Por volta das 15 horas de ontem, 30, os caminhoneiros que até então estavam ocupando, há uma semana, o KM 483 da BR-174, sentido sul, 23 quilômetros de Boa Vista, saíram do local após negociações com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Exército Brasileiro. A saída de cerca de 160 membros da manifestação nas 24 horas que antecederam o fim da paralisação também contribuiu para desarticular da ocupação.
Após a saída, os caminhoneiros que restaram se dirigiram para a Praça do Centro Cívico, onde declararam à imprensa local que, apesar do fim da paralisação na rodovia, a greve ainda não terminou. A concentração contou com mais de 30 caminhões. “Nós não iremos parar de lutar. Apenas saímos da BR-174 e viemos para cá. A luta irá continuar aqui, no Centro Cívico, a partir de amanhã”, comentou uma das lideranças da classe, Martiniano Roque.
Os caminhoneiros afirmaram que voltariam para a Praça do Centro Cívico na manifestação que ocorre na manhã de hoje, 31, em que taxistas já estariam presentes reivindicando a redução de impostos sobre o preço de combustíveis e apoiando a greve dos caminhoneiros, segundo informado pelo Sindicato dos Taxistas de Roraima (Sintacaver-RR).
“Os taxistas foram até nós nos dar apoio lá da BR-174, sempre mostrando estarem ao nosso lado em nossas reivindicações. Por isso, estaremos aqui com eles também, pois essa não é uma luta por uma classe, é por toda a população”, afirmou o caminhoneiro Anderson Oliveira.
REIVINDICAÇÕES – Os caminhoneiros continuam pedindo pela diminuição de impostos sobre os combustíveis e o gás, de forma permanente. Reforçam pedidos direcionados ao Governo do Estado sobre a tributação do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) e melhorias no posto fiscal da Secretaria do Estado da Fazenda (Sefaz), localizado no Jundiá, município de Rorainópolis, sul do estado.
Exército e PRF articularam abertura da BR-174
A 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª BdaInfSl) e a Polícia Rodoviária Federal se reuniram no final da manhã de ontem com os caminhoneiros e negociaram a liberação da BR-174. Apesar disso, de acordo com o Núcleo de Comunicação da PRF, o órgão já reconhecia a paralisação como encerrada desde a manhã de ontem devido aos atritos existentes entre membros da ocupação, que acabaram resultando na saída de 120 membros na terça-feira, 29, e cerca de 40 na manhã da quarta. Todos os caminhões que saíram do local foram escoltados pela PRF.
“A paralisação chegou a um momento que houve divergências entre eles. Uns começaram a querer reter as gasolinas de vez, outros quiseram deixar. Uns queriam reter perecíveis, outros não. Então houve uma desarticulação devido a essas divergências”, explicou.
Também foi estabelecido que aqueles que saíram da manifestação poderiam exercer o direito de ir e vir pela BR-174, por já não concordarem mais com os termos estabelecidos pelo movimento. “A rota está completamente livre para a passagem de quaisquer veículos e caminhões desde a tarde de terça-feira, 29. Nossa preocupação com a liberação da via já está saciada e nós estamos apenas articulando para o início da operação de feriado de Corpus Christi.”, explicou.
Entre os caminhoneiros, a manhã de quarta parecia ser tomada pela incerteza e medo de que o movimento acabasse no local. O caminhoneiro Alexandre Santana relatou que resolveu permanecer no KM 483 da rodovia porque, se a vontade de lutar acabasse, as reivindicações da classe seriam esquecidas, e o povo pagaria pelo prejuízo.
“Eu chorei ontem [terça] à noite, pedindo para que o pessoal fique aqui. Tem tanta coisa que ainda precisa ser mudada. Tem o ICMS no preço do combustível, tem a situação do posto fiscal de Jundiá, em Rorainópolis, na qual ficamos dias presos por lá esperando a liberação do DARE e atrasando encomenda. Isso aqui vai virar a Venezuela quando pararmos, onde os fracos não se sustentam e acabam sendo obrigados a ir embora”, relatou.
Além disso, também era visível certa ‘desilusão’ política, uma vez que todos os cartazes pedindo por intervenção militar sumiram, e o apoio que parte dos caminhoneiros dedicavam ao deputado federal e pré-candidato a presidência Jair Bolsonaro acabou após o parlamentar declarar em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que a paralisação já tinha chegado a seu ápice, e precisava acabar para que o país não entrasse em estado de caos. (P.B)