Cotidiano

Boa Vista tem mais de 1.300 imigrantes na rede estadual

Em outros municípios do Estado, os dados referentes aos imigrantes são do início do ano, divulgados pelo Censo Escolar 2018

Com a crise migratória venezuelana, é cada vez mais visível que os imigrantes estão fazendo parte do processo de aprendizado de crianças brasileiras em Roraima. Segundo balanço realizado neste mês pela Secretaria Estadual de Educação de Desporto (Seed), só em Boa Vista, existem 1.367 alunos de origem estrangeira na rede estadual de ensino público. Só de venezuelanos, são 1.308.

A escola de Boa Vista com o maior número de estrangeiros é o Carlos Drummond de Andrade, no bairro Pricumã, com 70 venezuelanos, um guianense e seis haitianos. Seguida pela Professor Antônio Ferreira de Souza, no Jardim Floresta, com 70 venezuelanos e quatro haitianos, e a escola Buritis, do bairro Buritis, com 63 venezuelanos e três haitianos. Somente duas escolas na Capital não possuem imigrantes da Venezuela, e de nenhum outro país: os Colégios Militares Coronel PM Derly Luiz Vieira Borges e Dr. Luiz Rittler Brito de Lucena.

Em outros municípios do Estado, os dados referentes aos imigrantes são do início do ano, divulgados pelo Censo Escolar 2018, mas ainda assim, já demonstram o quanto venezuelanos estão presentes no dia a dia de escolas. Em Pacaraima, por exemplo, já havia 258 refugiados do país vizinho no primeiro bimestre deste ano, com 216 destes somente na Escola Estadual Militarizada Cícero Vieira Neto, a escola com maior número de imigrantes em todo o estado.

No restante dos municípios, os números ainda pareciam tímidos naquela época, com 11 venezuelanos matriculados em escolas estaduais do Cantá, 10 em Rorainópolis, 9 em Caracaraí, 8 no Amajari, 7 no Uiramutã e 5 em Alto Alegre. Todos os municípios do estado possuem pelo menos um estudante da Venezuela matriculado no sistema público de ensino.

Inclusão de alunos imigrantes só ocorre se funcionários e alunos tiverem interesse em soma de diversidade cultural de ensino (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

De acordo com a diretora do Departamento de Educação Básica da Seed, Luzineth Rodrigues Martins, a tendência é que estes dados sejam maiores, uma vez que há a entrada constante de novos alunos, com a chegada de famílias da Venezuela.

“Não temos dados mais recentes sobre outros municípios pois o balanço que realizamos em Boa Vista, todo o mês, é feito ligando para cada gestor de cada escola da cidade. No interior, muitos são os problemas de comunicação por telefone em certas regiões, principalmente as de comunidades indígenas”, comentou.

Mesmo com a incerteza do número atual de estudantes no interior, Luzineth destacou que é possível especular um aumento considerável em alguns dos municípios. “Especulamos que tenha tido um crescimento grande de alunos principalmente em Pacaraima e Mucajaí, segundo já ouvimos de gestores de escolas nesses municípios. Alunos venezuelanos vêm ingressando no nosso sistema de ensino a cada semana, e a tendência é que haja cada vez mais, com a estabilização de imigrantes no estado”. (P.B)

Métodos de inclusão social de imigrantes variam entre cada escola

A diretora do Departamento de Educação Básica da Seed, Luzineth Rodrigues Martins, explicou que não existe um método único adotado por escolas para a inclusão de alunos, tanto no ensino quanto na socialização em escolas, e que atividades voltadas para isso são organizadas por cada instituição.

“Existem escolas que, por exemplo, usam o método de apadrinhamento, formando duplas na turma entre um aluno recém-chegado da Venezuela, e outro brasileiro, para ajudar na inclusão. Também existem escolas que fazem atividades para trabalhar isso, seja em aulas de informática, de leitura, um auxílio mais especial de professores, principalmente os de língua portuguesa, entre outros cuidados”, afirmou.

Como orientação para gestores, Luzineth contou que a inclusão de alunos de outras culturas só pode ocorrer se todos os funcionários e alunos das instituições tiverem o interesse de recebê-los para somar na diversidade cultural de ensino.

“O trabalho de inclusão só funciona quando há o interesse do coordenador, do orientador pedagógico, do professor e dos alunos. É algo que precisa ser da vontade de todos, pois inclusão não é impor a todos um tipo de tratamento ou postura, mas incentivar a conhecer e se familiarizar com uma outra cultura, outros costumes, enriquecendo a forma que as crianças em formação se socializam”, frisou.

Gestor diz que sensibilização de alunos e funcionários deve ser trabalhada para receber imigrantes

Gestor Antônio Magalhães afirma que é preciso levar em conta que alunos estrangeiros vêm de contextos social e educacional diferentes do brasileiro (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

O gestor da escola estadual Mario David Andreazza, Antônio Magalhães, contou que para o processo de aceitação dos imigrantes, funcionários e alunos precisaram ser orientados quanto à sensibilização mencionada pela Luzineth.

“Conversei com todos os alunos, professores e funcionários em relação ao ingresso de imigrantes aqui na escola, para deixar todos sensibilizados aos imigrantes, necessidades sejam atendidas, e o bullying seja evitado. Até porque, é preciso levar em conta que são alunos de contextos social e educacional diferentes do nosso. Para os estudantes, eu deixei claro que o que vai acontecer é uma troca de conhecimentos, especialmente com o espanhol, que é uma das línguas que podem ser requisitadas em vestibulares”, contou.

Quanto às dificuldades de aprendizado, Antônio explicou que atividades voltadas para o reforço de conteúdos do contexto brasileiro foram aplicadas. “As dificuldades dos imigrantes diziam respeito ao português, história e geografia do Brasil. Para evitar que isso prejudique o desempenho deles, criamos atividades diferenciadas para eles. Os servidores da sala de leitura, por exemplo, auxiliaram eles nesse conteúdo, frisando mais o contexto Brasil. Nas aulas de informática foi a mesma coisa. Hoje podemos dizer que o desempenho deles em provas está dentro da média de qualquer aluno”.

A professora de português da escola Carlos Drummond de Andrade, Gracinha Mendeiros, afirmou que observa mais dificuldade dos imigrantes em socializar do que em aprender o conteúdo em si.

“Vemos que os pais são bastante comprometidos com os seus filhos, em relação ao estudo. Vejo muito perfeccionismo nos alunos venezuelanos, e vontade de aprender. Além disso, eles dizem que acreditam que o português é mais fácil de aprender para quem fala espanhol do que o contrário. O problema foi de se socializar, a princípio, mas isso foi sendo trabalhado aos poucos, até se tornar natural a presença do espanhol de forma mais constante para outros alunos.”

Kleiver Ochoa, aluno venezuelano do 9º ano da mesma escola, que ingressou no colégio há um ano e meio, concordou com a professora, e afirmou que os funcionários tiveram paciência em explicar alguns conteúdos de forma mais devagar, para que ele pudesse pegar o ritmo nos primeiros meses.

“Eu ficava muito na minha no começo, focava mais no conteúdo mesmo. A professora explicava para mim o conteúdo com mais calma, caso eu não entendesse algo. Foi difícil no começo, mas os professores ajudaram muito”, comentou. (P.B)