A microcefalia passou a ser encarada como a grande ameaça do século não só para autoridades de saúde, como também para a população em geral, principalmente após a doença estar associada aos casos de zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
Com o registro do primeiro caso suspeito no Estado ligado ao zika, órgãos de saúde estão intensificando ações de monitoramento em gestantes. Somente na Capital, 61 gestantes apresentaram sintomas compatíveis com zika vírus, mas, segundo a Prefeitura de Boa Vista, 12 dessas pacientes já tiveram bebê e apenas um nasceu com a doença.
A Prefeitura informou que toda notificação de gestante com suspeita de zika recebida pela Vigilância em Saúde é encaminhada para os postos de saúde, que organizam o acompanhamento com as Equipes de Estratégia de Saúde da Família, que realizam os exames do pré-natal e o monitoramento adequado da gestação.
“Médico, enfermeiro e agente comunitário realizam o acompanhamento da gestante nas consultas na unidade básica de saúde e na visita domiciliar. As gestantes mantêm toda a rotina do pré-natal, com exames, avaliação clínica e orientações de rotina, além de verificar a medida do perímetro cefálico do feto no exame ultrassom”, ressaltou.
A microcefalia é caracterizada como uma malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Cerca de 90% dos casos estão associados ao retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal.
Especialistas afirmam que o tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar conforme cada caso. O tratamento realizado desde os primeiros anos ajuda a melhorar desenvolvimento e a qualidade de vida dos pacientes acometidos pela anomalia.
“A microcefalia pode ser identificada durante a gestação através dos exames do pré-natal e também logo após o nascimento, através da medição do tamanho da cabeça do bebê”, frisou. (M.L)
Boa Vista tem seis casos de microcefalia em oito anos
Embora haja atualmente uma preocupação maior com os casos de microcefalia, principalmente pelas suspeitas de estarem relacionados ao zika vírus, a doença é uma velha conhecida das pessoas. Segundo a Prefeitura de Boa Vista, nos últimos oito anos foram notificados, pela Vigilância em Saúde do município, seis casos de crianças nascidas com microcefalia na Capital.
“A microcefalia é uma condição neurológica rara em que o crânio do bebê não atinge o tamanho normal. Apesar de não haver uma cura para esse tipo de anomalia, o tratamento iniciado ainda na infância ajuda no desenvolvimento e melhora a qualidade de vida da criança”, explicou a fisioterapeuta do Centro de Referência e Especialidades Médicas (CREM), Francisca Maria Tomaz.
Segundo ela, o acompanhamento de crianças que sofrem com esse tipo de anomalia envolve uma série de profissionais, que verificam a evolução do paciente e realizam os tratamentos mais indicados às necessidades e gravidade do caso. Por isso, é importante que a gestante faça sempre o acompanhamento médico durante todo período de gestação.
“Os danos causados pela microcefalia são imprevisíveis. Por isso é importante que as gestantes façam esse acompanhamento médico e, no caso de diagnóstico da doença, iniciar a estimulação precoce o quanto mais cedo, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, pediatra, neurologista e outras especialidades necessárias”, salientou a especialista.
Além do CREM, que fica localizado no bairro Mecejana, o Hospital da Criança Santo Antônio, no bairro 13 de Setembro, zona Sul, também oferece o serviço sem nenhum tipo de dificuldade de acesso para a população.
GOVERNO – Já o tratamento para crianças com microcefalia realizados pelo Governo do Estado são encaminhados diretamente para o Centro Especializado de Reabilitação, da Rede Cidadania Atenção Especial, localizado no bairro Santa Teresa, zona Oeste de Boa Vista.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), os usuários diagnosticados com a doença recebem, no Núcleo, atendimento multiprofissional, com terapeuta ocupacional, pedagogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos pediatras, psicólogos e assistentes sociais. Além de oferecer às famílias atendimento psicológico e de assistência social.
“A estimulação precoce da rede atende crianças até 4 anos e um dia de vida. Os atendimentos realizados têm o objetivo de desenvolver o potencial de cada criança, englobando o crescimento físico e a maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva, que poderão ser prejudicados pela microcefalia. Após completar 4 anos de idade, o usuário continua recebendo atendimento pela Rede Cidadania Atenção Especial em outros núcleos, com o desenvolvimento de mais atividades, como esportes e danças”, frisou o governo.
REDE DE ATENDIMENTO
Professora que tem filho de 25 anos com microcefalia diz que houve avanços
Entre as pessoas que são atendidas pelos serviços públicos do Estado está a professora Maria Vilanir, de 54 anos. Mãe de um garoto com microcefalia, ela disse que as atividades têm ajudado bastante seu filho, hoje com 25 anos.
“Antigamente, o Estado não tinha esse atendimento mais humanizado. Ou seja, nós tínhamos apenas o acompanhamento básico. Mas foi desses anos para cá que passaram a trabalhar mais especialidades, como a questão da fonoaudiologia, que é muito importante. Ainda existem algumas coisas que precisam ser ajustadas, mas, no geral, ele é muito bem atendido pela equipe da rede”, disse.
A professora afirmou que, encarar a realidade de ter um filho com esse tipo de anomalia, não foi nada fácil, principalmente em relação à busca por um diagnosticado especializado. “No começo foi bem complicado lidar com isso, pois não se tinha tanta informação como se tem agora. Mas eu sentia que havia algo de especial nele, pois meu filho não era uma criança como as outras. Só depois que me mudei para Boa Vista, em 1993, foi que tive um diagnóstico mais preciso”, frisou.
De imediato, a Vilanir matriculou o filho em uma escola especial, que na época funcionava no Parque Anauá. Foi graças aos profissionais de lá que o rapaz passou a ter um acompanhamento mais especializado. Para ela, quanto mais cuidadosa for a gestante, menos impactante será lidar com o problema.
“Muito se comenta nessa questão da ligação da microcefalia com o zika vírus, mas eu digo que a situação atualmente é ainda melhor do que na minha época. Hoje em dia, há muito mais informação e os métodos de diagnóstico são bem mais eficazes. Então, eu acredito que é muito importante que as mulheres façam sempre o acompanhamento médico e realmente se protejam se realmente esses casos estiverem relacionados um com os outros”, destacou.