Cotidiano

Área de grãos não deve diminuir apesar de aumento do custo

‘Viabilidade econômica está bastante apertada, e é nesse momento que o produtor precisa do crédito bancário, que está cada vez mais restrito, mais difícil de ser acessado’

Leo Daubermann

Editoria de Política

Em entrevista ao programa Agenda da Semana de ontem, 17, na Rádio Folha FM 100.3, o empresário do agronegócio Afrânio Webber, que é presidente da Cooperativa Grão-Norte, afirma que, apesar do aumento do custo, a área plantada de grãos em Roraima não deve diminuir.

De acordo com Webber, o fator econômico afeta automaticamente a produção agrícola.

“Na medida em que a taxa de câmbio se mantém alta, os custos também são afetados, ou seja, a produção também se torna mais onerosa. Muitos insumos utilizados no Brasil são importados”, disse.

Segundo ele, com o dólar em alta, o preço dos insumos, como fertilizantes, sobe, gerando mais gastos para o produtor.

“Os nossos custos operacionais com a produção de grãos nos colocam em desvantagem competitiva frente aos demais Estados brasileiros e países produtores dos mesmos grãos que os nossos, mas ainda assim, acredito que nossa safra não será afetada”, falou.

“Pelo contato que eu tenho com os produtores, por meio da cooperativa, percebo que a área plantada não deve diminuir. Agora, não veremos um aumento num curto prazo, os produtores estão mais criteriosos”, ressaltou.

Webber explica que a soja teve uma queda no preço do ano passado para este devido ao mercado internacional.

“A gente segura o dólar e acha bom porque a gasolina fica mais barata, só que aí quando o dólar sobe [na hora de vender] a soja também é prejudicada. Hoje, a viabilidade econômica está bastante apertada, e é nesse momento que o produtor precisa do crédito bancário, que está cada vez mais restrito, mais difícil de ser acessado”, ressaltou.

Leia mais: Piscicultura sempre terá competitividade, diz produtor

ROTAÇÃO DE CULTURAS – Conforme Webber, alguns produtores estão incluindo a prática de rotação de culturas, um manejo importante para manter o solo fértil.

“Estão alternando o plantio de soja com o de milho, na época das chuvas, ou então vão iniciar o plantio de algodão, e a gente como pioneiro vem inspirando essa produção”, afirmou.

ENTRAVES – Afrânio Webber assegura que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas no Estado, tem conseguido contribuir com a produção agrícola em Roraima.

“Ser produtor não é uma profissão, é uma vocação. Então, acabamos sacrificando a família, o patrimônio, as horas de descanso. Hoje, a gente tem uma área com pivô central de irrigação, com as devidas licenças ambientais, apesar da dificuldade em consegui-las”, destaca.

Para Webber, um dos principais entraves para alavancar o setor agrícola no Estado, além da questão ambiental, é a energética.

“Somos reféns de uma energia cara, deficitária e temos que complementá-la com motores a diesel, o que a encarece absurdamente. A gente sofre com apagões constantes e acaba inviabilizando nossa produção”, destaca.

“Mas, apesar de todas as dificuldades, já estamos com uma safra de milho irrigado, plantada após o algodão, nessas áreas, estamos trabalhando com alta tecnologia, e acreditamos que vamos atingir acima de 130 sacas de milho por hectare”, destaca o produtor agrícola, enfatizando que para competir com produtores do Centro-Oeste, que já chegam a colher acima de 200 sacas de milho por hectare, é necessário o uso de tecnologia e inserção de culturas mais adequadas ao clima roraimense.

“Nós temos aqui uma baixa altitude, cem metros a média, e o milho é uma cultura que foi desenvolvida para áreas mais altas. Então, precisamos de estudos, um trabalho que pode ser realizado pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que desenvolva uma variedade mais adaptada para o nosso clima”, destaca.

Webber destaca que, após a safra do milho, será a vez da soja, usando a prática da rotação de culturas, para evitar pragas.

“Com o milho, que é uma gramínea, eu elimino qualquer problema [no solo] que eu tive com o algodão, aí o próximo plantio vai ser a soja, depois o algodão de novo e a gente vai rotacionando”, disse.

OTIMISMO – O produtor vê com otimismo o mercado do agronegócio em Roraima e acredita que o setor produtivo é o único que tem a capacidade de resolver a atual situação econômica do Estado, em curto prazo.

“Tem vindo gente de fora, novos investidores, médios e pequenos, que fazem a diferença. A gente não pode pensar só em exportar a soja, temos que exportar a carne, o peixe, tem o Frigo 10 aí, temos outros frigoríficos, precisa ter gado de qualidade, nós temos que conseguir chegar lá, aí nossa economia vai alavancar”, avalia.