Cotidiano

Casal com deficiência fica desempregado e pede ajuda para pagar dívidas

Seu Sebastião e dona Maria de Jesus são cegos e estão sem trabalhar há mais de quatro anos

Casados há 30 anos, os donos de casa Sebastião Silva Viana, 55, e Maria de Jesus Ribeiro da Silva, 61, vivem o pior momento de suas vidas. Eles pedem ajuda para pagar uma dívida de quase R$ 20 mil com energia e água, pois estão desempregados há mais de quatro anos. Moradores do bairro Nova Cidade, o casal só enxerga com o olho direito, e mal: só vê vultos e as coisas de forma embaçada.

“Eu peço qualquer ajuda. Eu estava querendo também limpar a lente do meu olho, eu não tenho condição. No ano passado, custava R$ 500 e eu não tinha esse dinheiro, porque eu tenho que comer. Meu marido é quem cuida de mim e faz as coisas dentro de casa. Somos só nós dois. Nossas filhas de criação nos abandonaram”, disse Maria de Jesus.

A visão do casal é vítima de uma mesma doença, a catarata, responsável por 49% dos casos de cegueira no Brasil, segundo a revista científica Lancet e que em 2019 respondeu por 601 mil cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS), o dobro de dez anos antes (302 mil), de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Enquanto seu Sebastião vive o problema desde 2002, dona Maria foi diagnosticada em 2014. Os dois já perderam 100% da visão do olho esquerdo. Além disso, Maria de Jesus tornou-se cadeirante depois de ter a perna esquerda, até a altura acima do joelho, amputada em 2016, por conta da diabetes. Foi a solução para um problema que começou com um ferimento no calcanhar.

“Fiquei muito triste, não esperava isso não. Quando amputaram minha perna, passei duas semanas para cair a ficha de que eu não tinha mais ela. Chorei muito”, relembrou dona Maria.


Maria de Jesus tem dificuldades para armazenar a insulina por conta da falta de luz (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

As deficiências enfrentadas pelo casal impedem sua reinserção no mercado de trabalho e o insere num universo de 14,8 milhões de brasileiros desempregados, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A única renda deles é o salário mínimo de R$ 1.100, do Benefício de Prestação Continuada (BPC) que a dona Maria recebe.

Antes do agravamento das deficiências, Sebastião trabalhava como marceneiro, enquanto Maria de Jesus era merendeira.

Os problemas se somam à situação dramática que o casal viveu na noite do dia 4 de agosto. Após um culto evangélico, seu Sebastião, a pé, levou a esposa cadeirante para casa, quando foi surpreendido pelo farol alto de uma motocicleta. Com o susto, ele caiu junto com dona Maria em um buraco com lama na rua Imperatriz, no bairro Nova Cidade, na zona Oeste.


Com a falta de renda as contas se acumularam (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Uma ambulância do Samu foi chamada para atender Maria de Jesus, que mais sofreu com o acidente. Ela teve escoriações nos braços, bateu a testa e até agora sofre com o inchaço no supercílio do olho esquerdo. O motociclista não parou para prestar socorro à vítima.

“Passou uma moto que encandeou meu marido, aí ele não enxergou direito que tinha um buraco, um esgoto. Aí a roda da cadeira caiu dentro e eu caí também junto. Se não fosse um outro homem ajudar, eu tinha morrido afogada”, relatou Maria de Jesus.

Casal têm energia cortada desde março

A casa própria deles, de apenas cinco cômodos, construída em 2000 – um ano depois da aquisição do terreno -, teve a energia cortada pela Roraima Energia no último dia 25 de março, dias antes da publicação de uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que proíbe o corte de energia de famílias de baixa renda.

O casal diz que tem um débito de cerca de R$ 16 mil a resolver com a empresa, que, segundo eles, levou toda a fiação da casa por causa das dívidas. Eles dizem que a companhia não aceita nenhum tipo de proposta para religar os fios. Enquanto isso, dona Maria, que é diabética, depende da energia da residência da irmã doméstica, que é vizinha, para refrigerar a insulina, usada no tratamento de sua patologia.

O fornecimento de água, por sua vez, continua, apesar do débito de R$ 3.456,18 com a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). Mas água gelada mesmo só com a ajuda de uma amiga do casal e da irmã de dona Maria.

“Preciso só… (ele se cala, emocionado, durante 20 segundos) pagar essa energia”, disse Sebastião Silva, que precisou vender o único carro que tinha, por R$ 3,5 mil, para tentar negociar o parcelamento das dívidas, principalmente com a Roraima Energia.

Como ajudar o casal

O casal não tem conta bancária, mas basta ligar para eles, pelos números (95) 99121-7957 e 99161-7539.

PREFEITURA – Sobre o buraco citado na reportagem, a Prefeitura de Boa Vista informou que uma equipe vai até o local para verificar a situação da via, e incluir no cronograma para receber os reparos necessários.

RORAIMA ENERGIA-  A Roraima Energia disse, em nota, que a suspensão do fornecimento de energia da casa do casal foi feita no dia 7 de agosto de 2019, “momento em que não havia situação de pandemia, tampouco qualquer Resolução Normativa do órgão regulador (ANEEL) que proibisse a suspensão de fornecimento em unidades consumidoras de qualquer classe de consumo.” Além disso, a companhia esclareceu que o recolhimento dos cabos de energia, em março deste ano, ocorreu por causa da instalação de uma ligação clandestina, conhecida como “gato”.

A empresa disse ainda que “possui suas normas internas referentes ao parcelamento de débitos, visto que é uma faculdade da distribuidora oferecer o parcelamento como forma de quitação dos débitos, além disso, não encontramos em nosso sistema comercial nenhuma referência ou pleito do consumidor sobre sua intenção de parcelar o débito.”

Por fim, recomendou que os consumidores procurem a empresa para negociar a dívida. “Podemos facilitar o parcelamento do débito do cliente com entrada menor que 30% e dividir o valor restante em até 36 vezes, como forma de facilitar o pagamento e o cliente possa ter o fornecimento de energia regularizado”, diz a nota.

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