Cotidiano

Caminhoneiros começam a voltar para Boa Vista

Alternativa seria a Receita Federal dar aval para descarregar veículos e deixar cargas num local para liberar carretas para outros fretes

Quase 70 caminhoneiros estão com veículos carregados e parados no pátio da Receita Federal em Pacaraima, norte do Estado, aguardando a abertura da fronteira, fechada há 40 dias por decisão unilateral do presidente Nicolás Maduro, que impediu a passagem dos veículos para o país vizinho. Enquanto isso, eles amargam prejuízos por estarem sem trabalhar e poder garantir o sustento da família.   

Por essa razão, alguns conseguiram convencer os empresários donos das cargas a descarregar os veículos e já estão de volta para Boa Vista, segundo informou o presidente da Cooperativa de Transportadores Autônomos de Cargas do Norte (Coopertan), Dirceu Lana.

“Já são quase 40 dias que estas carretas estão paradas no pátio da Receita Federal e os motoristas já estão a ponto de ‘explodir’, pois já não aguentam mais ficar tanto tempo parados”, afirmou.

Para Luna, a alternativa seria a Receita Federal dar aval para descarregar os veículos e deixar as cargas num local para liberar as carretas para outros fretes. 

“Seria uma maneira de tentar aliviar a tensão nos caminhoneiros e diminuir os prejuízos já causados, mas a Receita não tem um depósito específico para deixar a carga. Os dias vão passando e os caminhoneiros ficam parados, impedidos de trabalhar e ganhar seu dinheiro”, lamentou.

Ele ressaltou que o maior problema se deve ao fato de as cargas já terem sido despachadas com notas de exportação, o que não pode ser desfeito. 

“Alguns empresários e caminhoneiros chegaram a um acordo com a Receita e estão fazendo notas de devolução e cancelando documentação apenas por um tempo para que a mercadoria ainda, num futuro quando a fronteira for reaberta, possa ser exportada. Com isso, de 15 a 20 carretas que estavam com mercadorias perecíveis já retornaram para Boa Vista e descarregaram em depósitos de empresas, estando liberadas pra outros fretes. Mas a mercadoria fica parada e destinada para a exportação. Como não se sabe quando a fronteira será reaberta, pode trazer enorme prejuízo para os empresários”, afirmou.

Ele citou que ainda existem cargas com mercadorias perecíveis, como farinha de trigo com fermento, o que pede uma saída urgente sob pena de perda total do produto. 

“Das 70 carretas, 20 estão carregadas de trigo com fermento com prazo de validade próximo do vencimento e isso deixa todos os envolvidos muito apreensivos, tanto os exportadores como os importadores, e os caminhoneiros que ficam em situação muito delicada e prestes a explodir”, disse.

Dirceu Luna relatou que o movimento para tentar solucionar o problema continua e citou que enquanto a fronteira na BR-174 continuar fechada os caminhos alternativos estão abertos com veículos e pessoas passando livremente. 

“A fronteira continua fechada para os brasileiros, mas para os venezuelanos está aberta, porque eles estão entrando por caminhos alternativos, a pé ou em veículos, e vão até Pacaraima para comprar alimentos e voltam ou seguem para Boa Vista”, reforçou. “O Exército Brasileiro controla a entrada e saída de pessoas até certo horário, depois fica liberado”, acrescentou.

Ele falou que vem acompanhando as conversações das autoridades brasileiras e venezuelanas e disse acreditar que reabrir a fronteira não será uma tarefa fácil.

“A abertura da fronteira não depende das autoridades brasileiras nem de estrangeiros, só do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. E ele parece que não estar muito preocupado com isso”, avaliou. “Mas, enquanto não podemos passar pela fronteira nem por caminhos alternativos, já que estamos com mercadorias alfandegadas, eles [os venezuelanos] podem passar a hora que quiserem. Então, o prejuízo é só para nossa economia”, afirmou.


Prejuízos com exportação já chegam a R$ 200 milhões

A Folha faz um resumo destes 40 dias de fronteira fechada e mostra os prejuízos que isso tem causado para a economia do Estado, em especial para as exportações e importação de insumos agrícolas e para o comércio de Pacaraima.   

A fronteira foi fechada em 21 de fevereiro e o prejuízo com os produtos exportados por Roraima que deixaram de cruzar a fronteira chega a aproximadamente R$ 200 milhões nesse período, segundo dados fornecidos pelo auditor-fiscal da Receita Federal em Pacaraima, Allysson de Oliveira Rocha. Pelo menos 50 carretas deixaram de cruzar a fronteira por dia com produtos de Roraima, em sua maioria com alimentos perecíveis. 

Rocha informou, em reportagem anterior, que o fluxo de saídas do Brasil para a Venezuela era de aproximadamente 50 carretas carregadas por dia, com média de 30 toneladas cada, e a nota fiscal de cada era de aproximadamente R$ 100 mil. Então, são aproximadamente R$ 5 milhões que deixaram de ser movimentados por dia.

Ele cita que além da exportação há também os prejuízos contabilizados com as importações de produtos para o agronegócio, como o carbonato de cálcio, e do calcário que vem da Venezuela.  

“Tudo isso prejudica a economia do Estado, pois temos muita gente que depende do comércio com a Venezuela, é toda uma cadeia que está sendo prejudicada. Além dos caminhoneiros e transportadoras que dependem do frete”, disse, lembrando que as carretas estão carregadas com farinha de trigo, arroz, açúcar, óleo de soja, manteiga e macarrão. A maioria continua parada no pátio da Receita Federal em Pacaraima. (R.R).