Todos os dias, centenas de imigrantes atravessam a fronteira da Venezuela com o Brasil, pelo município de Pacaraima, ao norte de Roraima, fugindo da crise social e econômica que vive aquele país. E o número de venezuelanos que entram no estado não para de aumentar. Segundo dados da Operação Acolhida, quase 7 mil imigrantes passaram pela fronteira no último ano, em uma média de 500 a 700 por mês.
No entanto, os números do mês de agosto mostram que a realidade pode não ser bem essa da média mensal estabelecida pela Operação Acolhida.
Por exemplo, na segunda-feira da semana passada, dia 12, entraram 759 imigrantes. Na terça-feira, 13, foram 481 registros. Já na quarta-feira, 14, 1.238 venezuelanos passaram pela fronteira em um único dia, um aumento de 157% se comparando com o dia anterior.
Os dados contabilizados pela Operação Acolhida, referentes ao número de imigrantes que chegam ao estado, oscilam muito de mês a mês. Em julho do ano passado 562 venezuelanos atravessaram a fronteira e no mesmo período deste ano, foram 533. Os números de agosto também chamam a atenção: em 2018 foi registrada uma média de 609 estrangeiros, enquanto até essa última sexta-feira (16) teriam adentrado no estado 727 imigrantes.
Os números divulgados pela Operação também divergem dos dados oficiais do Ministério da Justiça. Segundo o relatório Refúgio em Números da Polícia Federal, somente em 2018, foram recebidas 61.681 solicitações de reconhecimento da condição de refugiado no Brasil e 81% das solicitações foram feitas do estado de Roraima. Ou seja, mais de 4 mil pessoas por mês pedem asilo na condição de refugiados somente em Roraima.
Prefeito diz que cresceu número de imigrantes nas ruas de Pacaraima
Assim como Boa Vista sofre os efeitos da imigração, em Pacaraima não é diferente. Por lá, vivem cerca de dois mil venezuelanos. O município de 15 mil habitantes é a principal porta de entrada para milhares de venezuelanos que vieram para o Brasil desde o agravamento da crise em seu país. O prefeito Juliano Torquato (PRB) informou que é notável o aumento do número de imigrantes que passam na fronteira, assim como aumentou a quantidade de venezuelanos ainda dormindo nas ruas. “Tem crescido, e muito, o número de pessoas em situação de rua, até porque a maioria delas, às vezes, está resolvendo a documentação e passam dois ou três dias e, como os abrigos estão superlotados, terminam ficando nas ruas”.
Ele disse que os abrigos foram construídos como pontos de passagem, mas viraram abrigos permanentes. “Até entendo essa superlotação, porque eles não têm para onde ir. O abrigo BV8 era para comportar 400, hoje tem entre 1.100 e 1.500 venezuelanos, enquanto o Janakoida, que foi construído para comportar, no máximo 250 pessoas em situação de trânsito, tem mais de 500 imigrantes indígenas, sendo que tem uns que moram há mais de dois anos lá”, comentou Torquato, dizendo que mesmo vários venezuelanos deixando Pacaraima e seguindo para outras cidades, tem percebido que a entrada deles no município não reduz. “Muitos saem a pé porque não têm recursos para pegar ônibus e a Operação Acolhida não disponibiliza transporte nesse caso. Antes encontrávamos duas, três pessoas caminhando com destino a outros municípios, agora são grupos com 10, 15, 20 venezuelanos na estrada”.
DIGNIDADE – O Exército implantou em Boa Vista e em Pacaraima a ‘Operação Dignidade’, com a finalidade de orientar os venezuelanos a ocuparem os abrigos ou a procurarem residência para pernoitar, ou ainda, a seguirem viagem. A operação surgiu pelo fato dessas cidades não comportarem as pessoas nas ruas por não terem segurança e infraestruturas adequadas. A medida passou a vigorar em 31 de julho e está sendo implementada pela Operação Acolhida. Sobre essa operação, o prefeito Juliano Torquato informou que ainda não percebeu nenhum efeito dessa ação. “Percebemos ainda muitos imigrantes em situação vulnerável dormindo nas ruas. E também a prefeitura de Pacaraima não foi formalizada para uma possível parceria, como ajudar na orientação aos imigrantes”, afirmou. (E.R.)