A falta de informações sobre pessoas com transtorno do espectro autista em Roraima motivou pais e responsáveis a criarem o primeiro cadastro oficial para todos os autistas e interessados em saber mais sobre o tema. O cadastramento acontece hoje, a partir das 10h, no Roraima Garden Shopping, no bairro Caçari.
Sem as informações, há uma limitação maior sobre as atividades e formas de tratamento para as pessoas autistas na rede de saúde pública. As dificuldades encontradas pelos pais e responsáveis sobre a condição deu formação à União de Pais e Pessoas com Autismo (UPPA-RR), que chegou à conclusão de que não havia como tomar outras medidas para buscar melhorias sem saber quantas pessoas são diagnosticadas no Estado.
“Não sabíamos quantas pessoas tinha nem em que faixa etária elas estão para que pudéssemos desenvolver atividades. Se é um público infantil, adolescente ou adulto. No ano passado, tentamos fazer as coisas, mas sempre barrávamos nisso… qual nosso perfil de público? Então, decidimos fazer esse censo para poder saber quem são e onde vivem”, explicou Felipe Leiros, representante da diretoria.
Por se tratar de um transtorno que pode ser apresentado em diferentes graus a cada pessoa, é necessário ter um tratamento específico e saber quais ações podem ser desenvolvidas, o que ainda não acontece em Roraima pela falta de informações e conscientização.
“Precisamos saber se estão tendo acesso às terapias, tratamento e escola porque, dependendo do grau, se não estiver em tratamento, têm dificuldade de relacionamento e se tornam agressivos por conta da comunicação de troca. Isso às vezes dificulta a ter acesso a uma escola e a família termina isolando cada vez mais a criança”, continuou.
Na UPPA já são cadastradas quase 60 famílias que se conheceram entre as consultas feitas pelos filhos. A criação da associação deu a oportunidade dos pais e a sociedade terem mais conhecimento sobre o autismo através de rodas de conversas e outras atividades feitas pelo grupo.
O diretor destacou que pais de crianças que convivem com autistas nas escolas já procuraram a associação para terem mais informações e poderem explicar sobre a interação que podem ter com as pessoas autistas, o que aumenta a visibilidade sobre o assunto. Entretanto, as dificuldades encontradas ainda são muitas pelas famílias que tentam desmitificar o preconceito sobre o autismo.
“As avaliações têm que ser individuais porque a gente não consegue ter um tratamento específico, pois existem vários métodos e cada criança vai se adaptar conforme a necessidade. E isso não só paciente, mas também as famílias. Isso era algo que todos nós sentíamos porque não temos essa variedade e nossos filhos não aderiam ao tratamento”, justificou.
Estabelecimentos começam implantação de placas para atendimento prioritário
Em meio às dificuldades, a União de Pais e Pessoas com Autismo (UPPA-RR) tenta ampliar e realizar maiores atividades para que o conhecimento e atendimento sejam acessíveis para as famílias.
“A vida de quem tem uma criança com necessidades especiais também é de sonho porque estamos sempre criando expectativa e tentando criar uma coisa nova. Temos planos muito grandes, queremos que um dia as crianças possam fazer o tratamento lá”, ressaltou.
Leiros frisou que, entre os planejamentos, estão o treinamento com profissionais de saúde, professores e alunos para que saibam entender mais sobre o transtorno do espectro do autismo e diminuam as barreiras nas escolas e adaptações que precisam ser feitas nos materiais didáticos para atenderem os autistas.
INCLUSÃO – A associação já está fazendo projetos com a Câmara de Vereadores de Boa Vista e a Assembleia Legislativa de Roraima para que haja campanhas de conscientização e também a implantação de placas que permitam o atendimento prioritário em supermercados, bancos, consultórios e também em vagas de estacionamento para pessoas com autismo.
Com o símbolo de uma fita colorida, alguns estabelecimentos de Boa Vista já estão instalando placas, porém, a falta de conscientização ainda é um problema encontrado pela maioria das famílias.
“Muitas pessoas ainda nos olham estranho. Eu digo que o autismo não tem cara, não dá para saber e aí acham que nossos filhos são mal-educados e mimados. Não é assim, é só que precisam de um tempo para se recuperar”, encerrou. (A.P.L)