante todo o processo, da criação da muda no berçário até a estufa final, do crescimento”, explicou Tiago Almeida. (AJ)

Processo de cultivo dura 55 dias

O processo de produção hidropônica é simples, mas requer muita atenção. Primeiro, a semente é posta para fecundar em telas de espuma, onde passa até 10 dias. Virando muda, ela vai para o berçário, onde passa mais 15 dias. E finalmente vai para a estufa de crescimento, onde passa mais 30 dias e depois vai para as prateleiras de supermercados.

Para o sistema hidropônico funcionar a plantação deve contar com um bom processo de irrigação. Na chácara dos Almeida são 18 caixas de água e potentes bombas para puxá-la até as canaletas onde ocorre a fecundação e crescimento da alface. Adriano Almeida disse que sempre tem que ter alguém vistoriando o sistema.

“Só para se ter ideia, se a bomba de água ficar parada por 40 minutos, toda plantação se perde. Por isso temos que ter muita atenção. Mas, apesar desses cuidados, compensa plantar hortaliça hidropônica”, ressaltou Adriano Almeida.

O agricultor observou que como não há utilização de agrotóxico em nenhum dos processos de produção, a planta se desenvolve mais rápido e o que é mais importante, segundo Adriano Almeida, “fica limpa de qualquer impureza, o que garante uma alimentação mais saudável. “E outra: o meio ambiente não sofre qualquer tipo de agressão”, complementou.

Diante de tantos benefícios, a pequena diferença no preço, de R$ 0,50, compensa. A alface cultivada no chão, com agrotóxico, custa em média R$ 3,19 nos supermercados da cidade. Já a hidropônica, R$ 3,69. (AJ)

Hidroponia: vantagens e desvantagens

A hidroponia é um sistema de cultivo de plantas, feito diretamente na água, com ausência de solo. Para o bom desenvolvimento da planta é necessário que os nutrientes (macro e micro) sejam todos incorporados à água. As hortaliças estão entre as plantas que mais podem ser cultivadas desse jeito. Isso pode ser feito no chamado sistema NFT (fluxo laminar de nutrientes), onde as plantas são cultivadas em bancadas, com uma lâmina de água, contendo nutrientes e sendo bombeada diretamente nas raízes.

Entre as vantagens da hidroponia estão: a melhor qualidade do produto e preços mais competitivos; maior produtividade; economia de fertilizantes, economia de água, de 50% a 70%, em comparação aos sistemas convencionais; produção em pequenas áreas; produção fora de época e o ano todo; proteção (estufas) a intempéries da natureza tais como geada, chuva e granizo; eliminação de diversas operações, como preparo de solo e a rotação de culturas.

As desvantagens desse modo não convencional de cultura ficam por conta do custo mais elevado, na aquisição dos materiais para a estufa e bancadas; a exigência de mão de obra e assistência técnica mais qualificadas; os riscos de perdas na produção, em decorrência de falta prolongada de energia elétrica; a contaminação do sistema com doenças pela má manutenção das calhas; e o acompanhamento diário do funcionamento do sistema e da solução nutritiva.

Esta atividade está se tornando uma tendência entre os horticultores, seja pela economia de água ou pela maior durabilidade pós-colheita do produto, principalmente das hortaliças folhosas. (AJ)