Cotidiano

BR-319 será reaberta após quase 30 anos

Com interligação entre Manaus e Porto Velho, o Estado de Roraima será beneficiado com a estrada para importação de produtos

O Centro de Estudos e Debates Estratégicos (Cedes), um dos principais departamentos da Câmara dos Deputados, responsável por estudos de viabilidades e investigações para o desenvolvimento do país, decidiu dar destaque para as rodovias brasileiras, especialmente as que estão desativadas há anos e outras que estão em condições precárias de trafegabilidade. Dentre os componentes do grupo de estudos está o deputado federal Remídio Monai (PR), que aposta nas estradas do norte como principal fator para o progresso por meio de uma política de integração entre os estados da federação.

A proposta de manutenção e restauração da BR-319, que liga os estados do Amazonas e Rondônia, visa estabelecer um acesso que propicia menos tempo para o transporte de mercadorias e redução nos custos com frete, considerando que atualmente empresas transportadoras e muitas pessoas utilizam as embarcações como veículo de locomoção entre os dois estados.

Para o término dos serviços de manutenção e restauração da via, falta substituir as pontes que foram desgastadas pelo tempo por novas estruturas. Por enquanto, desvios estão sendo utilizados para contornar as antigas pontes, que não suportam o peso dos veículos. A expectativa é que a rodovia federal seja reinaugurada em dezembro deste ano.

Quem mora em Roraima, sentirá no bolso o benefício dos transportes de alimentos, incluindo os perecíveis, o que acarretaria um custo de vida mais barato à população. “A importância da BR-319 para o Estado de Roraima é que vai diminuir o custo de vida. Imagine que estamos isolados do restante do país e, uma vez que estiver liberada, vamos poder ter a carga perecível, como animais, vindos de Rondônia, que produz bastante, por um custo super barato”, explicou o deputado federal Remídio Monai.

Ele também afirma que o transporte de passageiros via terrestre será uma opção para quem pretende se deslocar a outros estados e que algumas empresas já ensaiam fazer o trajeto Manaus/Porto Velho. “É uma boa ideia. Da capital do Amazonas para a Capital de Rondônia são menos de 900 quilômetros. A passagem vai ter um custo barato, sem ser necessário que as pessoas demorem entre cinco e seis dias de barco ou que viajem de avião pagando tarifas muito altas. Então, eu acredito que isso vai facilitar para toda a população, não só do Amazonas e Rondônia, mas para nós, de Roraima. As pessoas que são da região Sul, Sudeste e Centro-Oeste que estão em Roraima, agora vão poder utilizar seus carros nas férias de final de ano para visitar parentes e passear através da BR-319”, destacou Monai.

O parlamentar confirmou que as pessoas que vivem às margens da rodovia, que será reinaugurada, terão melhorias, como energia elétrica, telefonia e possibilidade de investir nos setores de venda em cada ponto de apoio. “A estrada vai levar o progresso para uma quantidade significativa de famílias que ficaram isoladas por quase 30 anos e agora poderão ter energia, telefone, restaurantes, lanchonetes que servirão como local de parada dos ônibus. Outros municípios serão interligados à 319, como Manicoré, Humaitá, Lábrea e Castanho, passando a ter acesso a Manaus”, ressaltou Monai.

Estrada foi inaugurada em 1976

Os mais de 850 quilômetros de extensão possibilitam que o trajeto seja percorrido em até 12 horas, sem parada para descanso. Entre os municípios de Careiro da Várzea, até 100 quilômetros após Careiro Castanho, a pista é asfaltada, seguida de estrada de chão por mais de 400 quilômetros, conhecido como “trecho do meio”, não tem licença ambiental para receber pavimentação asfáltica, por isso vai permanecer como estrada de terra.

No entanto, os próximos 400 quilômetros, distribuídos em 200 quilômetros antes de Humaitá e mais 200 quilômetros até Porto Velho, a pista recebeu asfalto. Durante a viagem há um entroncamento com a BR-230, a Transamazônica, cerca de 280 quilômetros antes da divisa com Rondônia.

A BR-319 é a única ligação rodoviária disponível entre Manaus (AM) e o Estado de Rondônia, com todo o restante do Brasil. Concluída em 1973, foi inaugurada oficialmente em 1976 e teve seu tráfego interrompido a partir de 1988. Está inclusa no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no Estado do Amazonas e englobam os serviços de Restauração, Pavimentação e Construção de Obras de Arte Especial.

Trecho receberá apenas manutenção

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que fiscaliza a obra nos 859 quilômetros de extensão, diz que há um trecho que compreende 405 quilômetros que não poderá ser asfaltado, devido ao licenciamento ambiental, que não foi concedido, para evitar impactos na região.

Entretanto, a manutenção e restauração das estradas, bem como a reforma de pontes, serão mantidas periodicamente, de forma que não haja interrupções no transporte.

Onze empresas foram licitadas para realizar os serviços na rodovia: Tescon Engenharia Ltda, Castilho Engenharia e Empreendimentos SA, Consórcio Sanches Tripoloni/ Soma/ Engespro, Construtora Meirelles Mascarenhas Ltda, Comagi Const. e Comer. Atayde Girard, Bom Tempo S.A, Asc Empreendimentos Construções Ltda., Construtora Sab Ltda., A.A. Construções, Pavimar-Construtora de Obras Ltda., Consórcio Aterpa M. Martins / Emsa, Madecon Engenharia e Participações Ltda.

Família espera há anos pela estrada

A Folha conversou com alguns moradores que permaneceram na região, mesmo após o fechamento da BR-319. Marly Catarina, com o marido, instituiu família, construiu casas e afirmou que espera há muito tempo a reabertura da via federal.

“Foi aqui que criei meus dois filhos desde que nasceram. Viemos de Santa Catarina faz 24 anos. Quero muito que melhore. Estou otimista. As empresas estão trabalhando com muita disposição. Aliás, estão misturando cimento ao barro para que a estrada tenha mais durabilidade. Sei disso porque meus dois filhos trabalham nos serviços de manutenção. O lado bom é que estão voltando a povoar a BR-319, que foi perdendo população ao longo dos anos. Nós só não passamos necessidade porque temos nossas criações, mas, no inverno, ficávamos ilhados”, disse a moradora.