Cotidiano

Área de invasão é desocupada e vereador afirma ter sido ameaçado de prisão

A ordem de demolição e desapropriação, partiu da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur)

A desocupação de uma área pertencente à Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV), na manhã de hoje, localizada no antigo lixão do bairro São Bento, zona Oeste da Capital, acabou em confusão. A tropa de choque do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, em apoio a Grupo Tático Municipal (GTAM) da Guarda Civil Municipal (GCM) investiu contra a população, que revidou.
A ordem de demolição e desapropriação, partiu da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur).
 O vereador Júlio Cézar (PMBD), presidente da Comissão de Obras Urbanismo, Transporte, Habitação e Serviços Públicos da Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV), afirmou ter sido ameaçado de prisão pelo Bope, com a acusação de estar incitando o povo contra a polícia.
“Diferente disso, a minha missão como parlamentar e representante povo, é cobrar explicações. No último dia 03, foi aprovada em plenário uma audiência pública para o dia 24 deste mês, para buscar uma solução ao problema. Sabemos que lá é um antigo lixão e que podem existir riscos à saúde, mas até o momento os órgãos competentes não apresentaram nenhum laudo que comprove a existência de gases prejudiciais a saúde”, disse o vereador.
No local, desde o dia 7 de setembro do ano passado, existiam 351 famílias instaladas na área denominada Conjunto Nova Vida – grande maioria já inscrita e cadastradas em projetos sociais – que aguardavam serem contempladas com moradias ou remanejadas para outra área. Desse período até hoje, elas já tiveram seus barracos e pertences destruídos pelo menos dez vezes.
“Estou há seis anos inscrito no projeto Minha Casa Minha Vida. Somos em onze pessoas. Já estou desacreditado disso tudo. Já vi casos de pessoas que não precisam, serem contempladas e nós não. Hoje o lugar onde nos abrigávamos do sol e da chuva foi todo abaixo e se transformou em poeira. É muito triste essa situação”, disse o autônomo Francisco Souza dos Santos, 47.
Rosália Ribeiro, 53, apontava para os pertences jogados no meio da rua. “Por sorte consegui retirar minhas coisas do barraco antes da máquina destruir tudo. Hoje não tenho pra onde ir e minhas coisas estão ao relento”.
“Já são seis meses de ocupação, essas pessoas precisam de uma resposta ou proposta de uma nova área. O direito à moradia digna deve ser garantido. Se já havíamos marcado a audiência, o tempo deveria ser respeitado, ou, pelo menos elas deveriam ter tido o direito de retirar os pertences dos barracos antes das demolições”, disse o vereador. Segundo o vereador, pelo menos duas bombas de efeito moral foram jogadas contra o veículo do parlamentar, uma delas danificando inclusive a lataria. 
“A equipe do vereador e moradores que estavam próximos, só não foram atingidos pelos disparos de balas de borracha, porque ficaram protegidos ao lado do carro.A polícia quando acionada tem que cumprir seu papel, mas nesse caso entendo que não deveria ter sido com truculência. Ali tinham crianças, mulheres grávidas, trabalhadores e pais de família. São pessoas que vivem debaixo de uma lona, ou num cômodo de madeira, porque precisam, não porque querem”, complementou Júlio Cezár.
“Vamos propor uma nova audiência pública, dessa vez convidando o Ministério Público [MP], para que os parâmetros do projeto Minha casa Minha vida, sejam cumpridos de fatos. Muitas pessoas que não precisam são beneficiadas e aquelas que não têm onde morar são esquecidas. Aqueles que estão agindo de má fé devem ser punidos nos rigores da lei”, concluiu Júlio Cezár.
O Advogado da Associação Nova Vida, Aléx Coelho, disse que outro objetivo é descobrir de onde partiu a ordem de desocupação, já que o mandado em nenhum momento foi apresentado. “Essa ação foi totalmente arbitrária. Pessoas foram machucadas e tudo foi destruído. Vamos entrar com uma representação contra os responsáveis”.