Na esfera municipal, todo prefeito tem inúmeras funções, todas elas relacionadas a preservação e melhorias do município, bem como o bem-estar dos cidadãos. Em Pacaraima não é diferente. À frente do município desde o início do ano passado, o prefeito Juliano Torquato (PRB) já iniciou a gestão com a crise migratória em andamento. Atualmente, após 17 meses de mandato, ele avalia a situação do município como um descaso total.
Por ser umas das áreas essenciais de uma cidade, as maiores dificuldades da prefeitura estão voltadas para a saúde. O motivo se dá em razão do custo operacional diário gerado pela quantidade de habitantes do município e do fluxo de Santa Elena, que há anos vive um descaso que reflete nos altos índices de doenças e falta de controle de vacinação. O resultado disso é a superlotação do sistema de saúde brasileiro.
Como consequência da imigração, o número de atendimentos realizados por dia nos dois postos de saúde do município, que chegava a no máximo 40, aumentou quatro vezes, sendo 95% da demanda de venezuelanos. Além da demanda provinda do país vizinho, Torquato ressaltou a demanda das áreas indígenas que, apesar de o trabalho realizado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), precisam de atendimento na cidade para a realização de exames.
No início do ano, durante a visita do presidente Michel Temer, foi anunciada a instalação de um hospital de campanha do Exército na fronteira. O prefeito pensou que poderia ser uma solução, mas não é isso que acontece. “Eles fazem a triagem nos postos de atendimento e as pessoas que precisam ser atendidas são encaminhadas para as unidades básicas e ao Hospital Délio Oliveira Tupinambá”, informou.
Com o aumento da demanda, houve aumento nos custos. A compra dos medicamentos que antes não passava de R$ 25 mil, a exemplo, hoje subiu para R$ 70 mil, recurso proveniente do próprio município.
Em outubro do ano passado, após o decreto de emergência da prefeitura, um recurso calculado em R$ 600 mil foi liberado pela União para uso exclusivo aos indígenas Warao, tendo em vista a situação de rua em que viviam. Torquato explicou que, meses depois, com o início da Operação Acolhida, o Governo Federal pediu para que o município esperasse, a fim de saber o que seria fornecido pela operação.
“Se eles dessem fraldas, por exemplo, não poderíamos fornecer isso. Se fosse leite, teríamos que fornecer algo diferente. No momento estamos em processo de licitação para atender esse material que não vai ser fornecido, mas agora queremos reverter o recurso para os venezuelanos que estão vivendo na rua, já que os warao estão em um abrigo específico”, disse. Além dessa verba, o prefeito afirmou que não recebeu nenhum recurso.
Questionado sobre a principal necessidade da saúde, ele foi direto: recursos humanos e infraestrutura. Há mais de um ano, foi solicitado da União mais duas equipes do Mais Médicos, a fim de dobrar o número de atendimentos e diminuir o déficit da demanda reprimida. Na questão de infraestrutura, o município conseguiu uma emenda calculada em R$1 milhão para a construção de uma nova unidade de saúde. A previsão é que o posto seja inaugurado no primeiro trimestre de 2019.
Sob coordenação do Estado, o município conta com o Hospital Délio Tupinambá, que também registrou aumento com a chegada dos imigrantes. Dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) apontam que entre os meses de janeiro a junho deste ano, mais de 10 mil atendimentos já foram realizados. Desse total, 3.859 são brasileiros, e 6.509 são venezuelanos.
Insegurança preocupa prefeito
Ciente da sensação de insegurança por parte da população, o prefeito Juliano Torquato informou estar cobrando atuação por parte do Governo Federal, uma vez que as polícias Militar e Civil são do Estado. A primeira ajuda disponibilizada foi o apoio da Força Nacional, que realiza um trabalho de fiscalização diuturnamente nos carros, apesar de não efetuar apreensões.
Após a chegada do Exército à fronteira, ele imaginou que a segurança seria fortalecida mais uma vez. “Mas ao invés de manter o efetivo do município para intensificar o policiamento, o Estado tirou os policiais que estavam na fronteira. E falta de cobrar a governadora que não é”, destacou. Buscando diminuir os índices de violência, o município tentou firmar um trabalho conjunto com a polícia da Venezuela, mas não obteve sucesso.
Conforme Torquato, a ideia era estabelecer uma linha direta com o país vizinho, por meio de um grupo no WhatsApp, para conseguir informações de pessoas envolvidas em crimes no município. No entanto, a instabilidade da internet dificulta o serviço. Para ele, é preciso ter uma presença mais efetiva dos órgãos de segurança pública no município. “É um caos a situação de segurança”, comentou.
EDUCAÇÃO – Junto às inúmeras famílias que buscam um novo lar, Pacaraima também recebeu centenas de crianças em busca de educação. Desde o ano passado, o município teve um aumento de 100% em relação ao número de matrículas, passando de 240 alunos venezuelanos para quase 500. “Não tem mais porque não tem espaço físico. A média é 25 alunos por sala, estamos com 30 em todas as salas, tanto na creche, como nas duas escolas”, relatou.
COMÉRCIO – Para resolver a situação dos vendedores ambulantes, a prefeitura iniciou nesta semana uma panfletagem de conscientização, com o intuito de coibir as vendas, conforme o Código de Postura de Município. “É uma via de mão dupla. Se levar em consideração a história, o comércio nunca esteve tão bom. Os venezuelanos vendem o produto, mas compram os alimentos aqui mesmo, então o dinheiro circula. Mas existe a questão do mal estar. Os comerciantes bateram nessa tecla durante audiência, então vamos agir”, comentou. Para tanto, Torquato está aumentando a equipe de tributos, a fim de ter um trabalho de repressão contínuo. Dessa maneira, os ambulantes que continuarem com a prática terão a mercadoria apreendida.
Nesse contexto, Torquato começa a se preocupar com a falta de recursos para os próximos meses. “Tô com 17 meses de gestão e pago tudo em dia, meu município não é o problema. Mas até hoje não recebemos ajuda de nada, a não ser medicamento que chega de Brasília já perto de vencer”, finalizou. (A.G.G)