Cotidiano

Banana poderia ser exportada sem restrição, diz Embrapa

LEO DAUBERMANN

Editoria de Cidades

O maior mercado consumidor de frutas de Roraima, quase na sua totalidade, é o Estado do Amazonas. Para conseguir exportar esses produtos é necessário seguir algumas normas que são ditadas, não só pelo Brasil, mas por vários tratados internacionais dos quais o país faz parte. São restrições de trânsito sanitário em caso de ocorrência de doenças e pragas.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr) Marcos Prill, o Estado tem algumas culturas com restrição de trânsito, mas outras são comercializadas normalmente. “Hoje, para o Amazonas, nós exportamos citros como limão-taiti e laranja, algumas espécies silvestres como o buriti, o açaí e o próprio tucumã, que é famoso no Amazonas pelo X-Caboquinho. Boa parte do produto comercializado é aqui de Roraima, além da banana, manga, goiaba e carambola”, disse.

Ainda de acordo com o engenheiro agrônomo, no caso das espécies silvestres, não há nenhum tipo de restrição sanitária, podendo circular livremente. Mas algumas outras espécies, como citros, manga, goiaba, a própria carambola, têm restrições em decorrência da mosca da carambola, principal ameaça à fruticultura no Brasil. “Com a banana, nós já tivemos muitos problemas e hoje já não temos mais. Ela pode ser exportada livremente”, destaca.

Prill explica que a sigatoka negra, praga quarentenária que acomete a banana, tem incidência aqui em Roraima e no Amazonas, então a restrição da qual trata a instrução normativa diz respeito à forma de transporte. “Existe uma recomendação para se transportar a banana sem as culturais, quer dizer, sem folhas, sem a parte interna que a gente chama de mangará, do próprio cacho da banana”, ressalta.

Segundo Prill, a instrução normativa orienta o transporte da banana despalmada, no entanto o comércio do Amazonas tem interesse de receber a banana em cacho. “É uma questão cultural, boa parte da população ainda gosta de pendurar o cacho da banana e ir retirando conforme ela vai amadurecendo. Então, houve esse entendimento com o governo do Amazonas, já há bastante tempo, para transportar a banana desta forma. Mas se a banana fosse transportada para outro Estado, teria que ir desmembrada”, salienta.

EMBRAPA – A sigatoka negra não está erradicada e apesar da comercialização com o principal mercado consumidor da banana de Roraima, que é o Amazonas, não estar afetado, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem acompanhado produtores do Sul do Estado e afirma que o grande problema que impede a erradicação total da praga é a falta de conhecimento e resistência em aceitar novos tratamentos e cultivares.

De acordo com a fitopatologista Hyana Lima-Primo, entre as atividades da Embrapa está a diagnose de doenças de plantas causadas por bactérias, fungos e nematoides. “Já existe uma tecnologia definida para a cultura da banana, mas falta conhecimento tecnológico, então a gente acredita que é mais de assistência técnica que os produtores necessitam”, ressalta.

“Há uma grande ocorrência de várias doenças na bananicultura e essa é a parte que a Embrapa pode ajudar, como ensinar a fazer diagnose, treinar os técnicos da Secretaria de Agricultura, porque a gente acredita que eles podem contribuir bastante, mas é necessária a capacitação periódica desses profissionais, porque sempre são lançadas novas variedades”, destaca Hyana.

A pesquisadora conta que, recentemente, foi a Manaus para uma capacitação com um pesquisador experiente na área de bananicultura e acabou tomando conhecimento de novas espécies de bananas, mais resistentes às doenças, que poderiam substituir as plantadas atualmente em Roraima, entanto, alguns produtores não recebem bem a novidade.

“Os produtores não aceitam muito essas cultivares, porque acreditam que o mercado tem mais preferência pelo sabor daquelas que já cultivam. É falta de conhecimento mesmo, porque provei as bananas e, sinceramente, não consegui distinguir muita diferença, o sabor é bem agradável”, ressaltou Hyana.

A pesquisadora destaca que é necessário quebrar a resistência desses produtores para que possam aceitar, pelo menos, a adoção de novas tecnologias, no combate às pragas.

“A alternativa que a gente teria é aplicação de fungicida para controlar essas doenças. Aí tem vários problemas, porque a gente tem fungicidas sistêmicos, protetores, e como o clima é muito quente, úmido, a aplicação precisa ser feita o ano inteiro e o custa acaba ficando muito elevado para o produtor”, explica.

A pesquisadora ressalta que a Embrapa encontrou uma alternativa mais eficaz e com custo-benefício muito mais vantajoso. “É uma injeção de um fungicida na axila da segunda folha da banana, sendo uma aplicação a cada 60 a 75 dias, muito viável ao produtor, já que da forma como é aplicada usualmente, precisa ser reaplicada em 14 dias. O gasto acaba sendo grande, não só com o produto, mas com mão de obra. Ela é aplicada direto na planta, não contaminando o meio ambiente, e há economia de tempo e de dinheiro”, salienta.

Além de cobrir os custos, existem outras vantagens em usar a injeção de fungicida. “A forma tradicional de aplicar os fungicidas, por meio de pulverizador, além de contaminar o próprio aplicador, parte do produto se perde levado pelo vento e no solo. Com a nova tecnologia, a banana fica mais sadia, produz muito mais frutos por cachos, tendo um retorno econômico considerável”, destaca.

De acordo com a pesquisadora, a Emprapa vai contatar a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), solicitando o apoio necessário para a divulgação das novas espécies de bananas e também das descobertas no combate às pragas.

“Já que os produtores não aceitam as cultivares que são lançadas, a injeção na axila da bananeira seria a alternativa mais recomendada. Gostaríamos muito de contar com o apoio da Secretaria de Agricultura, para que possamos capacitar os técnicos de expansão rural, fazer um trabalho em conjunto, para levar aos produtores”, completa Hyana.

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