Cotidiano

Casos de hanseníase em crianças estão aumentando em Roraima

O “Janeiro Roxo”, mês voltado para a conscientização sobre a hanseníase, serve como um alerta para o Brasil, que é o segundo país com mais registros da doença, perdendo somente para a Índia. Em Roraima, é possível ver o crescimento gradativo de casos a cada ano, com 95 novos somente em 2018. Em 2017, foram 129 diagnósticos registrados. Em 2015 e 2016, respectivamente, foram 78 e 80.

Segundo a gerente do Núcleo de Controle da Hanseníase da Coordenadoria-Geral de Vigilância em Saúde, Márcia Silva Souza, a maior preocupação do órgão, no momento, é o crescimento de portadores da doença menores de 15 anos.

“Em Roraima percebemos que, de 2015 para cá, houve aumento no número de casos em crianças. Naquela época, tínhamos somente um. Em 2016, quando houve a capacitação de mais médicos para o diagnóstico precoce, saltamos para 11. Em 2017, foi para 16. Então, vemos que está havendo um diagnóstico tardio, pois a hanseníase demora de dois a três anos para chegar a seu segundo estágio, no qual se torna uma mancha visível, que faz com que haja a perda de sensibilidade da região”, explicou.

Márcia Silva explicou que em “caravanas do povo” realizadas pelos municípios, ela já observou que muitos dos pacientes que são diagnosticados com hanseníase não estão familiarizados com a doença, devido à falta de divulgação.

“A hanseníase é uma doença fruto de um bacilo que fica impregnado na pele. Sua consequência, após dois anos, é o surgimento de manchas que provocam a perda de sensibilidade. Um exame clínico simples pode servir para diagnosticar a doença. Ela é transmitida pelas vias aéreas superiores, pelo ar ou pela saliva. Todos nós já entramos em contato com alguém que tem a doença, mas a maior parte das pessoas não possui por causa do sistema imunológico”, explicou.

Márcia também destacou que, por causa da alta possibilidade de infecção da doença, até mesmo pessoas que convivem com o paciente precisam realizar exames anuais para garantir que não haja uma nova transmissão.

“Se há um paciente que faz o tratamento de hanseníase, todas as pessoas que moram com ela devem realizar um exame de contato na unidade de saúde mais próxima por um período de cinco anos, pois existem vários casos de contaminação da doença por parentes e o exame serve para evitar isso. Em Roraima, é muito raro de ocorrer [o exame], o que é uma pena, pois contribui para sua proliferação”, explicou.

Por fim, a gerente do Núcleo de Controle da Hanseníase destacou que vê com preocupação a possibilidade de que o número de diagnósticos possa disparar nos próximos anos devido à crise migratória de refugiados venezuelanos.

“Eu fico preocupada com os imigrantes, que vêm para Roraima com o sistema imunológico muito vulnerável, estando expostos à doença. E pessoas que são de fora do Estado são mais suscetíveis a pegarem a doença do as que nascem aqui. Rorainópolis é uma cidade fundada em sua maioria por imigrantes e por isso é a que mais tem casos, proporcionalmente, com a população de 30 mil habitantes que contou com 41 casos da doença descobertos em 2017. Em Boa Vista, foram 65, com 300 mil moradores. Isso já se qualifica como uma endemia lá e o mesmo pode ocorrer aqui e em Pacaraima quando os casos surgirem nos próximos anos”, salientou. (P.B)