Cotidiano

Boa Vista tem portas abertas para o crime

Entrar e sair de Boa Vista, sem ser fiscalizado, é uma rotina em qualquer rodovia, a qualquer hora do dia ou da noite

O tráfico de drogas e de veículos furtados, sequestros e contrabando de armas são alguns dos crimes que podem ser facilitados com a ausência de fiscalização contínua nas barreiras policiais, nas saídas e entradas de Boa Vista, pelas principais rodovias federais. Ontem, às vésperas do feriado de Corpus Christi, quando aumenta o movimento de veículos nas estradas, a Folha percorreu as barreiras da BR-174, tanto na saída para Manaus (AM),  Sul do Estado, como para a Venezuela, fronteira Norte, com a finalidade de verificar o trabalho de repressão realizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Militar (PM). Em nenhuma delas, foi constatada abordagens a motoristas, pela manhã.

O mesmo verificou-se no posto policial próximo à ponte dos Macuxi, no início da BR-401, que dá acesso à Guiana, na fronteira Leste do Estado. A vulnerabilidade das barreias evidencia que, em muitos momentos, o Estado está de portas abertas para qualquer tipo de crime. No posto policial da BR-174, sentido Sul do Estado, foram verificadas viaturas da PRF estacionadas, porém não havia  agentes abordando os condutores que passavam pelo local.

Os motoristas e moradores de regiões próximas às barreiras reconhecem que fiscalizações são realizadas, no entanto, consideram que esse trabalho deveria ser feito de maneira constante. O morador do bairro Nova Cidade, zona Oeste, que preferiu não se identificar, disse que sempre passa pela barreira da BR-174, mas afirma que nunca viu alguém ser abordado por policiais rodoviários federais. “Às vezes, eles estão aí, mas não abordam”, afirmou.

Não apenas os habitantes de Boa Vista percebem essa realidade. Estrangeiros que passam por Roraima estranham a falta de fiscalização. O chileno, Cristian Fernando Roa Hernández, 33,  está passando pelo Estado como mochileiro em direção à Venezuela e afirmou que em nenhum momento foi abordado por policiais.

“Aqui, em Roraima, nunca revistaram minha mochila ou pediram documentos. Achei muito estranho, porque se uma pessoa tem a intenção de entrar com drogas ilícitas, é possível, pois o acesso é livre, não há controle”, disse o viajante quando tentava pegar carona em frente a uma das barreiras policiais, na BR-174, sentido Venezuela.

Já a contadora, Carla Danta, 36, moradora do bairro Cidade Satélite, na RR-205, saída para o Município de Alto Alegre, Centro-Oeste, disse que as fiscalizações aconteciam com mais frequência. “Porém, nos últimos meses, quase não vejo nenhuma ação policial”, disse ao destacar que passa todos os dias por lá. A comerciante daquela região, Camila Madnay, 37, também percebeu que as abordagens acontecem em poucos momentos. “Deveriam ser mais frequentes, evitando que muitos crimes aconteçam”.

PM – Em nota, a Polícia Militar informou que vai reforçar as ações de policiamento durante o feriado, na Capital e interior, com várias operações, com intuito de coibir possíveis delitos e infrações. Segundo a nota, na Capital, as Operações Tolerância Zero e Matriz serão reforçadas. As ações serão intensas também no interior.

Frisou que, nas áreas de fronteira, as operações “Recobrimento” e “Fecha Quartel” estão sendo realizadas com a abordagem de veículos, mais precisamente nos municípios de Bonfim, fronteira com a Guiana, e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Em outras regiões, como Alto Alegre, Cantá e Mucajaí, está acontecendo a operação “Saturação”, que conta com o reforço do policiamento ordinário dos policiais da sede do Comando de Policiamento do Interior (CPI).

PRF – A Folha entrou contato via e-mail com a Assessoria de Comunicação da PRF em Roraima, para obter um posicionamento do órgão, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria. Também houve tentativa de contato via telefone, sem sucesso.

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