Até o final do ano, Boa Vista deverá ser a cidade escolhida por 59 mil imigrantes venezuelanos. A informação é da Prefeitura de Boa Vista, que fez um Mutirão de Escuta Acolhedora e Sistematizada, ou seja, um mapeamento dos venezuelanos que vivem na capital. Os dados foram apresentados em coletiva de imprensa realizada na tarde de ontem.
Segundo o estudo, realizado de 28 de maio a 9 de junho, o Exército Brasileiro contabilizou que 12 mil venezuelanos estão cruzando a fronteira, mensalmente, para entrar no estado de Roraima, com uma média de 416 imigrantes por dia. Destes, 2.700, equivalente a 22% do total, opta por permanecer no município de Boa Vista. Atualmente, cerca de 25 mil imigrantes residem na Capital, um equivalente a 7,5% da população da cidade. A pesquisa entrevistou 9 mil deles, o que representa 36% de todo o universo de imigrantes estudados.
Projetando esses números para dezembro, três cenários foram apresentados. No primeiro, demonstrado pela Prefeitura, foi apontada a possível vinda de familiares de venezuelanos que já residem em Boa Vista, considerando que, segundo apurado, 82% dos entrevistados declaram que possuem o desejo de trazer parentes para a Capital. Com isso, o cálculo demonstrado aponta um aumento de 107% no número de imigrantes que residem em Boa Vista.
No segundo cenário, demonstrado pelo Exército, é indicada a tendência do ritmo da vinda de refugiados estabilizar, contabilizando um aumento de 31% no número de imigrantes até o fim do ano. No terceiro, que é a junção entre as duas bases de referência, aponta o aumento em 230% na vinda de venezuelanos, que fará com que haja mais de 59 mil imigrantes em Boa Vista até dezembro.
Como uma possível solução para esse problema, a prefeita Teresa Surita (MDB) afirmou que irá conversar com o presidente Michel Temer, durante visita a Roraima prevista para a próxima quinta-feira, 21, sobre a possibilidade de intensificar o processo de transferência de imigrantes para outros estados, a chamada interiorização.
“Quando o Exército chegou a Roraima, conseguimos sair de um colapso, mas ele ocorrerá de novo no final do ano se continuarmos nesse ritmo. Para que, até lá, possamos estar com a mesma quantia de imigrantes que temos hoje, precisaríamos que 500 venezuelanos sejam realocados para outros estados, todos os meses. Não consigo ver outra opção, pelo menos efetiva, para esse momento, senão essa”, explicou.
Ainda sobre a pesquisa, o resultado mostra que, caso a transferência de imigrantes não possa ser feita, um abrigo precisaria ser construído por mês.
Atualmente, existem oito abrigos, atendendo 3.600 imigrantes em Boa Vista, sem contar os indígenas. Neles, 10.800 refeições são preparadas diariamente.
“O Governo Federal está sendo lento em sua atuação e não sabemos o motivo de isso ocorrer. Os custos estão altos demais para arcamos, principalmente nas áreas da saúde e educação. Já estamos alugando leitos para crianças, pois o Hospital da Criança não tem como suprir toda a demanda. Por isso, a transferência para outros estados e países de refugiados é a única saída.”, concluiu a prefeita.
Outros dois abrigos estão em reta final de construção nas proximidades do terreno da sede da Polícia Federal em Boa Vista, no bairro Treze de Setembro. A previsão é de que eles sejam inaugurados nos próximos 15 a 20 dias. (P.B)
82% querem que parentes venham para Boa Vista
Ainda de acordo com o mapeamento, o número de entradas de venezuelanos de janeiro a maio deste ano já é 55% maior do que todo o ano de 2017; 98% de todos os imigrantes em Boa Vista são venezuelanos. Entre eles, 74% estão na faixa-etária de 15 a 60 anos, outros 22% são bebês e crianças de até 11 anos. Cerca de 57% são homens.
Cerca de 65% dos imigrantes são solteiros. Dentro deste percentual, 60% são mulheres; 43% já possuem carteirinha do Sistema Único de Saúde (SUS) e 73% foram vacinados no Brasil. Do total dos entrevistados, 82% querem trazer parentes para viver em Boa Vista; 81% já trabalharam na Venezuela, mesmo que de maneira informal; 68% perderam o emprego nos últimos 3 anos e 65% estão desempregados em Boa Vista. Apenas 10% precisam morar em espaços públicos.
Duas mil e noventa e quatro crianças venezuelanas estão matriculadas no ensino fundamental na rede pública municipal de ensino. No Hospital da Criança, cerca de mil crianças venezuelanas são atendidas mensalmente. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), 37 mil atendimentos aos estrangeiros foram feitos somente no primeiro trimestre deste ano. Esse número corresponde a 47% de todos os atendimentos feitos nesse período pelas unidades. (P.B)