Cotidiano

Aterro sanitário vira lixão a céu aberto

Especialista classificou aterro como “bomba ambiental” pela contaminação ao meio ambiente e os riscos à saúde da população

Cerca de oito toneladas de lixo domiciliar são jogadas mensalmente no Aterro Sanitário de Boa Vista, localizado próximo ao Anel Viário no trecho sul da BR-174. Além da montanha de lixo, que não para de crescer, existe ainda uma preocupação iminente em relação aos riscos à saúde humana.

“Pela grande quantidade de lixo represado naquela área, aquilo já virou um lixão a céu aberto, sem nenhum tipo de cuidado técnico para a execução daquela atividade. São dejetos sendo jogados sem o mínimo cuidado e lixo queimado de forma inapropriada, o que aumenta ainda mais os riscos à saúde das pessoas”, afirmou o especialista em recursos hídricos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), professor Vladimir de Souza.

Conforme o especialista, por conta do acúmulo de materiais sólidos dos mais variados tipos, os riscos que o local oferece são inúmeros. Segundo ele, muitos desses materiais poderiam ser reaproveitados, fato que não ocorre. “Se for verificar, o volume de materiais despejados naquele local já está com mais de 30 metros de altura, e cada vez se joga mais lixo por lá. Muito desses materiais descartados poderiam muito bem ser reaproveitados, como as galhadas, por exemplo, que poderiam virar compostagem. Mas, pela falta de projetos consistentes de reciclagem, acabam contribuindo ainda mais para piorar a situação”, disse.

Na semana passada, Vladimir Souza e um grupo de professores e alunos da UFRR visitaram o aterro sanitário da Capital. A queima de materiais de rápida combustão, como plásticos, misturado a tipos nocivos, foi o primeiro ponto ressaltado como preocupante, uma vez que o local é próximo de residências de um conjunto habitacional recém-criado, no bairro Airton Rocha, o último da zona Oeste.

“A queima do lixo, até pouco tempo, era apontada como uma solução, tanto que alguns países até construíram usinas de incineração de resíduos. Mas, devido a alguns fatos que aconteceram nessas localidades, verificou-se que a queima era até mais perigosa à saúde humana do que manter os resíduos armazenados em lixões. Nessa situação, há lixo de todos os tipos sendo despejado de forma inadequada e existem pessoas se expondo a uma série de riscos, seja moradores que residem nas proximidades ou aqueles que retiram de lá o seu ganha-pão. Existem também as doenças que podem ser transmitidas pelo simples contato com o ar ou a água, além dos vetores que são comuns nesses locais, como ratos, mosquitos e animais peçonhentos. É uma produção de lixo que não para de aumentar. Infelizmente, aquilo é uma bomba ambiental”, frisou.

Outro problema ressaltado pelo especialista diz respeito aos efeitos nocivos ao meio ambiente, em que vários tipos de substâncias acabam sendo despejadas diretamente no solo. Vale destacar que a área onde o aterro funciona fica bem próxima ao igarapé Wai Grande, que deságua no Rio Branco.

“Recentemente, estiveram realizando alguns estudos relacionados à infiltração de chorume no solo da região, e a situação inspira preocupação. Por sorte, nós estamos na época de estiagem, mas quando houver um tempo mais chuvoso, o risco de essas substâncias se espalharem pelo solo é ainda maior. Se tiver uma plantação próxima à área, esse alimento que será colhido para consumir vai ser afetado, e isso também inclui a qualidade da água”, ressaltou.

PLANOS DE GESTÃO – Até agosto desse ano, todos os municípios do país devem finalizar a elaboração dos planos de gestão de resíduos sólidos e, consequentemente, findar a utilização dos lixões públicos. Até o momento, nenhum município de Roraima conseguiu atender a essa exigência imposta pelo Governo Federal.

PREFEITURA – Sobre a questão do aterro municipal, a Prefeitura de Boa Vista informou, por meio de nota, que está garantida uma nova área para a construção do novo aterro, que funcionará próximo ao antigo. Questionada sobre o valor da obra e de quando passaria a funcionar, a administração municipal não se pronunciou a respeito. (M.L)