Boa Vista ocupa a primeira posição no ranking de capitais brasileiras com as maiores proporções de famílias com contas em atraso no Brasil, com 44% de inadimplentes, apurado no mês de junho. Nos quatro anos analisados pelo estudo, a Capital de Roraima se manteve bem acima da média das capitais brasileiras, que foi de 23%.
As informações fazem parte da pesquisa Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A análise contempla dados de 2013 ao primeiro semestre de 2016 com base em informações do Banco Central do Brasil, do IBGE e da CNC.
Com relação ao valor médio mensal de dívida por família, Boa Vista ficou em terceiro lugar, com R$ 1.640,00, atrás de Manaus (R$ 1.707), Palmas (R$ 1.675), e Macapá (R$ 1.588), que também ficaram acima da média brasileira (R$ 1.569). Abaixo deste valor ficaram Porto Velho (R$ 1.296), Rio Branco (R$ 1.117) e Belém (R$ 1.078).
Conforme o estudo, um dos principais motivos da grande parcela de famílias com contas em atraso observada em algumas capitais da região Norte, já destacadas anteriormente, é o alto grau de comprometimento da renda mensal com o pagamento de dívidas. Nesse quesito, destacam-se as famílias de Manaus, com 42%, maior valor no ranking nacional e 11 pontos porcentuais acima da média das capitais (31%), seguida por Boa Vista, com 41%.
Segundo a pesquisa, a região Norte possui 7,4% do total de famílias brasileiras e concentra apenas 4,8% do volume de crédito do País, o que explica, em partes, os grandes índices de endividamento informal e contas em atraso nessas capitais.
Oferta excessiva e uso indevido de crédito geraram inadimplência, diz economista
Segundo o economista Raimundo Keller, a oferta excessiva de crédito e o uso indevido do mesmo por parte do consumidor geram a inadimplência. “A excessiva oferta de crédito em Boa Vista facilitou o acesso. A Capital é a que tem mais bancos na região Norte, com 83 agências. Essa oferta abocanhou algo em torno de 62% das classes assalariadas do governo com empréstimo consignado e credito social. A pessoa tem acesso ao crédito, mas não sabe administrar o orçamento, o que faz com que caia na inadimplência”, explicou.
Para ele, os cartões de crédito também são mal utilizados pelo consumidor. “Muita gente não sabe administrar e acaba utilizando como complemento de salário, o que não é e nunca foi. Cartão de crédito é uma oferta de crédito”, disse.
Outra situação que explica o motivo do alto índice de inadimplência, conforme o economista, é a falta de repasse das parcelas de empréstimos aos bancos. “De 2014 para cá, o governo começou a ter dificuldade no pagamento de salários. A gente está vivendo uma crise lá de trás. O governo tem descontado do tomador de empréstimo consignado e não repassa para o banco, o que faz com que o nome de quem tomou o crédito fique sujo”, afirmou.
Nos últimos três meses, de acordo com Keller, todos os servidores do governo que pegaram empréstimo ficaram com o nome na Serasa. “Ao invés de pagar aos bancos, o governo vem retirando na fonte. Por isso Boa Vista hoje é a capital onde as famílias mais estão endividadas. É um dado alarmante, tendo em vista que temos menos de 350 mil habitantes, enquanto outras capitais, como Belém e Manaus, possuem mais de um milhão, ou seja, um índice bem maior”, analisou.
Ele aconselha que os endividados tenham mais controle de gastos para saírem da inadimplência. “O consumidor tem que ter uma educação econômica e doméstica. É preciso haver um conhecimento de finanças pessoais. A pessoa tem que saber que não se pode comprometer uma certa parcela do salário, não pode ultrapassar 30% da renda”, frisou. (L.G.C)